quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ENCERRAMENTO DO MÊS DA BÍBLIA

Pe. Paulo Nunes de Araujo


“O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos meios a serviço da Palavra”.
Tema do 44º “Dia Mundial das Comunicações” a ser comemorado no dia 16/05/2010.

Caros amigos e amigas, meus fiéis leitores. O intuito deste escrito é expor o quanto foi magnífico o encerramento do “Mês da Bíblia” aqui na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, município de Miranda, portal do pantanal sul-matogrossense. Cerca de oitenta pessoas vindas das várias comunidades da Paróquia participaram assiduamente dos três dias de formação, de 28 a 30, cujo conteúdo foi a “Introdução ao estudo da Carta aos Filipenses”, a “Carta do coração”.

Foi um encontro de formação valiosíssimo não só pelo fato de termos bem encerrado o “Mês da Bíblia”, cumprindo o que pede a Igreja, mas também por termos atendido uma das três atuais prioridades da Diocese de Jardim, MS, da qual fazemos parte, que é exatamente a “formação”, a qual abrange várias dimensões, como a “dimensão humana comunitária, espiritual, intelectual, comunitária e pastoral-misisonária” (DA, 280). Assim sendo, nas palavras do apóstolo Paulo digo que “foi grande a minha alegria no Senhor” (Fl 4,10a), isto porque, fazendo jus ao início da estação primaveril, “finalmente vi florescer de novo o interesse” (Fl 4,10a) de mais pessoas pelo Evangelho e pela vida da Igreja.

Durante o estudo da Carta aos Filipenses, dentre as várias questões que ajudaram a dinamizar o curso, uma delas se sobressaiu e tornou-se o motivo deste meu artigo. Ei-la: Se fomos criados para o amor, como viver a “ternura de Cristo” em meio a uma sociedade tão individualista e egocêntrica como a nossa?

Vejo que esta é uma questão relevante, porque, sem dúvida, atualmente “a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” (BENTO XVI. Carta Encíclica Cáritas in veritate, n. 19). De fato, as relações claramente são muito mais transacionais, marcadas por tramas e acordos, do que transformacionais, o que exige mudança, crescimento, realização, tanto pessoal quanto interpessoal.

E podemos ir ainda mais a fundo na questão acima: Como dizer hoje em dia “eu te amo” (Jo 21,17), a uma pessoa estimada e admirada, independentemente da questão do “gênero” (DA, n. 40), sem que esta expressão tão divina e humana seja tomada como algo incômodo e constrangedor? Porque dentro das comunidades cristãs, normalmente o que ocorre são os indivíduos se abraçarem e dizerem “Jesus te ama”. Isto é evidente, é ponto pacífico! Mas a Palavra de Deus propõe exatamente o contrário, ou seja, que amemos a Deus: “ame o Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força” (Mc 12,30; Cf. Jo 21,15-17), e amemos ao irmão: “Ame ao seu próximo como a si mesmo” (Mc 12,31), ou, traduzindo melhor, “Ame ao seu próximo porque ele é como a ti mesmo”. Só a partir dessas duas práticas é que tudo se transforma e a fraternidade se estabelece.

No entanto, esta expressão tão gratuita e natural, acaba sendo tomada como assédio, como algo irreverente. Na verdade, segundo o Dicionário Michaelis, o verbete “assédio” quer dizer: “impertinência”, “importunação”, “insistência junto de alguém, para conseguir alguma coisa”. E a situação se agrava quando a declaração “eu te amo” tem como interlocutor alguém que ainda não fez, ou se fez, não amadureceu suficientemente na experiência do amor, podendo a pessoa conduzir o caso para o campo da sexualidade, levando a caracterizá-la como “assédio sexual”.

Nessa circunstância, a coisa fica complicada, porque conforme o art. 216-A, inserido no Código Penal Brasileiro pela Lei n. 10.224, de 15/05/2001, o “assédio sexual” é um comportamento que visa “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. De fato, aí se torna algo muito desagradável.

