quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

NATAL: NASCEU PARA NÓS O SALVADOR

Pe. Paulo Nunes de Araujo


“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura” (Lc 2,11-12). Servindo-me destas palavras do evangelho da Missa da Vigília de Natal, propus-me a escrever este artigo.

Muitas vezes o povo pergunta qual o dia e o mês em que Jesus nasceu. Para nós, cristãos, a única fonte escriturística que temos são os evangelhos. Mas nos relatos bíblicos não encontramos nenhuma referência sobre a data do nascimento de Jesus, pois os evangelhos não são crônicas ou narrações biográficas a respeito dele. Eles trazem, sim, a experiência de fé dos cristãos do primeiro século baseada no Cristo Ressuscitado. E falar do Senhor Glorioso, é falar do mesmo Jesus de Nazaré que um dia nasceu. Vemos aí uma relação de continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Assim, sobre o nascimento de Jesus sabemos muito pouco.

Importa é que para nós cristãos, o Natal é a celebração do grande amor de Deus, o dia em que Deus nasceu no mundo, trazendo paz, luz, amor, esperança, uma nova aliança, uma nova vida. O Filho de Deus, Jesus de Nazaré, “nasceu em Belém (Cf. Mt 2,1; Lc 2,6-7), como uma criança pobre e marginalizada, misturando-se com toda a humanidade, oferecendo-lhe a presença e a reconciliação de Deus. Em torno deste acontecimento e data, há muitas discussões e tradições herdadas do passado. É que naquela época os calendários eram muito confusos. Os antigos calendários romanos tinham, às vezes, semanas de quinze dias e meses de dez dias, de acordo com a vontade do Imperador da época. O povo em geral não conhecia as datas de nascimento, casamento ou falecimento. Não existem registros históricos a respeito de “Festas de Aniversário” na antigüidade.

Por isso, as comunidades cristãs do primeiro século não comemoravam o nascimento de Jesus. Os evangelhos apenas nos informam que Jesus nasceu antes da morte de “Herodes, rei da Judéia” (Lc 1,5; Mt 2,1), que faleceu na primavera de 750 da era romana, quer dizer, no ano 4 antes de Cristo. Conforme estudiosos, o ano mais provável do nascimento de Jesus é 7 ou 6 antes da era cristã. Sobre a definição do dia 25 de dezembro, temos alguns dados extraordinários.

Os Celtas (povo originário da região sudoeste da Alemanha, leste do Reno, no fim do período do Bronze I [2500-1900 a.C.] e espalhou-se pela Europa entre os séculos VI a I a.C., quando sofreu a dominação do Império romano), por exemplo, tratavam o Solstício do Inverno (quando a luz solar incide com maior intensidade sobre o hemisfério norte) como um momento extremamente importante em suas vidas. O inverno ia chegar, longas noites de frio, por vezes com poucos gêneros alimentícios e rações para si e para os animais, e não sabiam se ficariam vivos até a próxima estação. Eles então faziam um grande banquete de despedida no dia 25 de dezembro. Seguiam-se 12 dias de festas, terminando no dia 6 de Janeiro, data que para nós, cristãos, coincide com a festa da “Epifania do Senhor”.

Em Roma, o Solstício do Inverno também era celebrado muitos séculos antes do nascimento de Jesus. Os romanos o chamavam de Saturnálias (Férias de Inverno), em homenagem a Saturno, o Deus da Agricultura, que permitia o descanso da terra durante o inverno.

Em 274 o Imperador romano Lúcio Domício Aureliano (270-275) proclamou o dia 25 de dezembro, como “Dies Natalis Invicti Solis” (Dia do Nascimento do Sol Inconquistável). O Sol passou a ser venerado. Buscava-se o seu calor que ficava no espaço muito acima do frio do inverno na Terra. O início do inverno passou a ser festejado como o dia do Deus Sol.

A partir daí, o Papa Júlio I (337-352) decretou, em 350, que o nascimento de Cristo deveria ser comemorado no dia 25 de Dezembro, substituindo a veneração ao Deus Sol pela adoração ao Salvador Jesus Cristo. O nascimento de Cristo passou a ser comemorado no Solstício do Inverno em substituição às festividades do Dia do Nascimento do Sol Inconquistável.

