quarta-feira, 1 de setembro de 2010

“LEVANTA-TE, VAI À GRANDE CIDADE” (Jn 1,2)


Pe. Paulo Nunes de Araujo


“Em nosso século tão influenciado pelos meios de comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o posterior aprofundamento da fé não podem prescindir desses meios. Colocados a serviço do Evangelho, eles oferecem a possibilidade de difundir quase sem limites o campo da audiência da Palavra de Deus, fazendo chegar a Boa Nova a milhões de pessoas. A Igreja se sentiria culpada diante de Deus se não empregasse esses poderosos meios, que a inteligência humana aperfeiçoa cada vez mais. Com eles, a Igreja ‘proclama a partir dos telhados’ (Cf. Mt 10,27; Lc 12,3) a mensagem da qual é depositária. Neles, encontra uma versão moderna e eficaz do 'púlpito'. Graças a eles, pode falar às multidões” (DAp, n. 485).

Com estas palavras do Magistério eclesial, mais uma vez faço uso deste extraordinário meio de comunicação, a internet, para fazer chegar até os meus queridos e fiéis leitores, mais um artigo, desta vez sobre o “Mês da Bíblia”.

O “Mês da Bíblia” tem sua origem na Liga de Estudos Bíblicos (LEB), a qual foi fundada no dia 6/02/1947, durante a Primeira Semana Bíblica Nacional, que realizou-se de 3-8/02/1947, no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Esse evento contou com cerca de quarenta professores de Sagrada Escritura, vindos de muitos Estados do Brasil e de diversos países. Das várias propostas apontadas, uma foi a de se criar o “Dia da Bíblia”. A data escolhida foi o último domingo do mês de setembro, o domingo mais próximo do dia 30, porque foi nesta data, no ano de 420, que na cidade de Belém (Palestina), morreu o padre Sofrônio Eusébio Jerônimo, homem de larga cultura literária e bíblica. Foi ele quem, a pedido do papa Dâmaso, traduziu os originais da Bíblia (hebraico e grego) para o latim, versão conhecida como Vulgata, por ser um latim comum. A 20 de setembro de 1295, o papa Bonifácio VIII o proclamou “Doutor da Igreja”. E em 1767, foi canonizado santo pelo papa Clemente XIII, tornando-o “Patrono dos biblistas”. São Jerônimo é ainda padroeiro dos arqueólogos, arquivistas, bibliotecários, estudantes, tradutores.

O “Dia da Bíblia” foi ganhando destaque na vida da Igreja até ser incluído no Diretório Litúrgico. Mas foi em 1971 que surgiu definitivamente o “Mês da Bíblia”, quando a Arquidiocese de Belo Horizonte (MG) solicitou às comunidades que dessem sugestões para a comemoração do seu cinqüentenário. Dentre as várias idéias destacou-se a criação do “Mês da Bíblia”, inclusive lançando alguns objetivos bem precisos, como: contribuir para o desenvolvimento das diversas formas de presença da Bíblia nas Pastorais da Igreja; criar subsídios bíblicos nas diferentes formas de comunicação; facilitar o diálogo criativo e transformador entre a Palavra, a pessoa e as comunidades.

A partir de então, foram criados o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), em 1979, o Grupo de Reflexão Catequética (GRECAT), em 1984, o Serviço de Animação Bíblica (SAB), em 1985 e, mais recentemente, o Grupo de Reflexão Bíblica Nacional (GREBIN), em 1990. Todos atuam em nível nacional e em colaboração com a Dimensão Bíblico-Catequética das “Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil” da CNBB. De 1971 até o momento, trinta e nove temas bíblicos já foram elaborados e se tornaram matéria de reflexão e oração em milhares de comunidades do Brasil, buscando sempre animar a fé e a vida do povo.

Inicialmente, de 1971 a 1977, os temas do “Mês da Bíblia” eram assuntos gerais e não um livro específico da Bíblia. Porém, desde o começo, os temas bíblicos sugeridos são relacionados com o tema da Campanha da Fraternidade do mesmo ano, com o intuito de reforçar o que foi refletido e rezado durante a Quaresma. Vejamos, a seguir, os “slogans” e os “conteúdos” que orientaram a Pastoral Bíblica no mês setembro desde 1971 até hoje:

1971: Bíblia, Jesus Cristo está aqui;
1972: Deus acredita em você;
1973: Deus continua acreditando em você;
1974: Bíblia, muito mais nova do que você pensa;
1975: Bíblia, palavra nossa de cada dia;
1976: Bíblia, Deus caminhando com a gente;
1977: Com a Bíblia em nosso lar, nossa vida vai mudar;
1978: Como encontrar justiça e paz? (O livro de Amós);
1979: Bíblia, o livro da criação (Gênesis 1—11);
1980: Buscamos uma nova terra (História de José do Egito);
1981: Que todos tenham vida! (Carta aberta de Tiago);
1982: Que sabedoria é esta? (As Parábolas);
1983: Esperança de um povo que luta (O Apocalipse de São João);
1984: O caminho feito pela palavra (Os Atos dos Apóstolos);
1985: Rute, uma história da Bíblia – Pão, família e terra (O livro de Rute);
1986: Bíblia, o livro da Aliança (Êxodo 19—24);
1987: Homem de Deus, homem do povo (O livro do Profeta Elias);
1988: Salmos, a oração do povo que luta (O livro dos Salmos);
1989: Jesus: palavra e pão (Evangelho segundo João, capítulo 6);
1990: Mulheres celebrando a libertação (Cantos de Míriam, Débora, Ana e Maria);
1991: Paulo, trabalhador e evangelizador (Vida e viagens de Paulo);
1992: Jeremias, profeta desde jovem (O livro de Jeremias);
1993: A força do povo peregrino sem lar, sem terra (Primeira Carta de Pedro);
1994: Cântico: uma poesia de amor (O livro do Cântico dos Cânticos);
1995: Com Jesus na contramão (Sobre a pessoa de Jesus nos Evangelhos);
1996: Jó, o povo sofredor (O livro de Jó);
1997: Curso Bíblico Popular – Evangelho segundo Marcos;
1998: Curso Bíblico Popular – Evangelho segundo Lucas;
1999: Curso Bíblico Popular – Evangelho segundo Mateus;
2000: Luz para as Comunidades (Evangelho segundo João);
2001: E todos repartiam o pão... (Atos dos Apóstolos 1—15);
2002: Evangelizar um mundo hostil (Atos dos Apóstolos 16—28);
2003: Curso Bíblico Popular – As Cartas de Pedro;
2004: Reviver na ternura e na misericórdia (Profeta Oséias e o Evangelho segundo Mateus);
2005: Sonhar de novo (Uma releitura do Segundo e Terceiro Isaías, a partir de Jesus);
2006: Come teu pão com alegria! (O livro do Eclesiastes);
2007: Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom (Gênesis 1—11);
2008: A caridade sustenta a comunidade (Introdução ao estudo da Primeira Carta aos Coríntios);
2009: Carta do Coração (Introdução ao estudo da Carta aos Filipenses);
2010: Levanta-te, vai à grande cidade (Jn 1,2) (Introdução ao estudo do Profeta Jonas)

Por aí vemos que O “Mês da Bíblia” é um tempo especial para que sejam criados novos grupos de reflexão e para manter os já existentes e, conseqüentemente, ajudar a perceber que a Palavra de Deus é eficaz na formação da comunidade, como nos mostra o profeta: “assim acontece com a minha palavra que sai da minha boca: ela não volta pra mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,10-11). O Frei Carlos Mesters, carmelita holandês, doutor em Teologia Bíblica e um dos principais exegetas bíblicos do método histórico-crítico no Brasil afirma que: “o Mês da Bíblia não é mais um movimento, mas uma pastoral na Igreja”.

Podemos afirmar seguramente que a partir do “Mês da Bíblia” o povo passou a perceber a importância da leitura, do estudo e da contemplação das Sagradas Escrituras. Na verdade, contribuiu-se muito para o desenvolvimento da Pastoral Bíblica no âmbito paroquial e diocesano.