Fazendo essas conjecturas, eu fico pensando no quanto ainda devemos crescer na verdadeira experiência e prática do amor. Na Escritura Sagrada, a literatura sapiencial conservou um dos mais belos poemas de amor no livro Cântico dos Cânticos, em que aparece um versículo destacante: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu” (Ct 6,3). Esta frase, atribuída à amada, em relação ao seu amado, podemos interpretá-la atualmente como sendo uma declaração de amor da Igreja (a amada) à Jesus Salvador (o amado). Quanto ao amor de Jesus por nós, sabemos que é infinito, sublime e verdadeiro. Mas será que o nosso amor por Jesus também é assim? Será que nós, enquanto igreja-comunidade, nos amamos uns aos outros de forma límpida, verdadeira, altruista, humana e divina?

Jesus, na sua sabedoria plena, entendendo que somente no amor somos felizes e nos realizamos, deixou-nos um mandamento novo, superior a toda e qualquer outra Lei: “amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uma aos outros” (Jo 13,34). Para Jesus, é na prática exigente do amor que a comunidade cristã se distingue de outros agrupamentos humanos, pois, no amor, está a nossa identidade: “se vocês tiverem amor uns aos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13,35).

O apóstolo Paulo, por sua vez, escreveu um capítulo inteiro sobre o amor (1Cor 13), concluindo-o que “agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor (13,13). Assim sendo, para o apóstolo, a prática do amor deve ser algo constante na nossa vida; é como que uma “dívida impagável”: “não fiquem devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo (Rm 13,8).

Para concluir, possso afirmar com tranquilidade que não devemos ter, jamais, medo de amar. Porque “o amor – cáritas – é uma força extraordinária que impele as pessoas a se comprometerem com coragem e generosidade no campo da justiça e da paz. É uma força que tem sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta” (BENTO XVI. Carta Encíclica Cáritas in veritate, Introdução). De fato, "no amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo ainda não está realizado no amor" (1Jo 4,18-19). Desta feita, só posso dizer nas palavras do apóstolo: “Continuem firmes no Senhor, ó amados (Fl 4,1) e “que o amor de vocês cresça cada vez mais” (Fl 1,9). Leia a seguir, a íntegra da carta enviada pelos participantes do curso à todas as comunidades da Paróquia. É para você também!




CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS COMUNIDADES DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO CARMO

“Vocês estão no nosso coração” (Fl 1,7a)


1. Nós, membros da Escola Bíblica Paroquial, agentes de pastoral, lideranças, catequistas e ministros extraordinários da comunhão eucarística, saudamos com amor e afeto as irmãs e irmãos de todas as comunidades desta Paróquia, que sonham conosco com um mundo novo, num jeito novo de ser igreja e de atuar juntos, amorosa e respeitosamente na sociedade.

2. Fomos convocados de 28 a 30 de setembro, pelo Espírito Santo e pela Igreja no Brasil para estudarmos a Carta aos Filipenses, a “Carta do coração”, no encerramento do “Mês da Bíblia”. Com muito carinho todos foram bem acolhidos e gostosa foi a nossa convivência.

3. Encheu-nos de entusiasmo e emoção ver chegando, apesar das distâncias e ocupações, irmãos e irmãs de todas as comunidades urbanas e muitos irmãos e irmãs de algumas comunidades rurais e indígenas. Somamos um total de cerca de 80 pessoas, assiduamente presentes nos três dias de estudo. Desde já, carinhosamente agradecemos as equipes de recepção e acolhimento, de limpeza e organização do local, de animação dos cantos, de preparação do cafezinho todas às noites e daquela bela festa de comemoração de todos os aniversariantes do mês.

4. “Sejam bem-vindos/as, sintam-se à vontade. Damos por aberto estes três dias de estudo da Carta aos Filipenses. E sejam perseverantes!”. Assim, fomos recebidos, pelo assessor do curso, Pe. Paulo Nunes, pós-graduado em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP, professor de Sagrada Escritura e colaborador aqui na Paróquia. Nesse ambiente amável, parecia ressoar ali as palavras do apóstolo Paulo: “eu fico contente e me alegro com todos vocês” (Fl 2,17).