Para nós, habitantes do Hemisfério Sul, se considerarmos o Solstício do Inverno, não há razão para se comemorar o Natal no dia 25 de dezembro. Porque nesta data vivemos os primeiros dias do verão e não do inverno. Porém, herdamos as tradições cristãs que vieram do Hemisfério Norte.

Assim sendo, o que nos interessa é celebrar este ato de amor maravilhoso de Deus. Um Deus que veio ao mundo e inaugurou uma nova vida entre nós. Este é o grande motivo da nossa festa. Até porque, natal sem Jesus não é natal.

Voltando agora ao texto de Lucas acima citado, podemos perceber dois dados importantes nas palavras do anjo aos pastores. Primeiro, o anúncio da Boa Notícia que será uma grande alegria para todo o povo” (Lc 2,10). De fato, a Boa Notícia mostra que o Menino que nasceu é o Salvador, porque trouxe a libertação e a salvação definitivas; que ele é o Messias, porque é o ungido, o Cristo de Deus que veio estabelecer uma relação de justiça e amor entre nós; e que ele é o Senhor, porque derruba todos os obstáculos da nossa caminhada, conduzindo-nos com segurança dentro de um tempo novo.

Segundo, a incidente necessidade de uma intervenção direta de Deus para que o Messias/Cristo fosse identificado, através de um sinal, em razão das circunstâncias estranhas do seu nascimento: “vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura. Isto porque Jesus, filho de “José, que era descendente de Davi (Lc 1,27), não nasceu num palácio real. Foi exatamente entre os deserdados da vida e para os sofredores e desprezados que nasceu o Salvador, o Messias, o Senhor. Por isso, os pastores, símbolo dos pobres e marginalizados da época, foram os primeiros missionários que receberam a responsabilidade de anunciar a chegada de Jesus.

Também hoje, devemos saber identificar os ambientes e as realidades onde Jesus está concretamente presente. Sabemos que encontramos Jesus na Palavra (Bíblia), nos Sacramentos de modo geral, muito especialmente na Eucaristia, na comunidade que vive e celebra unida, na vida de todas as pessoas de bom coração, nos pobres e abandonados (Cf. Mt 25,31-46), etc..

No mundo de hoje, no corre-corre da vida, quase não temos tempo para encontrarmo-nos com Jesus, para celebrarmos e vivermos esta “grande alegria”. Em vista disso, o papa Bento XVI muito bem asseverou: “Nós temos sempre pouco tempo, especialmente para o Senhor. Às vezes, não sabemos ou não queremos encontrá-lo. Mas Deus tem tempo para nós. Dá-nos seu tempo porque tem entrado na história com sua palavra e suas obras de salvação, para abri-la à eternidade e fazê-la história da aliança. O tempo é em si mesmo um sinal fundamental do amor de Deus: um presente que o ser humano pode valorizar, ou ao contrário, estragar; acolher seu significado, ou descuidar com superficialidade” (Notícias da CNBB, 02/12/2008).

Em face disso, vale à pena lembrar da canção: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores). Assim, mãos à obra, enquanto há tempo. Porque “quanto a nós, não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos (At 4,20). E "o que ouvimos , o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam é a Palavra, que é a Vida" (1Jo 1,1), isto é, o próprio Jesus.

Para concluir, peço que Maria, a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, estrela da nova evangelização, primeira discípula e grande missionária do Pai nos abençoe e nos ajude a sermos verdadeiros proclamadores desta grande e boa notícia: “nasceu para nós um Salvador que é o Messias, o Senhor”.

domingo, 21 de dezembro de 2008

MEUS 20 ANOS DE SACERDÓCIO


Pe. Paulo Nunes de Araujo


Diz as “Palavras de Cohélet: “Há um momento para tudo, e um tempo certo para cada coisa debaixo do céu. Tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para colher. Tempo para amar e tempo para odiar. Tempo para a guerra e tempo para a paz” (Ecl 3,1-2.8).