Por isso, é importante e necessário que cada Paróquia crie a “Escola Bíblica”, a fim de atender, além daqueles objetivos do encontro de Belo Horizonte, as mais recentes e pertinentes linhas de ação do Magistério eclesial. Quanto às orientações, o Magistério aponta as seguintes:

• “O discípulo, fundamentado assim na rocha da Palavra de Deus, sente-se motivado a levar a Boa Nova da salvação a seus irmãos. Discipulado e missão são como as duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só ele nos salva” (DAp, n. 146);

• “Toda paróquia é chamada a ser o espaço onde se recebe e se acolhe a Palavra. (...). Sua própria renovação exige que se deixe iluminar de novo e sempre pela Palavra viva e eficaz” (DAp, n. 172);

• “As comunidades eclesiais de base, no seguimento missionário de Jesus, têm a Palavra de Deus como fonte de sua espiritualidade, como farol de seu caminho e de sua atuação na única Igreja de Cristo” (DAp, nn. 179-180);

• “Encontramos Jesus (também) na Sagrada Escritura, lida na Igreja. (...). Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo” (DAp, n. 247);

• “A proclamação da Palavra de Deus pela Igreja é decisiva para a fé do cristão. (...). É através da pregação do quérigma que acontece um autêntico encontro com Jesus Cristo; por isso ele deve ser uma oferta imprescindível a todos” (Doc. da CNBB, 87, n. 61; DAp, 226a);

• “O anúncio e a acolhida da Palavra são, portanto, fundamentais para a vida e a missão da Igreja e ocupam lugar central na liturgia. (...). A proclamação da Palavra na liturgia torna-se para os fiéis a primeira e fundamental escola da fé” (Doc. da CNBB, 87, n. 62);

• “O ministério da Palavra exige o ministério da Catequese a todos, porque fortalece a conversão inicial e permite que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na missão em meio ao mundo que os desafia” (CNBB, 87, n. 64);

• É pela pregação da Palavra que todos podem ter acesso à fé e à salvação (Cf. Rom 10,17). (...). O ministério da Palavra, pelo chamado do Espírito, revela-se no carisma da profecia. (...). Profecia e martírio são legados da memória da Igreja chamada a testemunhar, com coragem e liberdade, a Palavra que defende a vida e julga os poderes deste mundo (Doc. da CNBB, 87, n. 66);

E no que se refere às propostas, o Magistério eclesial indica as seguintes:

• Desenvolver “uma pastoral que leve em consideração a beleza no anúncio da Palavra” (DAp, n. 512L);

• Que se “difunda a Palavra de Deus, anuncie-a com alegria e ousadia e realize a formação dos leigos” (DAp, n. 517h);

• Diante dos “que deixaram a Igreja para se unir a outros grupos religiosos”, em nossa Igreja devemos reforçar quatro eixos, entre os quais, a formação bíblico-doutrinal: “nossos fiéis precisam aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus e os conteúdos da fé, visto que esta é a única maneira de amadurecer sua experiência religiosa” (DAp, n. 226c);

• “Por isso, a importância de uma ‘pastoral bíblica’, entendida como animação bíblica da pastoral, que seja escola de interpretação ou conhecimento da Palavra, de comunhão com Jesus ou oração com a Palavra e de evangelização inculturada ou de proclamação da Palavra” (DAp, n. 248; Doc. da CNBB, 87, n. 63);

• “Seja incentivada a prática dos círculos bíblicos ou da s reuniões de grupo, com a partilha da vivência da Palavra para a edificação mútua, de modo que a Palavra de Deus ilumine a realidade vivida pelos participantes, animando-as e despertando-as para o compromisso evangélico a serviço do Reino de Deus” (Doc. da CNBB, 87, n. 63);

• “Aos fiéis leigos continuem sendo oferecidas oportunidades de formação bíblico-teológica, o que exige uma renovação da pastoral catequética nas paróquias” (Doc. da CNBB, 87, n. 65);

Face à exigência do estudo da Palavra de Deus, aconteceu, de 5-26/10/08, no Vaticano, a Assembléia Geral Ordinária do Sínodo sobre a Palavra de Deus, abordando o tema: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Ao encerrar este Sínodo, o papa Bento XVI, em sua homilia, apontou algumas luzes a serem assumidas com urgência:

• “A tarefa prioritária da Igreja, no início deste novo milênio, é antes de tudo alimentar-se da Palavra de Deus, para tornar eficaz o compromisso da nova evangelização, do anúncio nos nossos tempos. Isto exige em primeiro lugar um conhecimento mais íntimo de Cristo e uma escuta sempre dócil da sua palavra”;

• “A plenitude da Lei, como de todas as Escrituras divinas, é o amor. Portanto, quem pensa que compreendeu as Escrituras, ou pelo menos uma parte delas, sem se comprometer a construir, mediante a sua inteligência, o duplo amor de Deus e do próximo, na realidade demonstra que ainda está longe de ter compreendido o seu sentido profundo”;

• “Torna-se indispensável uma promoção pastoral robusta e crível do conhecimento da Sagrada Escritura, para anunciar, celebrar e viver a Palavra na comunidade cristã, dialogando com as culturas do nosso tempo”;

• “O lugar privilegiado no qual ressoa a Palavra de Deus, que edifica a Igreja, (...), é sem dúvida a Liturgia. Nela sobressai que a Bíblia é o livro de um povo e para um povo”.

No âmbito do Sínodo, ao tratar da “Pastoral bíblica”, os Padres Sinodais explicitaram que “os Bispos devem ser os primeiros promotores desta dinâmica nas suas dioceses. Para anunciar a Palavra, para a anunciar de maneira credível, o Bispo deve nutrir-se, ele em primeiro lugar, da Palavra de Deus, de forma que possa sustentar e tornar cada vez mais fecundo o seu próprio ministério episcopal. O Sínodo recomenda que se intensifique a “pastoral bíblica”, não justapondo-a a outras formas de pastoral, mas como animação bíblica de toda a pastoral. Guiados pelos seus pastores, todos os batizados participam da missão da Igreja” (Proposição n. 30).

Seguidamente, em vista das orientações e propostas do Magistério da Igreja na América Latina e Caribe, e do Sínodo sobre a Palavra de Deus, realizou-se, dos dias 9-12/07/2009, o “Primeiro Encontro Latino-Americano de Animação Bíblica da Pastoral”, em Bogotá, na Colômbia, com o tema: “A Palavra de vida, fonte de discipulado e missão”. Ao final do Encontro, foi lançada uma “mensagem”, na qual se destaca, como imperativo, “que os fiéis tenham amplo acesso à Palavra de Deus (Cf. DV, n. 22), adquirindo, antes de tudo, o livro da Bíblia e contando com subsídios que lhes permitam iniciar-se em sua leitura, para que alcancem a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo, Palavra encarnada do Pai, centro de toda a Escritura (Cf. Jo 5,39)”.

Percebemos assim que não estamos sozinhos e errantes. Caminhamos como Igreja e com a Igreja, buscando sempre nos colocar na ótica de Jesus que escolheu os seus discípulos “para que estivessem com ele e para enviá-los a pregar” (Mc 3,14), dando-lhes o mandato: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15; Cf. Mt 28,19). Daí que a decisão do apóstolo deve ser também a nossa: “Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16). Mas para que este intuito bem se realize, precisamos nos preparar mais, homens e mulheres, casais e jovens, buscando o exemplo do servo Apolo, “homem eloqüente e versado nas Escrituras, que tinha sido instruído no caminho do Senhor e, no fervor do Espírito, falava com intrepidez (no grego: parresía) e ensinava com exatidão o que se refere a Jesus” (At 18,25).

Neste ano, durante o mês de setembro, o “Mês da Bíblia”, a Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, juntamente com as Instituições Bíblicas existentes, propõe para o estudo e a meditação o Livro do profeta Jonas, dando destaque para a evangelização e a missão na cidade, no meio urbano, motivados pela ordem divina: “Levante-se e vá a Nínive, a grande cidade, e anuncie aí que a maldade dela chegou até mim” (Jn 1,2).

Aqui na paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, vamos inaugurar a “Escola Bíblica” no dia 2 de setembro, que funcionará todas as terças-feiras, das 19h às 20h30. E pretendemos encerrar o “Mês da Bíblia” com um grande encontro de todas as comunidades da Paróquia para estudarmos o livro do “Profeta Jonas”, a fim de sermos comunidades mais alegres, fervorosas, comprometidas, e verdadeiramente missionárias.

Assim, espero que esta “primavera bíblica” floresça a cada dia, com mais e mais pessoas participando da “Escola Bíblica”, como ocorria nos primórdios da igreja, quando “o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos” (At 2,47). Porém, isto só se realizará melhor se cada um se fizer verdadeiro “amante da Palavra” (DAp, n. 292), e tomar consciência que o estudo bíblico não é uma mera extensão na vida da comunidade, mas uma “prioridade da Igreja” (João Paulo II. Novo millennio ineunte, n. 40). Porque somente “devido à animação bíblica da pastoral, aumenta o conhecimento da Palavra de Deus e do amor por ela” (DAp, n. 99a). Ai, sim, estaremos aptos a “levantar” e “ir” profetizar, em atenção à ordem de Deus, anunciando-o como o Deus vivo e verdadeiro, “compassivo, clemente e cheio de amor” (Jn 4,2b).

segunda-feira, 5 de abril de 2010

MINHA DESPEDIDA DE MIRANDA (4/04/10)

Pe. Paulo Nunes de Araujo


UM TEMPO PARA CHEGAR E UM TEMPO PARA PARTIR


Caros irmãos e irmãs aqui presentes, queridos rádio-ouvintes. Assim diz "Aquele que fala à assembléia”, o Cohélet ou Eclesiastes: “Há um momento para tudo, e um tempo certo para cada coisa debaixo do céu. Tempo para nascer, e tempo para morrer. Tempo para plantar, e tempo para colher. Tempo para destruir, e tempo para construir. Tempo para chorar, e tempo para rir. Tempo para abraçar, e tempo para separar-se. Tempo para procurar, e tempo para perder. Tempo para calar e tempo para falar. Tempo para a guerra, e tempo para a paz” (Ecl 3,1-2.3b.4a.5b-6a.7b.8a).