5. Os assuntos dos três dias de estudo foram assim divididos: a) introdução geral as Cartas Paulinas (objetivos, como lê-las, atitudes que devemos ter ao ler uma Carta de Paulo); b) visão ampla da Carta aos Filipenses (os remetentes, os destinatários, a atuação das mulheres, o motivo da carta, os assuntos, a estrutura da Carta); c) exposição de quatro temas específicos a partir da Carta: “comunidade acolhedora e afetuosa”, “comunidade despojada e comprometida”, “comunidade discípula missionária”, “comunidade apaixonada por Cristo e seu Projeto”. No final, discutimos em pequenos grupos cinco questões básicas: a) Fomos criados para o amor. Em meio a uma sociedade individualista, como assumir a “ternura de Cristo” vivida por Paulo?; b) Nós também “confessamos que Jesus Cristo é o Senhor”. Mas como mostramos no dia a dia esse Jesus aos nossos irmãos e irmãs de caminhada?; c) Será que nós, “discípulos e discípulas missionários” somos motivo de alegria, força e gratidão ou de preocupação para os nossos pastores (padres e bispo)?; d) A exemplo do apóstolo Paulo, nós também deixamos tudo por causa desta meta? O que deixamos? Que outros interesses ainda nos prende?; e) O que ainda falta para sermos comunidades apaixonadas (“conquistadas”) por Cristo?

6. Na noite do encerramento do Curso e de comemoração de todos os aniversariantes do mês de setembro, tivemos a presença do Pe. Altair Rossati, o pároco, que avaliou muito positivamente o nosso estudo, destacando especialmente a seriedade e o empenho dos participantes, o clima sereno e fraterno e o envolvimento de várias comunidades da Paróquia na organização e realização do evento. E contou com a atuação de todos na concretização da Segunda Grande Semana Missionária, que se realizará entre os dias 22 a 29 de novembro.

7. Por fim, além de um abraço fraterno e cheio de revigorada esperança, decidimos também transmitir algumas palavras de encorajamento, saídas do nosso coração para o coração de todos os irmãos e irmãs das comunidades da Paróquia:

Desejamos que proclamem Cristo por amor e não fracassem diante dos obstáculos. Estejam firmes no Espírito Santo, lutando juntos numa só alma pela fé ao Evangelho. Certamente surgirão críticas, alguns dirão que esses trabalhos são perda de tempo. Mas sejam confiantes, pois isso nada mais é do que um sinal de amadurecimento e de salvação. Afinal, foi Deus quem deu a vocês o dom de acreditar em Cristo e em seu projeto e de se empenharem com ardor na mesma luta.

Inspirem-se sempre nas palavras do apóstolo Paulo: “se há um conforto em Cristo, uma consolação no amor, se existe uma comunhão de espírito, se existe ternura e compaixão, completem a minha alegria: tenham uma só aspiração, um só amor, uma só alma e um só pensamento. Não façam nada por competição e por desejo de receber elogios, mais por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo. Que cada um procure, não o próprio interesse, mas o interesse dos outros. Tenham em vocês os mesmos sentimentos que houve em Cristo Jesus” (Fl 2,1-5).

Sejam perseverantes! A exemplo de Jesus, esvaziem-se a si mesmos assumindo a condição de servos, através dos trabalhos pastorais na comunidade, de modo que “ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl 2,10-11). Continuem firmes “na luta pelo Evangelho”. Só assim os “seus nomes estarão no livro da vida” (Fl 3,3). Deus os bençoe e a Virgem Maria os proteja! Assim seja!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

“VOCÊS ESTÃO NO MEU CORAÇÃO” (Fl 1,7a)

Pe. Paulo Nunes de Araujo


“Em nosso século tão influenciado pelos meios de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o posterior aprofundamento da fé não podem prescindir desses meios. Colocados a serviço do Evangelho, eles oferecem a possibilidade de difundir quase sem limites o campo da audiência da Palavra de Deus, fazendo chegar a Boa Nova a milhões de pessoas. A Igreja se sentiria culpada diante de Deus se não empregasse esses poderosos meios, que a inteligência humana aperfeiçoa cada vez mais. Com eles, a Igreja ‘proclama a partir dos telhados’ (Cf. Mt 10,27; Lc 12,3) a mensagem da qual é depositária. Neles, encontra uma versão moderna e eficaz do 'púlpito'. Graças a eles, pode falar às multidões” (DA, n. 485).