Percebemos aí que a palavra-chave é “tempo”. Segundo o escritor Alan Cordeiro, “o grande poeta argentino, Martin Fierro, diz que o tempo é “a tardança daquilo que está por vir”. Essa formulação mostra o processo de realização do crônos (tempo), vindo do futuro em direção ao presente” (CORDEIRO, Alan. A brevidade da vida. Disponível em: <clicar aqui>. Acesso em: o2 dez. 2008). Realmente, o que passou é graça, é dádiva; a nossa expectativa é com o que encontra-se por vir. É em função do futuro que nos preparamos, nos entusiasmamos, contamos com o apoio outro, e pedimos as bênçãos de Deus, como nos ensina o apóstolo Paulo: “esqueço-me do que fica pra trás e avanço para o que está na frente. Lanço-me em direção à meta” (Fl 3,14).

Assim, após vinte anos de vida sacerdotal, inspirado no texto do Eclesiastes supracitado, digo que há também um tempo para avaliar e um tempo para celebrar. Nesse processo avaliativo, lembrei-me das palavras do físico alemão Albert Einstein: “nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado”. Então, percebi que celebrar era preciso. Foi assim que, no dia 10/12, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Miranda, MS, onde fui criado e onde recebi o Sacramento da Ordem, na companhia de meus familiares, de verdadeiros amigos paroquianos e do pároco, Pe. Altair, celebramos a Santa Missa (Veja fotos neste blog). Aliás, nesses vinte anos, fiz questão de celebrar anualmente a Eucaristia em vista desta data tão especial para mim.

É claro que, nessa estrada, enormes foram as vicissitudes. Porém, dia a dia serviram-me de alento as palavras de Paulo apóstolo: “Somos atribulados por todos os lados, mas não desanimamos; somos postos em extrema dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo; somos perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados. De fato, embora estejamos vivos, somos sempre entregues à morte, por causa de Jesus” (2Cor 4,8-9.11).

Realmente, senti na carne o que dizia João XXIII: “por certo, a condição do padre é muitas vezes difícil. Não é para admirar que seja o primeiro alvo visado pelos inimigos da Igreja, porque, dizia o cura d’Ars, quando se quer destruir a religião, começa-se por atacar o padre” (Carta Encíclica Sacerdotii Nostri Primordia, no centenário da morte do Cura de Ars, n. 63)

Contudo, nesses vinte anos de sacerdócio procurei sempre ser do jeito que sou, com minhas qualidades e qualificações, limitações e fraquezas. Tudo isso, ciente de que os conflitos são inerentes ao caminho, como ensina o autor sapiencial: “Meu filho, se te ofereceres para servir o senhor, prepara-te para a prova. Endireita teu coração e sê constante, não te apavores no tempo da adversidade” (Sir 2,1-2). Tal compreensão teve o apóstolo Paulo ao dizer que “trazemos, porém, este tesouro (Cristo) em vasos de argila, para que esse incomparável poder seja de Deus e não de nós” (2Cor 4,7). Da mesma forma, S. João Maria Vianney, o cura d’Ars, patrono dos padres: “Se ao morrer me desse conta de que não existe nada de positivo e de que errei durante toda a minha vida, isso não mudaria nada para mim. Ficaria feliz por ter errado acreditando sempre no Amor.

Cito ainda o renomado psiquiatra norte-americano David D. Burns, que na faina com os seus filhos, constatou: “fiquei surpreso ao saber que me amavam mais por eu ser capaz de admitir erros, pois aí eu ficava mais humano” já que, conclui ele, “somos mais inteiros (íntegros) quando sentimos falta de algo”. No horizonte da fé cristã, esse algo é a graça de Deus. Ninguém se basta a si mesmo. Sabemos que a graça de Deus é abundante e ela só se edifica na natureza, embora a natureza humana seja falha. No entanto, “a graça não suprime a natureza, aperfeiçoa-a” (Sto. Tomás de Aquino. Suma Teológica, I,8,1 a 2). Assim sendo, somos sempre carentes da graça de Deus. É ela que nos completa, que nos torna inteiros.

Mas sempre assumi a minha fragilidade humana dentro da sincera, madura e atual mentalidade presbiteral: “somos conscientes de nossa fraqueza, e da necessidade de sermos purificados” (DA, n. 177). Além disso, admito esta condição na confiança do salmista: “Senhor, não te lembres de meus desvios, nem dos pecados da minha juventude. Lembra-te de mim, conforme o teu amor, por causa da tua bondade” (Sl 25/24,7), e na humildade do apóstolo: “pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça dada a mim não foi estéril” (1Cor 15,10a).