Percebemos aí que a palavra-chave é “tempo”. Segundo o poeta argentino Martin Fierro, o tempo é “a tardança daquilo que está por vir”, mostrando que o tempo é um processo que se realiza do futuro para o presente. Realmente, o que passou é graça, é dádiva; a nossa expectativa é com o que está por vir. É em função do futuro que nos preparamos, nos entusiasmamos, contamos com o apoio outro, e pedimos as bênçãos de Deus, como nos ensina o apóstolo Paulo: “esqueço-me do que fica pra trás e avanço para o que está na frente. Lanço-me em direção à meta” (Fl 3,13).

Depois de dezesseis meses (1º/11/2008 a 4/04/2010) de boa convivência humana e primorosa solicitude pastoral aqui na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em estreita colaboração com o Pe. Altair Rossati, amigo de presbitério e irmão de sacerdócio, e de auxílio à Diocese de Jardim, tomo a liberdade de acrescentar ao texto do Eclesiastes, que há também um tempo para chegar e um tempo para partir. É preciso assumir mais um novo desafio pastoral, ciente que “nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado” (Albert Einstein, físico alemão).

Assim, em atenção ao telefonema de Dom Jorge Alves Bezerra, no dia 3/03, às 13h46, fui à cidade de Jardim com o intuito de conversar com ele, no dia 8/03, às 10h. Após um agradável e generoso diálogo, Dom Jorge conferiu-me o cuidado pastoral da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro como Administrador Paroquial, na cidade de Caracol, MS, com unânime aprovação do Conselho Presbiteral e do Colégio de Consultores desta Diocese de Jardim. E definiu o dia 4 de abril (Páscoa do Senhor) como a data da minha nomeação, durante a Santa Missa das 19h.

Honestamente, é uma missão que muito me lisonjeia e honra, pela confiança a mim depositada. Mas é com humilde disposição que procurarei servir aquela “porção do Povo de Deus” (Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, de 21/11/1954, n. 23), com a clara consciência que o evangelho, a igreja e reino pertencem à Jesus. Por isso, como dizia João Batista, “é necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30).

Nesse tempo de atuação aqui em Miranda, busquei sempre, com autenticidade, ser do jeito que eu sou, com minhas qualidades e qualificações, fraquezas e limitações, até porque “o presbítero, antes de tudo é pessoa humana” (Documento da CNBB, 75, n. 4). Já nos primórdios da Igreja, o apóstolo Paulo ensinava que “trazemos este tesouro (Jesus) em vasos de argila (nossa quebrantabilidade)” (2Cor 4,7). Recordo também, dentro do espírito deste Ano Sacerdotal, São João Maria Vianney, o padroeiro dos padres, que dizia: “Se ao morrer me desse conta de que não existe nada de positivo e de que errei durante toda a minha vida, isso não mudaria nada para mim. Ficaria feliz por ter errado acreditando sempre no Amor”.

Cito ainda o psiquiatra norte-americano David D. Burns, que na lida com os seus filhos, admitiu o seguinte: “fiquei surpreso ao saber que me amavam mais por eu ser capaz de admitir erros, pois aí eu ficava mais humano” porque, conclui ele, “somos mais inteiros (íntegros) quando sentimos falta de algo”. No horizonte da fé cristã, esse “algo” é a graça de Deus. Ninguém se basta a si mesmo. Sabemos que a graça de Deus é abundante (Cf. Rm 5,20), mas “a graça supõe a natureza. E a aperfeiçoa” (Sto. Tomás de Aquino), ou seja, a graça se edifica na natureza, e a natureza humana é falha. Assim sendo, somos sempre carentes da graça divina. É ela que nos completa, nos torna inteiros, nos aperfeiçoa.

Porém, sempre assumi a minha pequenez na confiança do salmista: “Senhor, não te lembres de meus desvios, nem dos pecados da minha juventude. Lembra-te de mim, conforme o teu amor” (Sl 25/24,7), e na humildade do apóstolo Paulo: “pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça em mim dispensada não foi estéril” (1Cor 15,9-10a).

Assim sendo, parto desta Paróquia com a consciência tranqüila e serena de quem cumpriu o seu dever (veja as fotos neste meu blog). De fato, no que se refere à pastoral ordinária, ministrei 503 Missas, 42 batizados, 6 casamentos, e 12 Primeiras Comunhões, além de dezenas de unções aos enfermos e centenas de confissões. Afora isso, contribui na produção de diversos subsídios para os “grupos de reflexão” e a Grande Semana Missionária, proferi várias palestras para a formação de lideranças e agentes de pastoral. Nesse bojo, destaco ainda a criação da Escola Bíblia Paroquial e o lançamento do meu livro: “Conhecer e praticar a Palavra de Deus”, o qual já está na sua segunda edição. Tudo isso em profunda comunhão com o Magistério da Igreja e em atenção cuidadosa a “integridade da doutrina” (Cf. 1Tm 1,3; 4,6; 6,3-4.20; 2Tm 1,14; 4,3; Tt 1,9; 2,1.7; 3,8; Gl 1,7-10).

Neste momento, faço minhas as palavras do apóstolo Paulo aos presbíteros de Éfeso: “Vós bem sabeis como procedi para convosco todo o tempo, desde o dia em que cheguei... Eu servi ao Senhor com toda humildade, com lágrimas, e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas... E nada do que vos pudesse ser útil eu negligenciei de anunciar-vos e ensinar-vos, em público e pelas casas. Pois não me esquivei de vos anunciar todo o desígnio de Deus para vós... Em tudo vos mostrei que é afatigando-nos assim que devemos ajudar os fracos, tendo presentes as palavras do Senhor Jesus, que disse: ‘há mais felicidade em dar do que em receber’” (At 20,18b-20.27.35).

A Dom Jorge Alves Bezerra, que realmente acolheu-me como “filho e amigo” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 28; Cf. Decreto Christus Dominus, sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja, de 28/10/1965, n. 16; Catecismo da Igreja Católica, n. 1567), desde o dia 13/11/2008, quando fui conversar com ele em Jardim, a minha altíssima gratidão e respeito. À minha família (mãe e irmãos), que me acolheu em casa, muitas vezes sem entender direito as minhas circunstâncias, o meu sincero amor, uma dívida que jamais conseguirei pagar (Cf. Rm 13,8a). Ao Pe. Altair Rossati Ferreira, que se mostrou verdadeiro “amigo e irmão”, conforme a “Pastoral Presbiteral” pede, a minha elevadíssima estima, o que também é extensivo aos outros colegas deste presbitério. Enfim, a todos os paroquianos e paroquianas, o meu profundo e cordial reconhecimento; que Deus lhes pague por tudo.

Para concluir, retomo aqui as palavras do papa Bento XVI, na ocasião da sua eleição, a 19/04/2005, pois também me coloco como “um simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor”. Por isso, seguindo as palavras do papa, “consola-me o fato de que o Senhor sabe trabalhar e atuar com instrumentos tão insuficientes e, sobretudo, confio em vossas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado, confiados em sua ajuda permanente, sigamos adiante. O Senhor nos ajudará. Maria, sua santíssima Mãe, está do nosso lado”. Muito obrigado!

sábado, 3 de abril de 2010

BREVE AVALIAÇÃO PASTORAL

Pe. Paulo Nunes de Araujo

Caros paroquianos e paroquianas, fiéis leitores e leitoras deste meu blog. O intuito deste artigo é apresentar uma breve avaliação da minha colaboração pastoral na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Miranda, diocese de Jardim, MS.

A Paróquia Nossa Senhora do Carmo, é fortemente caracterizada por sua vasta extensão territorial (cerca de 180 km de norte a sul e 50 km de leste a oeste) e pelo seu grande número de comunidades, trinta ao todo, assim distribuídas: cinco na área urbana, incluindo a Matriz, dezesseis na área rural, e nove na área indígena.

Somando-se a isso, outros fatores igualmente relevantes, tornam difícil o trabalho pastoral, como o clima extremamente quente, peculiar à região pantaneira (girando entre 30 a 40°C), as distâncias dos moradores das capelas, a realidade sofrida do povo em geral (desemprego, subemprego, falta de oportunidades), gerando certo desalento.

Considerando toda essa conjuntura, assevero que a ação missionária paroquial foi intensa e levada a efeito em todas as trinta comunidades da Paróquia. Evidentemente, o cuidado foi redobrado sobre as comunidades mais distantes, como as localizadas nas áreas indígenas e rurais, atendendo naturalmente as palavras de Jesus: “Vão primeiro as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10,6). Assim sendo, ao longo desses dezesseis meses (1º/11/2008 a 4/04/2010) de colaboração com o Pe. Altair, com a Diocese de Jardim, e de serviço desprendido ao Reino de Jesus, eu avalio como altamente satisfatório o atendimento pastoral na Paróquia, principalmente no que se refere à pastoral ordinária. Pois afirmo que cada comunidade teve a graça de receber todos os meses, ininterruptamente, os vários Sacramentos, essencialmente os da iniciação e da vida cristã.