Com estas palavras do Magistério eclesial, mais uma vez faço uso deste extraordinário meio de comunicação, a internet, para fazer chegar até os meus queridos e fiéis leitores, mais um artigo, desta vez sobre o “Mês da Bíblia”.

O “Mês da Bíblia” tem sua origem na Liga de Estudos Bíblicos (LEB), a qual foi fundada no dia 6/02/1947, durante a Primeira Semana Bíblica Nacional, que realizou-se de 3-8/02/1947, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Esse evento contou com cerca de quarenta professores de Sagrada Escritura, vindos de muitos Estados do Brasil e de diversos países. Das várias propostas apontadas, uma foi a de se criar o “Dia da Bíblia”. A data escolhida foi o último domingo do mês de setembro, porque a 30/09/420, na cidade de Belém (Palestina), morreu Jerônimo, homem de larga cultura literária e bíblica. Ele é considerado “Doutor da Igreja” e “Patrono dos biblistas” porque, a pedido do papa Dâmaso, traduziu os originais da Bíblia (hebraico e grego) para o latim, versão conhecida como Vulgata, por ter usado um latim comum, usual.

O “Dia da Bíblia” foi ganhando destaque na vida da Igreja até ser incluído no Diretório Litúrgico. Mas foi em 1971 que surgiu definitivamente o “Mês da Bíblia”, quando a Arquidiocese de Belo Horizonte (MG) solicitou às comunidades sugestões para a comemoração do seu cinqüentenário. Nesse encontro de Belo Horizonte, foram lançados alguns objetivos para o “Mês da Bíblia”, como: contribuir para o desenvolvimento das diversas formas de presença da Bíblia nas Pastorais da Igreja; criar subsídios bíblicos nas diferentes formas de comunicação; facilitar o diálogo criativo e transformador entre a Palavra, a pessoa e as comunidades.

A partir de então, foram criados o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), em 1979, o Grupo de Reflexão Catequética (GRECAT), em 1984, o Serviço de Animação Bíblica (SAB), em 1985 e, mais recentemente, o Grupo de Reflexão Bíblica Nacional (GREBIN), em 1990. Todos atuam em nível nacional e em colaboração com a Dimensão Bíblico-Catequética das “Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil” da CNBB. De 1971 até o momento, trinta e oito temas bíblicos já foram elaborados e se tornaram matéria de reflexão e oração em milhares de comunidades do Brasil, buscando sempre animar a e a vida do povo.

Inicialmente, de 1971 a 1977, os temas do “Mês da Bíblia” eram assuntos gerais e não um livro específico da Bíblia. Porém, desde o começo, os temas bíblicos sugeridos são relacionados com o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano, com o intuito de reforçar o que foi refletido e rezado durante a Quaresma. Vejamos, a seguir, os “slogans” e os conteúdos, segundo o SAB, que orientaram a Pastoral Bíblica no mês setembro, desde 1971 até hoje:

1971: Bíblia, Jesus Cristo está aqui;
1972: Deus acredita em você;
1973: Deus continua acreditando em você;
1974: Bíblia, muito mais nova do que você pensa;
1975: Bíblia, palavra nossa de cada dia;
1976: Bíblia, Deus caminhando com a gente;
1977: Com a Bíblia em nosso lar, nossa vida vai mudar;
1978: Como encontrar justiça e paz? (O livro de Amós);
1979: Bíblia, o livro da criação (Gênesis 1—11);
1980: Buscamos uma nova terra (História de José do Egito);
1981: Que todos tenham vida! (Carta aberta de Tiago);
1982: Que sabedoria é esta? (As Parábolas);
1983: Esperança de um povo que luta (O Apocalipse de João);
1984: O caminho feito pela palavra (Os Atos dos Apóstolos);
1985: Rute, uma história da Bíblia – Pão, família e terra (O livro de Rute);
1986: Bíblia, o livro da Aliança (Êxodo 19—24);
1987: Homem de Deus, homem do povo (O livro do Profeta Elias);
1988: Salmos, a oração do povo que luta (O livro dos Salmos);
1989: Jesus: palavra e pão (Evangelho segundo João, capítulo 6);
1990: Mulheres celebrando a libertação (Cantos de Míriam, Débora, Ana e Maria);
1991: Paulo, trabalhador e evangelizador (Vida e viagens de Paulo);
1992: Jeremias, profeta desde jovem (O livro de Jeremias);
1993: A força do povo peregrino sem lar, sem terra (Primeira Carta de Pedro);
1994: Cântico: uma poesia de amor (O livro do Cântico dos Cânticos);
1995: Com Jesus na contramão (Sobre a pessoa de Jesus nos Evangelhos);
1996: Jó, o povo sofredor (O livro de Jó);
1997: Curso Bíblico Popular – Evangelho segundo Marcos;
1998: Curso Bíblico Popular – Evangelho segundo Lucas;
1999: Curso Bíblico Popular – Evangelho segundo Mateus;
2000: João: luz para as Comunidades (Evangelho segundo João);
2001: E todos repartiam o pão... (Atos dos Apóstolos 1—15);
2002: Evangelizar um mundo hostil (Atos dos Apóstolos 16—28);
2003: Curso Bíblico Popular – As Cartas de Pedro;
2004: Reviver na ternura e na misericórdia (Profeta Oséias e o Evangelho segundo Mateus);
2005: Sonhar de novo (Uma releitura do Segundo e Terceiro Isaías, a partir de Jesus);
2006: Come teu pão com alegria! (O livro do Eclesiastes);
2007: Deus viu tudo o que tinha feito e era muito bom (Gênesis 1—11);
2008: A caridade sustenta a comunidade (Introdução ao estudo da Primeira Carta aos Coríntios);
2009: Carta do Coração (Introdução ao estudo da Carta aos Filipenses).

O “Mês da Bíblia” é um tempo especial para que sejam criados novos grupos de reflexão e para manter os já existentes e, conseqüentemente, ajudar a perceber que a Palavra de Deus é eficaz na formação da comunidade, como nos mostra o profeta: “assim acontece com a minha palavra que sai da minha boca: ela não volta pra mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,10-11). O Frei Carlos Mesters, carmelita holandês, doutor em Teologia Bíblica e um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil afirma que: “o Mês da Bíblia não é mais um movimento, mas uma pastoral na Igreja”.

Por isso, é importante e necessário que cada Paróquia crie a “Escola Bíblica”, a fim de atender, além daqueles objetivos do encontro de Belo Horizonte, as mais recentes e pertinentes diretrizes do Magistério eclesial. Quanto às orientações, o Documento de Aparecida e Documentos da CNBB apontam as seguintes:

“O discípulo, fundamentado assim na rocha da Palavra de Deus, sente-se motivado a levar a Boa Nova da salvação a seus irmãos. Discipulado e missão são como as duas faces da mesma moeda: quando o discípulos está apaixonado por cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só ele nos salva” (DA, n. 146);

“Toda paróquia é chamada a ser o espaço onde se recebe e se acolhe a Palavra. (...). Sua própria renovação exige que se deixe iluminar de novo e sempre pela Palavra viva e eficaz” (DA, n. 172).

“As comunidades eclesiais de base, no seguimento missionário de Jesus, têm a Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade, como farol de seu caminho e de sua atuação na única Igreja de Cristo” (DA, nn. 179-180).

“Encontramos Jesus (também) na Sagrada Escritura, lida na Igreja. (...). Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo” (DA, n. 247).