Neste dia em que celebro o meu vigésimo aniversário sacerdotal, trago aqui marcantes recordações. Por exemplo, relembro que durante o Ritual de Ordenação o bispo ordenante D. Pedro Fré, abriu o “diálogo” com estas palavras: “Caro filho, antes de ingressares na Ordem dos Presbíteros, deves manifestar perante o povo o propósito de aceitar este encargo”. Logo em seguida perguntou-me: a) Paulo, você quer desempenhar a missão sacerdotal como presbítero em colaboração com os bispos, cuidando do rebanho de Jesus Cristo, sob a iluminação do Espírito Santo? b) Você quer celebrar com devoção e fidelidade os mistérios de Cristo, para o louvor de Deus e santificação de seu povo, segundo o costume da Igreja? c) Você quer, com disponibilidade e sabedoria, colocar em prática o ministério da Palavra, ensinando o evangelho e a fé cristã-católica? d) Você quer unir-se cada vez mais ao Cristo, sumo Sacerdote, que se entregou ao Pai por nós, e ser com ele consagrado para a libertação e salvação do seu povo? e) Você promete respeito e obediência ao seu bispo e aos seus superiores?

A todas estas cinco questões eu respondi com um sim consciente, livre, espontâneo, alegre e decidido. Por fim, concluiu o bispo: “Deus, que te inspirou este bom propósito, te conduza sempre mais à perfeição”. E hoje, olhando em retrospectiva, creio honestamente tê-las exercido a contento.

Também rememoro com grande emoção alguns gestos durante o Ritual de Ordenação que me tocaram profundamente: a) a colocação das minhas mãos entre as mãos do bispo: este gesto indica que é Deus quem de fato envolve as nossas mãos, não para prendê-las, e nem para ficar com os braços cruzados, mas para que elas se abram aos outros; b) a prostração: este gesto muito antigo sinaliza a total dedicação a Deus, o reconhecimento da própria impotência e da própria humanidade. Por isso, deita-se com o rosto para o chão, indicando que somos ordenados não porque merecemos a ordenação sacerdotal, mas porque Deus nos chamou em nossa fraqueza; c) a imposição das mãos: o bispo coloca as mãos sobre a cabeça do futuro sacerdote e reza em silêncio para que o Espírito Santo impregne, transforme e capacite para a missão. O que se destaca aí não é a capacidade humana, mas a ação do Espírito Santo. Depois, os outros sacerdotes presentes, fazem o mesmo gesto; d) a oração da ordenação: da oração feita pelo bispo, destaco este trecho: “Ó Deus, dê a seu servidor a virtude sacerdotal. Renove nele o espírito de santidade; Faça, ó Deus, com que ele se atenha ao ofício que recebeu da sua mão; que a vida dele seja para todos estímulo e fio condutor. Abençoe, santifique e ordene o seu servidor escolhido pelo Senhor”; e) a unção das mãos: a unção com o Crisma é um sinal de que o Espírito Santo é quem distribui suas graças mediante as mãos vazias, e expressa o desejo de que elas sejam sempre mãos afetuosas, que tocam as pessoas, e as aproximam fisicamente do amor de Deus. De fato, todos os sacramentos que o sacerdote ministra, são sacramentos de toque; f) a oferenda do pão e do vinho: da oração que o bispo faz diante do ordenando, ressalto estas palavras: “Aceita as doações do povo para a celebração do sacrifício. Reflete sobre o que fazes, imita o que realizas e coloca tua vida sob o mistério da cruz”; g) a saudação da paz: esta saudação é marcada pela afetividade, pelo amor e alegria, que tanto o bispo ordenante como os sacerdotes presentes expressam ao novo sacerdote; h) a bênção neo-sacerdotal: a sensação que se tem é que a força do Espírito Santo flui com muito mais intensidade nesta primeira bênção. Na verdade, o desejo é que o Espírito Santo sempre atue sobre o povo com essa mesma força.