Assim sendo, durante esse tempo de ajuda, através do exercício do meu Ministério e tendo observado rigorosamente a minha “Agenda Pastoral”, totalizei o seguinte resultado: ministrei 503 Missas, 42 batizados, 6 casamentos, e 12 Primeiras Comunhões, além de dezenas de unções aos enfermos e centenas de confissões, como se pode ver em detalhe:


a) Nas cinco comunidades urbanas:

1. Nossa Senhora do Carmo (Matriz), no Centro (121 Missas, 20 batizados e 4 casamentos);
2. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Bairro Cohab (15 Missas);
3. Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Nª Sª Aparecida (20 Missas e 3 batizados);
4. Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Baiazinha (21 Missas e 1 batizado);
5. Nossa Senhora do Rosário, no Bairro Maria do Rosário (14 Missas).


b) Nas dezesseis comunidades rurais:

1. Nossa Senhora Aparecida, no Imbirussu (14 Missas e 1 batizado);
2. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Duque Estrada (13 Missas, 2 batizados e 4 Primeiras Comunhões);
3. Nossa Senhora de Fátima, no Furriel Pires, BR 262 (16 Missas e 1 batizado);
4. Nossa Senhora Aparecida, no Carrapatinho (14 Missas e 2 batizados);
5. Nossa Senhora da Guia, na Bocâina (11 Missas e 1 batizado);
6. Imaculado Coração de Maria, na Cerâmica Nemer (11 Missas);
7. Nossa Senhora Aparecida, no Assentamento Tupã-Baê (11 Missas e 1 casamento);
8. São Sebastião, no Assentamento Bandeirantes (11 Missas);
9. São João Batista, no Furriel Pires (6 Missas);
10. São José, na Poeira 1 e 2 (10 Missas, 3 batizados e 8 Primeiras Comunhões);
11. Nossa Senhora Aparecida, no Passo das Lontras (11 Missas e 4 batizados);
12. São Francisco de Assis, na Fazenda Novo Horizonte (11 Missas);
13. Nossa Senhora Aparecida, na Fazenda Caiman (12 Missas);
14. Nossa Senhora Aparecida, na Colônia Paxixi (13 Missas);
15. São Francisco de Assis, na Fazenda San Francisco (14 Missas);
16. São Miguel Arcanjo, no Povoado Salobra (10 Missas e 2 batizados);


c) Nas nove comunidades indígenas:

1. Nossa Senhora Imaculada Conceição, na Aldeia Lalima (14 Missas);
2. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Aldeia Moreira (12 Missas);
3. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na Aldeia Cachoeirinha (20 Missas e 1 casamento);
4. Cristo Redentor, na Aldeia Morrinho (17 Missas e 3 batizados);
5. Nossa Senhora Aparecida, na Aldeia Passarinho (10 Missas e 4 batizados);
6. Nossa Senhora Imaculada Conceição, na Aldeia Campão-Babaçu (12 Missas e 5 batizados);
7. Santíssima Trindade, na Aldeia Lagoinha (13 Missas);
8. Nossa Senhora Aparecida, na Aldeia Argola (15 Missas e 6 batizados);
9. Nossa Senhora de Fátima, na Aldeia Mãe-Terra (11 Missas e 9 batizados).

Afora isso, nessa ocasião também colaborei vigorosamente na confecção de subsídios para os grupos de reflexão e oração, nas comunidades e setores da Paróquia, como: a cartilha para os encontros da primeira Grande Semana Missionária (23-30/11/2008), com o tema: “Fazei tudo o que meu Filho vos disser” (Jo 2,5); a cartilha da Novena de Natal em família – 2008, dentro do espírito das Santas Missões Populares, com o tema: “Com Maria missionária acolhemos o Menino Jesus”; a cartilha da Novena de Nossa Senhora do Carmo – 2009, com o tema: “Com Maria, somos igreja em missão” e o lema: “Sem Maria, a nossa festa não tem graça”; e a cartilha com os encontros para a segunda Grande Semana Missionária (22-29/11/2009), com o tema: “Vão e façam com que todos se tornem meus discípulos” (Mt 28,19).

Também foi altamente valioso o estudo da “Introdução ao estudo da Carta aos Filipenses”, nos dias 28-30/09/2009, como encerramento do mês da Bíblia. O evento contou com a afluência de cerca de oitenta pessoas realmente engajadas na vida paroquial, que participaram assiduamente, com muita animação.

O ponto alto desta minha avaliação foi a criação da Escola Bíblica Paroquial. No espaço de nove meses, as aulas de Bíblia ocorreram todas as semanas ininterruptamente, tanto na Comunidade Nª Sª Aparecida (Bairro Nª Sª Aparecida), que se iniciou com 90 alunos, e na Comunidade Nª Sª de Fátima (Bairro Baiazinha), com 26 alunos. Ou seja, as aulas se realizaram por 32 duas vezes, totalizando 64 horas/aula. O conteúdo das aulas foi o subsídio da CNBB: “Crescer na leitura da Bíblia” (Estudo – 86). Desse total de 116 alunos, 73 receberam o Certificado de aprovação, durante a Missa na Matriz, no dia 28/02, “por haverem participado satisfatoriamente do ciclo da Escola Bíblica Paroquial”, por terem tido ótima freqüência.

Em vista do bom êxito da Escola Bíblica, e como forma de os alunos e demais paroquianos terem e conservarem consigo o conteúdo dado em aulas, lancei o meu livro “Conhecer e praticar a Palavra de Deus”. Por ter sido algo inédito em Miranda, pois sou o primeiro padre a lançar um livro na história desta cidade, fantástica foi a festa de lançamento.

Ainda nesses dezesseis meses, tive a enorme satisfação de ajudar na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na cidade de Bodoquena. Lá, ministrei 4 Missas, uma das quais no encerramento da festa da Padroeira e 1 Casamento. Além disso, assessorei o Encontro de Formação para cerca de 60 jovens das Paróquias da “Forania Pantaneira” (30-31/05/09), onde falei sobre a “Introdução à Bíblia”, e um encontro com dezenas de lideranças da Comunidade Santa Luzia (15/11/09), onde tratei do tema: “Ser comunidade é nossa missão”, à luz da Carta de Paulo aos Filipenses.

Em vista do exposto, meu coração está agradecido por tudo, e por eu ter participado intimamente da trajetória das comunidades desta Paróquia, com a anuência de D. Jorge Alves Bezerra, o bispo diocesano e com o apoio, a amizade e a confiança do Pe. Altair Rossati, o pároco, o qual demonstrou total coerência com aquilo que a Pastoral Presbiteral pede, sobretudo neste Ano Sacerdotal. Por isso, afirmo reiteradamente que a caminhada foi bem sucedida. A semente boa foi lançada. Resta-nos confiar nas palavras do Mestre: “Outra parte (da semente) caiu em terra boa e deu fruto, brotando e crescendo: rendeu trinta, sessenta e até cem por um” (Mc 4,8). Por fim, deixo claro que nesta avaliação não tive a pretensão de “contar vantagem” calculando matematicamente a minha ação, mas sim expressar com honestidade o valor do meu trabalho e o respeito às pessoas que comigo caminharam. Porque a boa gratificação somente quem a dá é Jesus: “antes, fiquem alegres porque os nomes de vocês estão escritos no céu” (Lc 10,20b).

Com a bênção de Deus e a proteção da Virgem Maria, Nossa Senhora do Carmo

domingo, 28 de março de 2010

SEMANA SANTA


Pe. Paulo Nunes de Araujo



A “Semana Santa” surgiu já nos primórdios do cristianismo quando as comunidades cristãs em Jerusalém se reuniam, na sexta-feira e no sábado, por meio de rigoroso jejum, para relembrar o sofrimento e a morte de Jesus, ou seja, a fim de rememorar “os dias em que nos foi tirado o esposo” (diebus in quibus ablatus est sponsus: Cf. Mt 9,15; Mc 2,20). Desse modo, os cristãos se preparavam para a festa da Páscoa, no domingo, em que celebravam a memória da ressurreição de Jesus. Tempos depois, a prática do jejum passou a ser observada também na quarta-feira, “porque nesse dia começaram ‘os judeus’ a tramar a perda do Senhor” (propter initum a Iudaeis consilium de proditione Domini: Cf. Mc 3,6; 14,1-2; Lc 6,11; 19,47; 20,19a; 22,2), ou seja, nesse dia os “chefes judeus” decidiram prender Jesus. Tudo isso ocorria mais intensamente em Jerusalém porque possivelmente ali permaneciam mais vivas as lembranças dos últimos dias de Jesus.

Posteriormente, essas solenidades passaram a ser imitadas pelas Igrejas do Oriente e depois pelas Igrejas européias. Esses dias eram também de descanso para todos os servos e escravos. Em algumas Igrejas em Jerusalém eram celebradas, todas as noites, vigílias solenes com orações e leituras bíblicas, e também a eucaristia. Nesse processo evolutivo, em meados do século III, já se praticava o jejum em todos os dias da Semana Santa.