“A proclamação da Palavra de Deus pela Igreja é decisiva para a fé do cristão. (...). É através da pregação do quérigma que acontece um autêntico encontro com Jesus Cristo; por isso ele deve ser uma oferta imprescindível a todos” (Doc. da CNBB, 87, n. 61; DA, 226a).

“O anúncio e a acolhida da Palavra são, portanto, fundamentais para a vida e a missão da Igreja e ocupam lugar central na liturgia. (...). A proclamação da Palavra na liturgia torna-se para os fiéis a primeira e fundamental escola da fé (Doc. da CNBB, 87, n. 62).

“O ministério da Palavra exige o ministério da Catequese a todos, porque fortalece a conversão inicial e permite que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na missão em meio ao mundo que os desafia” (Doc. da CNBB, 87, n. 64).

É pela pregação da Palavra que todos podem ter acesso à fé e à salvação (Cf. Rom 10,17). (...). O ministério da Palavra, pelo chamado do Espírito, revela-se no carisma da profecia. (...). Profecia e martírio são legados da memória da Igreja chamada a testemunhar, com coragem e liberdade, a Palavra que defende a vida e julga os poderes deste mundo (Doc. da CNBB, 87, n. 66).

E no que se refere às propostas, o mesmo Documento de Aparecida e Documentos da CNBB indicam as seguintes:

Desenvolver “uma pastoral que leve em consideração a beleza no anúncio da Palavra” (DA, n. 512L);

Que se “difunda a Palavra de Deus, anuncie-a com alegria e ousadia e realize a formação dos leigos” (DA, n. 517h).

Diante dos “que deixaram a Igreja para se unir a outros grupos religiosos”, em nossa Igreja devemos reforçar quatro eixos, entre os quais, a formação bíblico-doutrinal: “nossos fiéis precisam aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus e os conteúdos da fé, visto que esta é a única maneira de amadurecer sua experiência religiosa” (DA, n. 226c).

“Por isso, a importância de uma 'pastoral bíblica', entendida como animação bíblica da pastoral, que seja escola de interpretação ou conhecimento da Palavra, de comunhão com Jesus ou oração com a Palavra e de evangelização inculturada ou de proclamação da Palavra” (DA, n. 248; Doc. da CNBB, 87, n. 63).

“Seja incentivada a prática dos círculos bíblicos ou da s reuniões de grupo, com a partilha da vivência da Palavra para a edificação mútua, de modo que a Palavra de Deus ilumine a realidade vivida pelos participantes, animando-as e despertando-as para o compromisso evangélico a serviço do Reino de Deus” (Doc. da CNBB, 87, n. 63).

“Aos fiéis leigos continuem sendo oferecidas oportunidades de formação bíblico-teológica, o que exige uma renovação da pastoral catequética nas paróquias” (Doc. da CNBB, 87, n. 65).

Face à exigência do estudo da Palavra de Deus, aconteceu, no Vaticano, a Assembléia Geral Ordinária do Sínodo sobre a Palavra de Deus, de 5-26/10/08, abordando o tema: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Ao encerrar este Sínodo, o papa Bento XVI, em sua homilia, apontou algumas provocações a serem assumidas com urgência:

“A tarefa prioritária da Igreja, no início deste novo milênio, é antes de tudo alimentar-se da Palavra de Deus, para tornar eficaz o compromisso da nova evangelização, do anúncio nos nossos tempos. Isto exige em primeiro lugar um conhecimento mais íntimo de Cristo e uma escuta sempre dócil da sua palavra”;

“A plenitude da Lei, como de todas as Escrituras divinas, é o amor. Portanto, quem pensa que compreendeu as Escrituras, ou pelo menos uma parte delas, sem se comprometer a construir, mediante a sua inteligência, o duplo amor de Deus e do próximo, na realidade demonstra que ainda está longe de ter compreendido o seu sentido profundo”;

“Torna-se indispensável uma promoção pastoral robusta e crível do conhecimento da Sagrada Escritura, para anunciar, celebrar e viver a Palavra na comunidade cristã, dialogando com as culturas do nosso tempo”;

“O lugar privilegiado no qual ressoa a Palavra de Deus, que edifica a Igreja, (...), é sem dúvida a Liturgia. Nela sobressai que a Bíblia é o livro de um povo e para um povo”.