Voltando à Santa Missa, na Igreja Matiz de Miranda, tive então a oportunidade, durante a homilia, de expor toda a minha trajetória ao longo dessa caminhada. Honestamente, percebi que tenho uma plausível biografia. Pois sempre fui muito respeitado e bem avaliado nos lugares onde eu trabalhei e, consecutivamente, deixei todos esses lugares com a cabeça erguida e o peito aberto, celebrando uma Missa de “envio” e cumprimentando um por um na porta principal da Igreja.

Por isso mesmo, mais uma vez celebrei esta data com a consciência tranqüila e serena de quem até o momento cumpriu o seu dever, com aquela mesma intrepidez do apóstolo Paulo, dirigindo-se às lideranças de Éfeso: “Vocês bem sabem de que maneira me comportei em relação a vocês durante todo o tempo, (...) Servi ao Senhor com toda humildade, com lágrimas e no meio das provações que sofri por causa das ciladas (...) Nunca deixei de anunciar aquilo que pudesse ser de proveito para vocês, nem de anunciar publicamente e também de casa em casa. Pois não deixei de lhes anunciar todo o projeto de Deus sobre vocês. (...). Em tudo mostrei a vocês que é trabalhando assim que devemos ajudar os fracos, recordando as palavras de Jesus, que disse: ‘há mais felicidade em dar do que em receber’” (At 20,18-20.27.35).

Posto isso, de joelho, diante de meus familiares, da comunidade ali presente, do pároco Pe. Altair e, sobretudo, diante de Deus, revigorei o meu compromisso sacerdotal com esta oração: “Senhor Jesus, é um mistério porque me escolhestes para o sacerdócio ministerial. Sou pequeno, frágil, pecador. Vós conheceis tudo e sabeis de que barro sou feito. Sou um vaso de argila, levando uma carga preciosa: a vossa misericórdia, a vossa compaixão, o vosso amor. Neste dia em que celebro o aniversário da minha ordenação presbiteral, junto com o meu irmão de sacerdócio, Pe. Altair, com minha família e com toda a comunidade, quero renovar minhas promessas sacerdotais. Quero permanecer unido a Vós e a todos os meus irmãos, reassumindo com alegria o meu compromisso sacerdotal; Quero estar sempre aberto à ação do Espírito Santo para poder ensinar aos meus irmãos os mistérios da fé, à luz da palavra de Deus, e com eles celebrar o vosso grande amor, revelado nos sacramentos; Quero fazer com que a Eucaristia seja o centro da minha vida e da vida de todos aqueles que a mim foram confiados; Quero estar unido a todos os meus irmãos sacerdotes, orando por eles, animando-os com minha presença e amizade, sendo solidário e estendendo-lhes a minha mão nos momentos mais difíceis; Prometo estar sempre disponível aos serviços que me forem confiados na minha diocese e que, unido ao meu bispo, possa cada dia me transformar na imagem do Cristo Sacerdote, Bom Pastor, Mestre e Servo de todos. Amém!

Transcorrida a Santa Missa, após a comunhão, fiquei muitíssimo emocionado. Primeiro, com uma bela mensagem que recebi da comunidade paroquial, a qual recolhi e aqui a transcrevo, na íntegra:

“Querido irmão Pe. Paulo, celebramos cheios de muita gratidão a Deus os vinte anos de tua ordenação sacerdotal. Recordamos aquele 10 de dezembro de 1988, onde, no ginásio de esporte aqui da nossa cidade, junto aos teus familiares e amigos, eras consagrado definitivamente a Deus, tornando-te “sacerdote para sempre” (Cf. Sl 110/109,4). Assim é para todos aqueles que vivem o Sacerdócio: divino mistério de um Deus que se sujeita a ser nas mãos humanas e limitadas de homens, a hóstia que alimenta a caminhada de um povo. Divino Mistério de amor que nos sacramentos e bênçãos, no acolhimento e no conselho, na Palavra Viva e anunciada no Evangelho, quis servir-se de homens para fazê-los instrumentos de sua ação no caminho da vida.