A importância dessa Semana que antecede a festa da Páscoa está comprovada nos diversos nomes que ela recebeu ao longo dos primeiros séculos: “Hebdomada Paschalis” (Semana da Páscoa); “Hebdomada Authentica” (Semana “sem comparação” ou que “tem uma importância toda sua, em si e por si mesma”); “Hebdomada Maior” (Semana Maior); e “Hebdomada Sancta” (Semana Santa), nome que vigora até hoje. As cerimônias litúrgicas particulares da Semana Santa começaram a se desenvolver a partir do século IV. Resumidamente, a Semana Santa assim se desdobra:


I. Domingo de Ramos e Paixão do Senhor.

Inicialmente, esse domingo chamava-se, em latim, Capitulavium (lavação das cabeças), porque nesse dia, os que iam ser batizados no sábado seguinte, participavam de uma cerimônia preparatória, quando suas cabeças eram solenemente lavadas. Esse domingo é marcado pela procissão de ramos, que começou a ser feita em Jerusalém, no século IV, para relembrar a entrada solene de Jesus, aclamado como Messias. Começava às treze horas, no Monte das Oliveiras. Não se tratava apenas de relembrar um fato do passado, mas de dar um testemunho público de fé em Jesus como o verdadeiro Rei e Salvador enviado. A partir daí, no correr da semana, precisamente na Quinta-feira, se iniciava o “Tríduo Pascal”.

1) Quinta-feira Santa.

Por volta do século V, esse dia chamava-se “Feria quinta in Coena Domini” (Quinta-feira da Ceia do Senhor). Em alguns lugares, chamava-se “Dia da Traição”. Costumava-se chamar também de Quinta-feira de “Endoenças” (corruptela popular do latim: indulgêntia: in­dulgências, daí: endoenças), que é o dia do perdão, do indulto, da expiação dos pecados, da clemência. No século VI, iniciou-se o costume de fazer neste dia a bênção dos óleos, a serem usados nos Sacramentos do Batismo, da Crisma e da Unção dos Enfermos. Nessa Missa dos Santos Óleos, celebra-se a instituição do Sacramento da Ordem.

A Quinta-feira Santa é marcada pela instituição da Eucaristia, a “Ceia do Senhor”, simbolizada pelo amor serviçal (o lava-pés). Desde o século VI, a cerimônia do “lava-pés” procura reproduzir ritualmente o gesto de Jesus que lavou os pés de seus discípulos, como prova de amor e disposição para servir (Cf. Jo 13,1-17). De fato, no Quarto Evangelho não encontramos a narrativa da instituição eucarística, mas a do ‘lava-pés’, para mostrar que Eucaristia é serviço. O lava-pés era chamado também de "Mandatum", para recordar o mandamento novo de Jesus (Cf. Jo 13,34-35; 15,9-15). Em Roma, o papa lavava os pés de treze pobres, aos quais tinha servido uma ceia. Para o papa Gregório I, conhecido como Gregório Magno (590-604), este 13º pobre seria o próprio Cristo disfarçado de mendigo.

Também na Quinta-feira Santa, celebramos a instituição do Sacerdócio ministerial, que neste ano, terá para toda a Igreja um significado muito especial, por estarmos exatamente dentro do Ano Sacerdotal (11/06/2009 a 11/06/2010), instituído pelo papa Bento XVI.

Atualmente, logo após a Eucaristia, o altar é deixado sem nenhuma toalha. Com este gesto simbólico, recordamos a denudação de Cristo antes de sua crucifixão. Além disso, o Santíssimo é transladado pra um lugar preparado à parte, a fim de levar os fiéis a fazerem algum momento de adoração, de vigília, meditando a hora difícil de Jesus no Jardim das Oliveiras e de oração por todos os que atualmente sofrem, pois neles, Jesus continua sofrendo.

2) Sexta-feira Santa.

Inicialmente, este dia chamava-se “Paraskeve” (do grego: paraskeué: preparação; ou, por extensão, “véspera do sábado”, sexta-feira). Segundo o evangelista João, é nesse dia que Jesus foi crucificado: “Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados” (Jo 19,31). Tertuliano (155-222), um dos mais importantes escritores eclesiásticos da antiguidade, deu-lhe o nome de “Dies Paschae” (Dia da Páscoa). Santo Ambrósio (340-397) chamava a Sexta-feira de “Dies amaritudinis” (Dia do amargor, da tristeza), por ser o grande dia de luto para a Igreja. Ainda hoje, também é chamada de Sexta-feira Maior. A liturgia deste dia é composta de três partes:

a) Liturgia da Palavra. A liturgia começa diretamente com leituras dos profetas, cantos e a leitura dialogada da Paixão. Em seguida, a Oração Universal, apresentando as necessidades da Igreja e do mundo. A tradição dessas orações, abandonada no século VI, foi retomada pela nova liturgia depois do Concílio Vaticano II, que acabou introduzindo em todas as Missas as assim chamadas “Oração dos fiéis” ou “Oração da assembléia”.

b) Adoração da Cruz. Quanto a isso, é preciso antes esclarecer: a palavra “adoração” significa apenas “veneração solene”. Adoração, no sentido próprio, pode ser prestada só a Deus. A cerimônia da Adoração da Cruz teve origem em Jerusalém, no século IV, depois que Constantino encontrou as relíquias da Cruz do Salvador. Aos poucos a cerimônia foi sendo adotada também por outras cidades onde havia relíquias da Cruz. Mais tarde, foi assumida por toda a Igreja. Prestando uma veneração especial à Cruz ou ao Crucifixo, manifestamos nossa fé no Cristo Redentor, que nos salvou por sua morte. Adorando a cruz, é ao Cristo que de fato adoramos, reconhecendo nele o Filho de Deus encarnado e oferecido em sacrifício por amor a nós. Portanto, o sentido desta “adoração” é contemplar Jesus que, morto na cruz, ascende, eleva-se dela.

c) Rito da Comunhão. Desde os primórdios, não foi costume celebrar a Missa na Sexta-feira Santa. A razão é que assim a Igreja manifesta seu luto pela morte do Salvador. Até o século VIII não havia nem mesmo a comunhão, que só aos poucos foi introduzida na liturgia do dia. Em l622, foi proibida a comunhão dos fiéis. Isso continuou até recentemente, quando foi reintroduzida, após o Concílio Vaticano II. É bom lembrar que neste dia não se consagram as hóstias, pois já foram consagradas na Quinta-feira Santa.

3) Sábado Santo - Vigília Pascal.

Para a Vigília Pascal convergem todas as celebrações da Semana Santa bem como as de todo o Ano Litúrgico. Na Vigília Pascal recordamos a grande noite de vigília do povo hebreu no Egito, aguardando a hora da libertação da escravidão do Egito, ou seja, relembramos a Páscoa (do hebraico: pessach: passagem) judaica (Cf. Ex 12). Na Vigília Pascal celebramos a nossa própria redenção pelo mistério da Ressurreição de Cristo. Na Ressurreição de Jesus realiza-se a grande Páscoa cristã, isto é, a Passagem da morte para a vida; do estado de perdição para o estado de salvação. É a vitória final de Deus, em Cristo, sobre o pecado, o mal e a própria morte. Cumpriu-se, assim, o que João Batista dissera acerca de Cristo: “No dia seguinte, João viu a Jesus que se aproximava dele. E disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo’” (Jo 1,29). Jesus é agora o novo Cordeiro Pascal, segundo o autor do Sermão aos Hebreus: “ele se manifestou uma vez por todas no fim dos tempos, para abolir o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9,26). No âmbito espiritual, nos apropriamos da graça desta passagem pelo Batismo. Por isso, a “liturgia batismal” tem aqui um lugar destacante.

A Vigília Pascal, que para Santo Agostinho (354-430) é “a mãe de todas as Vigílias”, é uma soleníssima celebração, muito rica de símbolos universais e de símbolos particulares: as trevas, o fogo, a luz, a água, o círio pascal, a cor alegre dos paramentos, as músicas. A celebração articula quatro partes e conclui com a Procissão da Ressurreição.

a) Celebração da Luz. Essa cerimônia começou a ser realizada de modo mais abrangente só a partir do século IX. Começa com a “bênção do fogo”, feita no pátio, à entrada da igreja. Antigamente, acendia-se o fogo, usando pedras friccionadas, já que na Quinta-feira, tinham sido apagadas todas as luzes da igreja. Isso constava no próprio ritual antigo da bênção do fogo “O Cristo é a pedra usada por Deus para acender em nós o fogo da claridade divina”. Para os antigos, esse simbolismo do Cristo que ilumina, aquece e é centro de vida, era mais significativo. Porque, na Sexta-feira Santa, costumava-se apagar o fogão e todas as luzes das casas. Era no “fogo novo” que cada família acendia uma lâmpada para levar para casa e acender tudo de novo.