E nesse empenho, ao tratar da “Pastoral bíblica”, os Padres Sinodais explicitaram que “os Bispos devem ser os primeiros promotores desta dinâmica nas suas dioceses. Para anunciar a Palavra, para a anunciar de maneira credível, o Bispo deve nutrir-se, ele em primeiro lugar, da Palavra de Deus, de forma que possa sustentar e tornar cada vez mais fecundo o seu próprio ministério episcopal. O Sínodo recomenda que se intensifique a “pastoral bíblica”, não justapondo-a a outras formas de pastoral, mas como animação bíblica de toda a pastoral. Guiados pelos seus pastores, todos os batizados participam da missão da Igreja” (Proposição n. 30).

Em vista das orientações e propostas do Magistério da Igreja na América Latina e Caribe e do Sínodo sobre a Palavra de Deus, realizou-se, dos dias 9 a 12 de julho próximo passado, o “Primeiro Encontro Latino-Americano de Animação Bíblica da Pastoral”, em Bogotá, na Colômbia, com o tema: “A Palavra de vida, fonte de discipulado e missão”. Ao final do Encontro, foi lançada uma “mensagem”, na qual se destaca, como imperativo, “que os fiéis tenham amplo acesso à Palavra de Deus (Cf. DV, n. 22), adquirindo, antes de tudo, o livro da Bíblia e contando com subsídios que lhes permitam iniciar-se em sua leitura, para que alcancem a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo, Palavra encarnada do Pai, centro de toda a Escritura (Cf. Jo 5,39)”.

Por aí percebemos que não estamos sozinhos e sem direção. Caminhamos como Igreja e com a Igreja, buscando sempre nos colocar na perspectiva de Jesus que escolheu os seus discípulos “para que estivessem com ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3,14), dando-lhes este mandato: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15; Cf. Mt 28,19). Daí que a decisão do apóstolo deve ser também a nossa: “Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16). Mas para que este intuito se realize a contento, precisamos nos preparar mais, homens e mulheres, casais e jovens, buscando o exemplo do servo Apolo, “homem eloqüente e versado nas Escrituras, que tinha sido instruído no caminho do Senhor e, no fervor do Espírito, falava com intrepidez (no grego: parresía) e ensinava com exatidão o que se refere a Jesus” (At 18,25).

Neste ano, durante o mês de setembro, o livro bíblico escolhido para a reflexão, oração e o aprofundamento do “Mês da Bíblia” é a Carta do apóstolo Paulo aos Filipenses. O título “Carta do Coração” está ligado ao fato de que expressões como amor, ternura e alegria, perpassam por toda a Carta (Cf. Fl 1,4.7-9; 2,17-18.29; 4,1.4.10). Aqui na paróquia já temos um grupo de setenta alunos na “Escola Bíblica”. E vamos encerrar o “Mês da Bíblia” com um grande encontro de todas as comunidades para estudarmos a “Carta do Coração”, a fim de sermos comunidades mais hospitaleiras, desprendidas, comprometidas, alegres, apaixonadas por Jesus Cristo e verdadeiramente missionárias.

Assim, espero que esta “primavera bíblica” floresça a cada dia, com mais e mais pessoas participando da “Escola Bíblica”, como ocorria nos primórdios da igreja, quando “o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos” (At 2,47). Porém, isto só se realizará se cada um se fizer verdadeiro “amante da Palavra” (DA, n. 292), tomando consciência que o estudo bíblico não é uma mera extensão na vida da comunidade, mas uma “prioridade da Igreja” (João Paulo II. Novo millennio ineunte, n. 40). Porque “devido à animação bíblica da pastoral, aumenta o conhecimento da Palavra de Deus e do amor por ela” (DA, n. 99a). Ai, sim, poderemos dizer com o apóstolo: “Foi grande a minha alegria no Senhor” (Fl 4,10).

 
©2007 '' Por Elke di Barros