sábado, 27 de junho de 2009

Nª Sª DO PERPÉTUO SOCORRO (27/06)

Pe. Paulo Nunes de Araujo


Hoje, 27 de junho, mais uma vez queremos prestar nosso carinho, amor e veneração à Mãe de Jesus, sob o título de “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”. Creio que este artigo, além de expressar a minha profunda devoção pessoal à Virgem Maria, despertará ainda mais a afeição dos meus leitores à Maria, Mãe do Senhor, que nos acompanha cotidianamente com sua materna intercessão.


1. Breve histórico do ícone

Conforme reminiscências do século XV, a devoção à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro nasceu de um ícone milagroso, roubado de uma igreja, na ilha de Creta, na Grécia. Diz-se que um poderoso comerciante da época adquiriu o ícone para vendê-lo em Roma. Quando atravessava o mar Mediterrâneo, uma tempestade quase levou o navio a naufragar. Tendo conseguido chegar a Roma, tentou vender o ícone, mas não encontrou nenhum interessado em comprá-lo. Neste tempo intermédio, o comerciante ficou muito doente e procurou um amigo para ajudá-lo nesse empreendimento, mas logo veio a falecer.

Porém, antes de falecer, o referido comerciante falou com este amigo sobre o ícone e pediu-o para levá-lo a uma igreja, a fim de que ele fosse novamente venerado pelos fiéis. Todavia, a esposa deste amigo não quis se desfazer do ícone.

O tempo passou e esta mulher ficou viúva. Face a isso, conta-se que a própria Virgem Maria apareceu à sua filha com este pedido: “faça venerar publicamente meu quadro na Igreja dedicada ao apóstolo São Mateus, que fica entre a Igreja Santa Maria Maior e a Igreja São João do Latrão”. Diz a tradição que, após muitas dúvidas e dificuldades, a mãe obedeceu e, tendo procurado o sacerdote encarregado da igreja, o quadro foi colocado na igreja de São Mateus, no dia 27 de março de 1499. De 1739 a 1798, a igreja de São Mateus e o convento adjacente estiveram sob os cuidados dos padres Agostinianos irlandeses.

Após trezentos anos de veneração do ícone pelos fiéis, o poderoso exército da França revolucionária, sob o comando de Napoleão Bonaparte, invadiu a Itália em 1798, destruiu a Igreja de São Mateus e, três anos depois, tomou o Vaticano. Em 1819, os padres Agostinianos se transferiram para a Igreja de Santa Maria em Posterula, levando consigo a “Virgem de São Mateus”. Mas como naquela igreja já era venerada “Nossa Senhora da Graça”, o ícone recém-chegado foi posto numa capela interna do convento, onde ele permaneceu, quase desconhecido.

Em 1855, no lugar da antiga Igreja de São Mateus, os padres Redentoristas construíram a igreja de Santo Afonso de Ligório. Em 1863, o ícone foi recuperado, e, segundo dizem, “por disposição da Providência Divina”. A 11 de dezembro de 1865, o Papa Pio IX recomendou o ícone aos padres Redentoristas com a missão de “torná-lo conhecido e amado no mundo inteiro”, divulgando a devoção ao “perpétuo socorro” de Maria. Em janeiro de 1866, os padres Agostinianos repassaram o ícone aos Redentoristas. No dia 26 de abril do mesmo ano, o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi introduzido na Igreja de Santo Afonso, após solene procissão. A partir daquela data, sua devoção se irradiou por todo o planeta. Somente em 1877, foi fixado o dia 27 de junho como ocasião própria para a “Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”. No Brasil a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro chegou com os padres da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentoristas, que aqui se estabeleceram em 1893.


2. O significado do ícone

O verdadeiro ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é uma pintura de estilo bizantino sobre um quadro, de madeira (nogueira), medindo 53 cm x 41,5 cm. Segundo recentes análises radiográficas, como a do carbono 14, a madeira do ícone pode ser seguramente datada dos anos 1325 a 1480. No ícone misturam-se a arte e a piedade, a elegância e a simplicidade.

A palavra ícone (do grego εἰκών: eikon: imagem, forma, aparência: Cf. Mc 12,16; Rm 8,29; 1Cor 11,7; 15,49; Ap 13,14; Cl 1,15), geralmente é aplicada às imagens que representam Jesus Cristo, a Virgem Maria, os anjos, os santos e santas ou outros temas religiosos, e obedecem a normas bem precisas do ponto de vista artístico e teológico. No âmbito da arte pictórica religiosa identifica uma representação sacra pintada sobre um painel de madeira.

Facilmente percebemos que a pintura de um ícone segue traços desconformes, desproporcionais. Isto se deve ao fato que os pintores de ícones compunham suas obras sempre na penumbra, em ambiente com pouca claridade, num clima de penitência, de oração, de profunda espiritualidade. Por isso, um ícone não deve ser visto como simples obra de arte, mas como algo para ser contemplado, a fim de evocar, tornar presente, o que se quer recordar para fortalecer a espiritualidade e a fé. Assim, o ícone de “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, pintado conforme o estilo de “Virgem da Paixão”, nos leva a contemplar o “mistério da Redenção”. Portanto, podemos dizer que este ícone é uma boa síntese da mais alta Mariologia.

O ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro traz uma variedade extraordinária de símbolos. A seguir, apresento alguns desses elementos figurados, ciente de que na riqueza de seus símbolos, o ícone da Virgem Maria tem ainda muito a revelar. Neste aspecto, procurei oferecer elementos mais contundentes, com maior profundidade bíblica e teológica, portanto, mais consistentes do que as explicações que eu notei em tantos outros artigos. Sugiro que você leia cada uma dessas explicações simbólicas olhando simultaneamente num quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a fim de ter um maior proveito. Ei-las:

1. A Virgem Maria está representada de meio corpo, mas, pela postura, se percebe que ela está de pé, provavelmente recordando a cena da crucifixão de Jesus: “Perto da cruz de Jesus, permanecia de pé sua mãe” (Jo 19,25a);

2. Acima e à direita da cabeça de Maria, as letras gregas “MP” são a abreviatura da palavra “Mãe” (méter), e em cima, à esquerda da cabeça de Maria, as letras gregas “TU” são abreviatura da palavra “Deus” (theoú). Daí a frase "Mãe de Deus”;

3. À direita da cabeça de Maria, as letras gregas “OAM” são a abreviatura do nome “o Arcanjo Miguel” (hó Archângelos Michaél). Este Arcanjo alude à cena da morte de Jesus: “Estava ali um vaso cheio de vinagre. Fixando, então, uma esponja embebida de vinagre numa vara, levaram-na à sua boca” (Jo 19,29). Depois, “um dos soldados traspassou-lhe o lado com a lança (Jo 19,34);

4. À esquerda da cabeça de Maria, as letras gregas “OAG” são a abreviatura do nome “o Arcanjo Gabriel” (hó Archângelos Gabriél). Este Arcanjo também faz alusão à cena da crucificação de Jesus, pois ele traz nas mãos a cruz e os pregos;

5. À esquerda da cabeça do Menino Jesus, as letras gregas “IC XC” são a abreviatura do nome “Jesus Cristo” (Iesoú Christoú);

6. As coroas sobre a cabeça de Maria e do Menino Jesus não fazem parte do ícone original. Elas foram pintadas a 23 de junho de 1867, como gratidão pela recuperação do ícone, e ao dá-la o título de “Perpétuo Socorro”. Em 1994, quando o ícone foi restaurado pelos técnicos do Museu Vaticano a pedido do Governo Geral dos Redentoristas, as coroas foram retiradas, a fim de conservá-lo na sua forma original;

7. A estrela no véu de Maria simboliza a luz que nos acompanha dia a dia, apontando a direção certa que é Jesus Salvador, a luz verdadeira: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará na trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12), o qual está sinalizado pela cruz, logo à direita;

8. Os olhos de Maria são grandes, voltados sempre para quem a contempla. É o olhar da mãe que vê todas as nossas necessidades, pronta para nos socorrer;

9. A boca de Maria é pequena, sugerindo que o seu profetismo é marcado não tanto pelo dizer, mas pelo fazer (Cf. Lc 1,38-45; At 1,12-14);

10. O manto azul de Maria indica que ela traz a veste própria das mães da época;

11. A túnica vermelha de Maria designa que ela traz a veste própria das virgens da época. Assim, Maria é a Virgem-Mãe de Jesus;

12. O braço esquerdo de Maria apóia Jesus, de modo que ela fique à sua direita, assim como Jesus “está sentado à direita de Deus” (Lc 22,69; At 7,55). Segundo estudiosos, os autênticos ícones de Maria sempre trazem o Menino Jesus consigo, pois a razão dela é Ele;

13. A mão direita de Maria está aberta para acolher as mãos do Menino Jesus sobre a dela, pois ele é o Senhor, o ativo e ela é “a serva”. E sua mão está aberta como que para abençoar e acolher todos aqueles que nela confiam;

14. Os dedos da mão direita de Maria são compridos (hodiguitria, do verbo grego hodeguéo: guiar, conduzir), pois ela é quem melhor nos “conduz” a Jesus, e somente ele nos conduz a Deus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Por essa razão, só o Menino está pintado de corpo inteiro, em evidência;

15. A sandália solta do Menino provavelmente quer lembrar que Jesus é “aquele que vem desatar a correia da sandália” (Jo 1,27), para nos resgatar dos pecados, nos re-comprar para Deus como o nosso go’él redentor (Cf. Rt 4,7);

16. O fundo dourado que reflete na frente do manto de Maria, recorda a “Mulher vestida com o sol” (Ap 12,1; Cf. Ct 6,10), toda protegida por Deus, e simboliza o mundo glorioso para onde iremos (Cf. Is 60,19-21; Ap 21,23-26), apoiados no “Perpétuo Socorro” dela.

Assim, o ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é um grande convite à meditação e à reza do Rosário, o qual é de profundo sentido bíblico e cristocêntrico, com seus quatro mistérios: os gozosos e luminosos (o Menino Jesus), os dolorosos (a cruz e os pregos) e os gloriosos (o fundo dourado).

Para finalizar, deixo aqui uma fórmula simples de “Oração à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, que aprendi tempos atrás e que gosto muito de recitá-la. Podemos rezá-la freqüentemente, pedindo uns pelos outros: “Ó Santíssima Virgem Maria, que para inspirar-nos uma confiança infinita, quiseste tomar o carinhoso nome de Mãe do Perpétuo Socorro. Nós te suplicamos que nos socorras em toda ocasião: em nossas tentações, fraquezas, dificuldades e necessidades do dia a dia, especialmente no final de nossa vida. Concede-nos, ó amorosa Mãe, o propósito e o costume de recorrermos sempre a ti, pois sabemos que, se somos fiéis em suplicar-te, tu serás fiel em socorrer-nos. Intercede por nós junto a Deus nas graças de que mais precisamos e que através de ti pedimos, confiantes no teu perpétuo socorro (fazer o pedido em silêncio). Abençoa-nos, ó terna e bem-aventurada Mãe! E roga por nós, agora e na hora de nossa morte. Amém! (Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai).

 
©2007 '' Por Elke di Barros