Com Cristo ressuscitado, definitivamente a “Luz brilha nas trevas” (Jo 1,5). Recordamos aqui as palavras do próprio Jesus: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Jesus Ressuscitado garante que “a vida é a luz dos seres humanos” (Jo 1,4b). Assim, o círio pascal, que simboliza o Ressuscitado, é bento, aceso no “fogo novo” e conduzido em procissão para dentro da Igreja ainda às escuras, cantando por três vezes: Eis a luz de Cristo! Em seguida, é colocado fixo diante da assembléia. Os participantes são convidados a acenderem as suas velas, imitando aqueles servos de que fala o Evangelho (Lc 12,35-40), os quais esperam, vigilantes, “com as lâmpadas acesas”, o seu Senhor que os fará sentar à sua mesa. Esta parte se encerra cantando a Proclamação da Páscoa (o Precônio Pascal), o Exulte (do latim: Exultet), anunciando solenemente a vitória de Cristo. Não se sabe com certeza quando começou essa tradição litúrgica. Mas por volta do ano 384, já são encontradas referências a ela.

b) Liturgia da Palavra. Neste momento, são narrados os gestos maravilhosos que Deus realizou em favor do povo ao longo da história da humanidade, desde a Criação do mundo até o grande ato da “Nova Criação” conferida pela ressurreição de Cristo, início e primícias de um mundo novo. É uma verdadeira “passeada” pela Escritura e pelo Novo Testamento. Para nós, tudo isso é motivo de júbilo e de ação de graças. Ao cântico solene do Glória, pouco antes da proclamação do Evangelho, a Igreja escurecida torna-se, de repente, uma explosão de luz. Toda a assembléia canta alegre e vibrante, ao som dos instrumentos musicais e até do sino. Note-se que as várias leituras bíblicas são intercaladas por orações e aclamações, a última das quais é o canto do Aleluia pascal (do hebraico: hallelu-yah: louvem a Javé, adorem a Javé).

c) Liturgia Batismal. Se há batismo, entoa-se a “Ladainha” (do grego: litanéia: oração pública; e do latim: litania: oração breve e insistente, pedir insistentemente) dos Santos. O Cristianismo herdou da liturgia das sinagogas esta forma de rezar, repetindo a mesma frase várias vezes como se vê na Escritura (1Rs 18,39; Sl 136/135; 148; 150; Dn 3,52-90). A “ladainha dos santos” surgiu da “Oração dos fieis” (Séc. III), que constava duma lista de nomes de Santos, cuja memória era invocada por quem presidia a Missa. No início eram reverenciados os nomes de mártires, sobretudo os que testemunharam a fé em Roma. Com o tempo, a lista dos santos foi ampliada, tomando caráter de universalidade. A seguir, realiza-se a “bênção da água batismal”. O presidente da celebração mergulha o Círio pascal na água benta, para indicar que fomos sepultados na morte com Cristo e com ele ressuscitamos para a vida. Seguindo a bênção da água, passa-se para a “renovação das promessas do batismo”. Nos primeiros séculos da Igreja, era no Sábado Santo que se fazia o Batismo dos que, durante um bom tempo, tinham sido preparados para a admissão na comunidade. Os que já tinham abraçado a fé cristã, mas ainda estavam recebendo a catequese (do grego katechéo: derramar, verter para dentro de), chamavam-se catecúmenos (do grego kataskeuazómenoi: os iniciandos). Nessa noite de Vigília, eles recebiam as últimas instruções e ouviam com a comunidade leituras da Escritura, apropriadas para a circunstância. Para o Batismo, a água era abundantemente derramada sobre a cabeça dos novatos (do grego: neófitos: novas plantas; daí: iniciantes, novos, imaturos). Assim, se há batizandos, realiza-se o Sacramento do Batismo. E mesmo havendo batismo, é muito significativa a aspersão da água benta sobre toda a assembléia.

d) Liturgia Eucarística. Trata-se de uma celebração festiva, pois já se comemora a vitória sobre a morte: Jesus Ressuscitou! O Santíssimo que havia sido transladado pra um lugar preparado à parte, na Quinta-feira Santa, agora é trazido de volta para Tabernáculo na Igreja. Alimentando-nos do pão eucarístico que é Jesus, realimentamos as nossas forças e o nosso compromisso com a vida. Em muitos lugares, logo após a Celebração, o Santíssimo Sacramento é preparado para uma pequena procissão. De volta ao altar-mor, o presidente da Celebração abençoa todos os fiéis enquanto se canta o “Rainha dos Céus, alegrai-vos” (Regina Coeli, laetare), como se fosse um “parabéns” àquela que de “Senhora das Dores” transformou-se em “Senhora da Alegria”.

Ainda no que se refere ao “Tríduo Pascal”, é bom lembrar que não são três celebrações isoladas, ou três Missas, como a maioria das pessoas pensam e dizem. Notemos que a Celebração da Quinta-feira Santa começa com os “Ritos iniciais” e não conclui com os “Ritos finais”, apenas com a “Oração depois da comunhão” e com a “Transladação do Santíssimo”. A Celebração da Sexta-feira Santa, por sua vez, não é começada com os “Ritos iniciais” e nem terminada com os “Ritos finais”, mas apenas com a “Oração sobre o povo”, pois a Missa que começou na Quinta-feira, ainda continua. E no Sábado Santo, a Celebração também não começa com os “Ritos iniciais”, pois ainda é parte da Missa que deu início na Quinta-feira Santa. Aí, sim, concluída a Celebração da Vigília Pascal, o presidente da Missa vai encerrar o “Tríduo Pascal” com os “Ritos finais”. Podemos assim dizer que o “Tríduo Pascal” é uma grande Missa, uma “Missona”. O que a Igreja realiza de modo mais espichado no “Tríduo Pascal”, é realizado de modo mais breve nos Domingos comuns. Portanto, não é interessante “quebrar” a seqüência desta única Celebração pascal.


II. Páscoa da Ressurreição.

A Missa de Páscoa, no domingo, é a maior solenidade do ano. Até o século XI, era só nesse dia que os simples padres podiam cantar solenemente o “Glória a Deus nas alturas” (no latim: Gloria in excelsis Deo). Nesse momento do canto do Glória, como ainda hoje, novamente os sinos e o órgão irrompiam numa grande explosão de alegria. Cristo venceu a morte, também para nós existe a tranqüila garantia de vida e esperança.

Por isso, é muito importante que no Domingo pascal, a assembléia se reúna em torno de Cristo ressuscitado e presente no meio da comunidade. A tristeza, o desânimo e o medo, devem dar lugar à alegria e à esperança. Jesus venceu a morte para estar definitivamente junto e dentro de nós. Caso contrário, quem participa apenas da “Quinta-feira Santa”, ou só da “Sexta-feira Santa”, corre o risco de assimilar uma fé fracassada pela morte e de viver uma vida marcada pela resignação, pela alienação e inércia. É como se vivesse uma terrível e interminável Sexta-feira Santa, tanto na Igreja como na Sociedade. Para concluir, desejo a todos uma feliz e abençoada Páscoa.

domingo, 14 de março de 2010

NOVA EDIÇÃO DO LIVRO


Caros amigos e amigas, meus fiéis leitores e leitoras. Como sabem, no dia 28 próximo passado eu lancei o meu livro: "Conhecer e praticar a Palavra de Deus". Foi um sucesso! Já esgotou! Como a busca pelo livro ainda é grande, já viabilizei a segunda edição. Deverá estar pronto até o final deste mês.

Adquira o seu durante Semana Santa, ou na Secretaria Paroquial. Creio que será um ótimo presente de Páscoa, para você mesmo ou para alguém que você queira presentear. Dessa forma, será um presente para mim também, pois me servirá de incentivo, a fim de que eu venha a produzir tantos outros escritos.

Desde já, obrigado e fiquem com Deus.


Pe. Paulo Nunes

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

MISSA DE FORMATURA DOS ALUNOS DA ESCOLA BÍBLICA PAROQUIAL


Pe. Paulo Nunes de Araujo


Caros amigos e amigas, meus fiéis leitores e leitoras. A razão fundamental deste breve texto é expressar a minha enorme alegria pela formatura dos meus alunos da Escola Bíblica Paroquial, aqui na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Cidade de Miranda, Diocese de Jardim, MS.

Como já escrevi anteriormente neste blog, a Escola Bíblica Paroquial funcionou em dois locais: na Comunidade Nª Sª Aparecida (Bairro Nª Sª Aparecida) e na Comunidade Nª Sª de Fátima (Bairro Baiazinha), iniciando com um total geral de 116 alunos. Após nove meses de aulas semanais, totalizando 64 horas/aula de estudo sério do subsídio da CNBB: “Crescer na leitura da Bíblia” (Estudo de número 86), chegamos ao final desse período com 73 alunos e alunas aprovados. Um índice elevadíssimo de aproveitamento, diga-se de passagem. Estes, receberam ontem, ao final da Santa Missa das 19h, na Igreja Matiz, o Certificado de aprovação “por haverem participado satisfatoriamente do ciclo da Escola Bíblica Paroquial”.

Eu, na qualidade de assessor da Escola Bíblica Paroquial e Professor de Sagrada Escritura, tomei como critério para aprovação dos alunos, após uma acurada avaliação grupal, não só a assiduidade nas aulas, mas também o nível de participação e comprometimento na vida e missão da Paróquia. Da minha parte, fiquei muito feliz e satisfeito, pela caminhada que fizemos juntos e por ter atendido uma das prioridades da Diocese de Jardim, que é a formação das lideranças e agentes de pastoral.