Ao completar todos esses anos em resposta à tua vocação, padre Paulo, tens demonstrado uma firmeza de fé, uma sabedoria e um desejo imensurável de transformar cada um de nós em uma Igreja Viva, atuante, humana e cheia de compaixão. Celebrar estes vinte anos, querido irmão, deve ser para ti motivo de satisfação ao ver reunido ao teu lado, os amigos que se beneficiaram do teu entusiasmo, de tuas palavras e do teu carinho para poderem continuar suas lidas da vida humana, com a certeza e a confiança de que Deus está sempre perto de cada um deles. Celebrar é ainda recordar os feitos, não tanto as obras, mas as conquistas que o coração pode alcançar, os bens distribuídos pelo poder Divino através de tuas mãos. É render graças a Deus que mesmo vendo as limitações humanas, “realiza grandes coisas e Santo é o seu Nome Bendito” (Lc 1,49).

Lógico que tivemos os nossos momentos de discordância, até nos ferimos nos espinhos, mas automaticamente erguemos os nossos olhos à flor e verificamos que a sua essência serve para valorizar a amizade, o amor e a dedicação que encontramos em ti, que para nós é conterrâneo, filho do mesmo Pai do Céu, nascido do mesmo amor de Deus. Querido irmão, dizer-te parabéns é pouco... Dizer-te obrigado seria a melhor forma de reconhecer esta caminhada que vais levando em frente.

Apoiando-se nos braços carinhosos de Maria, segue, irmão, na entrega total, fazendo-se “grão de trigo que morrendo dá a vida” (Cf. Jo 12,24). Queremos deixar aqui o nosso grande abraço por esta data maravilhosa, pois sabemos que fazemos parte desta tua caminhada. A Deus nós agradecemos a oportunidade que nos deu de participarmos desta comemoração de 20 anos da sua vida sacerdotal sempre repleta de amor e dedicação. Parabéns, Pe. Paulinho! Te amamos de coração”.

Depois desta mensagem, fiquei igualmente comovido com a alocução do Pe. Altair, a quem considero verdadeiro amigo e irmão de sacerdócio, conforme a Pastoral Presbiteral pede. Dirigiu-me ele palavras de carinho, de apoio, de conforto, colocando-se do meu lado, tanto nas minhas angústias, quanto nos meus anseios. Tudo isso, encheu-me de um orgulho saudável. Senti-me como aquele filho que ao voltar para casa, foi recebido com compaixão pelo pai, de braços abertos e com uma grande festa que lhe foi preparada (Cf. Lc 15,11-32). Parece que este evangelho acabou acontecendo, na prática, pois logo após a Santa Missa, fui homenageado com uma linda e calorosa festa surpresa. Já não dava para conter tamanha emoção.

Evento parecido ocorreu também com os meus ex-paroquianos e ex-alunos de Sagrada Escritura, da Paróquia Nossa senhora do Desterro, na cidade de Mairiporã, SP, no dia 14/12. Além dos amigos presentes, ali estavam comigo também a minha mãe Olga e o meu irmão Valdir. Dentre os vários cartazes com palavras de afeto e de amor, uma me emocionou demais: "Longe dos olhos; mas não do coração" (1Ts 2,17). Estava colocada dentro de um enorme coração. Linda foi a celebração da Santa Missa, os testemunhos, as manifestações de carinho, e delicioso foi o almoço preparado para todos os convidados. Tudo estava maravilhoso (Veja as fotos neste blog). Tanto em Miranda, quanto em Mairiporã, tudo foi magnífico, encantador, revitalizante.

Concluídas estas celebrações, tendo refeito o meu compromisso sacerdotal e me reanimado a continua esta jornada, assumi mais uma vez a recomendação do apóstolo Pedro aos presbíteros: “cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado, não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa do lucro sujo, mas com generosidade; não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho” (1Pd 5,2-3).

Para que este propósito melhor se realize, vou continuar sempre contando com a bênção de Deus, a proteção de Maria, o apoio da minha família e a amizade, o carinho e as orações da comunidade, três forças que sempre me alimentaram durante todos esses vinte anos de caminhada, sem as quais, certamente eu não teria chegado até aqui. Por tudo isso, só me sobra dizer, do fundo d meu coração, um Muito obrigado! E “oremos uns pelos outros” (Tg 5,16).

 
©2007 '' Por Elke di Barros