Finalizo informando que as fotos da Santa Missa de formatura estão na sessão de fotos deste meu blog. Veja, aprecie e reze pela perseverança de todos os que concluíram esta etapa da caminhada e para que Deus continue me abençoando com inteligência e sabedoria para amar cada vez mais a sua Palavra, ensiná-la com retidão e, principalmente, vivê-la com alegria. Fiquem com Deus e muito obrigado!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

ESCOLA BÍBLICA PAROQUIAL

Pe. Paulo Nunes de Araujo


Formatura da primeira turma da Escola Bíblica Paroquial, na Cidade de Miranda, Diocese de Jardim, MS.



ESTES E SOMENTE ESTES SÃO OS ALUNOS APROVADOS CRITERIOSAMENTE E QUE RECEBERÃO O CERTIFICADO NA MISSA DAS 19h, DO DIA 21/02/2010,
NA IGREJA MATRIZ


1. Adelina Aparecida de Cássia
2. Amarildo Pereira Moraes
3. Aparecida de Souza Ferreira
4. Arildo Rodrigues Moraes
5. Arlene Carneiro Souto
6. Ataíde Faustino
7. Cacilda Nogueira
8. Cleusa Francisco da Silva
9. Crismary Amorim Alaman
10. Dilze de Lima Bentos
11. Edaci Chaves
12. Florivalda Silva Nogueira
13. Francisco Barbosa
14. Helena Cerqueira dos Santos
15. Ildemar Sebastião Colombo
16. Ilma José de Lima Valejo
17. Isolina Dias Cavallari
18. Jaci Franco Ramalho Amaral
19. Janaina de Souza Góes
20. João Paulo Teixeira Jarssen
21. José Aguiar
22. José Braz Sobrinho
23. José Oliveira da Costa
24. Josemar Adriano dos Santos Mussato
25. Julião Gonçalves
26. Karla Yhara Torroza Gonçalves
27. Kátia Delmira Veiga Lima
28. Lânia Rombi Fernandes
29. Laurita Maria R. Menezes
30. Lazara da Silva
31. Ligória Casanova Veiga
32. Lúcia Souza Timo
33. Luiz Virgínio dos Santos
34. Luisa Chaves dos Santos
35. Maria de Lourdes de Moura
36. Maria Diva Lima
37. Maria Luci de Souza
38. Maria Luiza Roberto da Silva Medeiros
39. Marilúcia Roberto da Silva
40. Mário de Freitas Menezes
41. Marivalda Antônia da Silva Padilha
42. Marlene de Moura Araújo
43. Mohara Albuquerque Rocha Launardi
44. Nayane Aparecida Batista
45. Nelson Sodré de Oliveira
46. Nilton Dias Miranda
47. Nívea Conceição de Lima
48. Olívia M. da C. Sobrinho
49. Priscila Carol Silva dos Santos
50. Ramona Ávila de Matos
51. Rita Marta Freitas Ojeda
52. Rosa de Souza Barros
53. Rosália Reis da Costa
54. Rosalina Oliveira Irala
55. Rosângela Aparecida Ferreira de Oliveira
56. Rosângela Teco
57. Ruy Machado Nogueira
58. Silvana de Lima Bentos da Silva
59. Silvaneis Fancisca Medeiro
60. Virginea Pinto da Silva Faustino
61. Wilma de Souza Mattos
62. Zenir Benites Carneiro





1. Amélia da Silva Aquino
2. Herculano Pereira de Carvalho Filho
3. Iara Vieira Damázio
4. Ilda Barbosa da Silva
5. Lourdes Benatti Chiodi
6. Marinho Faccin
7. Rita de Cássia Jodas Vicente de Carvalho
8. Rute Barbosa da Silva
9. Silene Freitas Ribeiro da Silva
10. Valdenir Olanda da Silva
11. Zenaide Menchote Mussato



OBS.: TODOS DEVERÃO COMPARECER PARA RECEBEREM O SEU CERTIFICADO. ATÉ LÁ!



PS. Aproveito o ensejo para avisar e convidar a todos os paroquianos para o lançamento do meu livro sobre Bíblia. Será no dia 28/02, após a Missa das 19h, no Salão de Pastoral Paroquial, com uma noite de autógrafos. Venha! Conto com a sua presença amiga e fraterna. Será para mim um grande incentivo.


Pe. Paulo Nunes

sábado, 30 de janeiro de 2010

"VENÇA O MAL COM O BEM" (Rm 12,21)


Pe. Paulo Nunes de Araujo


O mês de janeiro iniciou-se com o “Dia mundial da paz” e se encerra hoje com o “Dia da não-violência”, emoldurando significativamente todo o mês. São dois temas distintos, mas se conexam porque trazem por dentro os anseios mais profundos de toda a humanidade, de todas as épocas, e que devem perpassar por todo o ano que recém começou. Foi tomado o dia 30 porque nesta data, no ano de 1948, aos 78 anos de idade, morreu assassinado Mohandas Karamchand Gandhi, o "Mahatma" (do sânscrito: a “Grande Alma”) Gandhi, ilustre líder pacifista indiano, fundador do movimento de não-violência na Índia. Ao morrer, suas últimas palavras foram: “He Rama!” (“Oh, meu Deus!”). A partir daí, a figura de Gandhi tornou-se modelo mundial de líder e apóstolo da não-violência.

Hoje, passados 62 anos da morte de Gandhi, nos perguntamos: Por que o mundo continua tão violento? Por que as pessoas assimilam tão espontânea e facilmente a violência? Por que a trama da violência é muito mais fecunda e ágil do que a luta pelo bem?

A origem da violência até hoje é desconhecida, pois não dá para ser “medida” de modo convencional, e só é notada quando as pessoas se reúnem para dar vazão a esta surpreendente manifestação interior do ser humano. Para o Magistério da Igreja no Brasil, a situação é inquietante: “Preocupa-nos, como construtores da paz, que a vida social em convivência harmônica e pacífica está se deteriorando gravemente em nosso país pelo crescimento da violência, que banaliza a vida (...). A violência se reveste de várias formas e tem vários agentes (...). Suas causas são múltiplas e interdependentes, expressões diversas da ausência de Deus no coração de muitas pessoas. (...) Diante de tudo isso, nós, cristãos, não podemos nos calar” (CNBB. Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, 2008-2010. 46ª Assembléia geral. São Paulo: Paulinas, 2008, 87, n.35). Se as causas da violência são diversas, as suas conseqüências também o são, e sempre trazem consigo dor, angústia, ferimentos, sejam físicos ou na alma, e até morte!

Segundo Paulo Roberto Ceccarelli, doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise, “o aumento do ‘consumo da violência’ é fato notório: na mídia, o faturamento é garantido na exploração deste veio. Quase todas as emissoras de televisão têm programas onde a violência transborda: filmes, muitos deles à disposição de todos apresentados na ‘sessão da tarde’; programas onde acompanhamos, ao vivo, a polícia na perseguição de malfeitores; cenas reais de acidentes de carros, quedas de avião, incêndios e outras catástrofes. (...) Por outro lado, um breve passeio pela História da Humanidade nos ensina que a violência, em suas várias versões, sempre existiu: os conflitos, em maior ou melhor escala, são incontáveis; as rebeliões, as revoltas; enforcavam-se os criminosos em praça públicas, e tantas outras coisas. Entretanto, o que caracteriza a violência nos dias de hoje é que ela vem sendo utilizada como uma forma, às vezes a única, de dar vazão à crescente insatisfação social, que pode começar na própria casa, com a qual o indivíduo vê-se cotidianamente confrontado. (...) Cenas que evocam violência, agressividade, aquelas que sugerem relações baseadas na desconfiança, na falta de solidariedade e outras tantas, podem incentivar comportamentos e propor ‘valores éticos’ divergentes daqueles necessários para a construção de uma estrutura social calcada no respeito e no direito do cidadão.” (Violência e TV. Disponível em: <clique aqui>. Acesso em: 27 jan 2010).

Face a essa triste realidade, só podemos admitir que existe na sociedade uma “escola da violência”. Comumente as pessoas são estimuladas a isso. Além dos conteúdos que a "mídia" transmite, o uso escancarado de mini-câmera digital, celular com câmera, chaveiro espião, caneta espiã, micro-filmadora, etc., tão acessíveis no mercado de eletroeletrônicos acaba estendendo o percurso da violência. Porque esse material na mão de gente irresponsável, chantagista e vingativa é um perigo!

Assim sendo, percebemos que hoje em dia a violência está presente intolerantemente em todos os cantos, nos mais variados ambientes: na família (violência doméstica), na escola, nos locais de trabalho, nos “trotes” de calouros universitários, no trânsito, nos estádios de futebol, entre vizinhos, nos condomínios, na política, etc. E o circulo da violência aumenta a cada dia, e já não se prende à faixa etária dos jovens e adultos. Hoje, os noticiários dão notícias de delinqüências e homicídios cometidos por crianças de ate oito anos de idade.

Além dessas formas de violência, fala-se atualmente numa outra muito aterrorizante, o chamado “bullying”. A palavra “bully” é de origem inglesa e significa “valentão”. Para o cientista norueguês Dan Owelus, “o bullying se caracteriza por ser algo agressivo e negativo, executado repetidamente e que ocorre quando há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas” (Bullying. Disponível em: <clique aqui>. Acesso em: 26 jan 2010). Por ser uma palavra inglesa, o “bullying” pode ser relacionado a algumas ações que indicam sua presença: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences, etc. Em outras palavras, o “bullying” é uma forma de abuso psicológico, físico e social.

Assim sendo, esse comportamento pode ocorrer em todos e quaisquer contextos nos quais os seres humanos interagem e convivem, como: escolas (usando apelidos negativos e expressões pejorativas) e universidades (“trotes” humilhantes de calouros), no trabalho (atingindo a integridade e a confiança da vítima) ou até mesmo entre vizinhos (atitudes propositais e sistemáticas atrapalhando e incomodando os outros).

Segundo pesquisadores, os praticantes do “bullying”, geralmente são indivíduos que têm pouca empatia. Freqüentemente, pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros. Estudiosos de vários países afirmam que há grande possibilidade desses autores virem a ser, mais tarde, delinqüentes ou criminosos. As vítimas são pessoas ou grupos que sofrem as conseqüências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. Esses poderão crescer com sentimentos negativos, especialmente com baixa auto-estima, tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamento e, em casos extremos, alguns poderão tentar ou a cometer suicídio. E quanto as testemunhas, na maioria são os próprios alunos, que convivem com a violência e se calam em razão do temor de serem as “próximas vítimas”. Há enormes possibilidades de se tornarem pessoas tensas, inseguras e temerosas. (Cf. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA MULTIPROFISSIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA E À ADOLESCENCIA (ABRAPIA). Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Disponível em: <clique aqui>. Acesso em: 26 jan 2010).

Ainda dentro desse âmbito da violência, fala-se muito também do “cyberbullying”. Tristemente, “a prática do cyberbullying, ou intimidação virtual, representa um dos maiores riscos da internet para 16% dos jovens brasileiros conectados à rede. Isso é o que mostra uma pesquisa realizada no início de fevereiro deste ano pela Safernet, ONG de defesa dos direitos humanos na internet (...). Por conta dessa prática agressiva, o Dia da Internet Segura, realizado em 55 países no dia 9/02 deste ano, teve o tema “pense antes de postar”, com um alerta sobre os perigos das informações que são divulgadas de forma irresponsável na web” (DIA DA INTERNET SEGURA. Cyberbullying preocupa 16% dos internautas jovens no Brasil, 10/02/2010. Disponível em: <clique aqui>. Acesso em: 12 fev 2010).

Conforme notáveis juristas e advogados, os atos de “bullying” configuram atos ilícitos, exatamente por desrespeitarem princípios constitucionais, como a dignidade da pessoa humana. Porque “a base de todo o direito, a base de toda a sociedade é o ser humano. Sem nós, não há indústria, não há comércio, não há Judiciário, não há nada. E o maior bem do ser humano é a sua integridade física, emocional, estética, psicológica e moral. Se violada, essa agressão deve ser punida. A vida moderna só concebe essa punição através de uma indenização. E essa indenização tem que ser em valores que façam o infrator refletir e não repetir o erro” (VALEIXO NETO – ADVOCACIA DE INDENIZAÇÃO. Sobre a Valeixo. Disponível em: <clique aqui>. Acesso em 25 jan 2010).

Por conta disso, no campo civil, todos nós cidadãos e cidadãs, temos os nossos direitos garantidos pela Lei, e devemos fazê-los valer. O Código Penal Brasileiro, no Capítulo V, trata claramente “Dos crimes contra a honra”, a saber: a calúnia, a difamação e a injúria. Segundo o Código Penal, caluniar alguém é imputar-lhe falsamente fatos definidos como crime (Art. 138); difamar alguém é imputar-lhe fato ofensivo à sua reputação (Art. 139); e injuriar alguém é ofender-lhe a dignidade ou o decoro (Art. 140). E para cada um desses delitos, há uma pena correspondente, incluindo reclusão e/ou multa (indenização). No caso do “bullying”, a responsabilidade pela prática de tais atos torna-se enquadrada também no Código de Defesa do Consumidor. Uma escola, por exemplo, pode ser penalizada por qualquer ato de violência que ocorra nesse ambiente, porque ela presta serviço aos consumidores, os alunos, e deve zelar por sua segurança e tranqüilidade.

E aqui vale lembrar o ilustre líder africano, principal representante do movimento anti-apartheid, advogado e ex-presidente da África do Sul, prêmio Nobel da Paz em 1993, Nelson Rolihlahla Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”. Lembremo-nos também de Martin Luther King, abalizado ativista político estadunidense na defesa dos direitos humanos, principalmente para negros e mulheres, através de uma campanha de não-violência e de amor para com o próximo, e prêmio Nobel da Paz em 1964. Segundo ele, “Uma das coisas importantes da não-violência é que não busca destruir a pessoa, mas transformá-la”.

Porém, insubstituível é a pedagogia de Jesus: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons; porque toda árvore é conhecida pelos seus frutos” (Lc 6,43-44b). Conseqüentemente, “o homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, mas o homem mau tira do seu mau tesouro coisas más, porque a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Lc 6,45).

Seguindo a esteira das grandes figuras histórica que deram a vida por um mundo mais justo e humano, de paz e sem violência (Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Martin Luther King, Dom Hélder Câmara, o “Profeta da Paz”, Dom Oscar Romero, cujo serviço sacerdotal à Igreja ficou assinalado com a imolação da sua vida, enquanto oferecia a Vitima Eucarística, “sacrílego assassínio”, no dizer do papa João Paulo II, o qual recebeu a notícia de sua morte com a alma trespassada de dor e tristeza), inquestionavelmente não poderíamos deixar de mencionar a médica brasileira, Zilda Arns, que morreu sucumbida sob as ruínas do terremoto que assolou a cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, no Caribe, dia 12 deste mês.

Mas quem realmente pode dizer algo consistente e verdadeiro a respeito da Dra. Zilda Arns é o eminente teólogo brasileiro Leonardo Boff, seu amigo pessoal. Escreveu ele: “Talvez a opinião pública mundial não se tenha dado conta da importância desta mulher que, em 2006, foi apontada como candidata ao prêmio Nobel da Paz. E bem que o merecia, pois dedicou toda sua vida à saúde das pessoas mais vulneráveis. Por 25 anos coordenou a Pastoral da Criança acompanhando mais de um milhão e 800 mil menores de cinco anos e mais de um milhão e 400 famílias pobres. A partir de 2004, iniciou a Pastoral da Pessoa Idosa com mais de cem mil idosos envolvidos. Com meios simples, como o soro caseiro, o alimento à base da multimistura e outros recursos mínimos, salvou milhares de crianças que antes fatalmente morriam. (...) A Dra. Zilda honrou o cristianismo, vivendo uma mística de amor à humanidade sofredora, de esperança de que sempre se pode fazer alguma coisa para salvar vidas, de fé na força dos fracos que se organizam e na escuta de todos até das crianças que ainda não falam. (...) Para isso, ela suscitou a sensibilidade humanitária que se esconde em cada pessoa e inaugurou a política da boa vontade. (...) Uma idéia-geradora movia sua ação, copiada da prática de Jesus: multiplicar. Não apenas pães e peixes como Ele fez, mas, nas condições de hoje, multiplicar o saber, a solidariedade e os esforços. (...) Ora, são estes conteúdos do capital espiritual que devem estar na base da nova sociedade mundial que importa gestar. O século XXI será o século do cuidado pela vida e pela Terra ou será o século de nossa auto-destruição. Até agora globalizamos a economia e as comunicações. Temos que globalizar a consciência planetária e multiplicar o saber útil à vida, a solidariedade universal, os esforços que visam construir aquilo que ainda não foi ensaiado. Amor e solidariedade não entram nas estatísticas nem nos cálculos econômicos. Mas são eles que mais buscamos e que nos podem salvar” (O legado profético de Zilda Arns, 19/01/2010. Disponível em: <clique aqui>. Acesso em 23 jan 2010. Os realces gráficos são meus).

Sabemos que o amor, a justiça e a paz dependem da boa convivência entre os seres humanos neste mundo tão multi-étnico e pluricultural. Onde isso não acontece, a violência se intensifica e toma conta. Atualmente, pela força da mídia massiva, a violência tornou-se um assunto espetacular que alimenta os noticiários, sendo cada vez mais banalizada.

Mas venturosas já são as muitas iniciativas vindas de vários setores da sociedade para enfrentar o problema da violência. As respostas para esse fenômeno têm se mostrado múltiplas, abrangendo uma série de medidas, nos mais diversos níveis. Contudo, temos a impressão de que não avançamos. Sempre que surgem atos de violência, as discussões sobre o tema se intensificam. Mas aos poucos, tudo se abranda e quase não se fala mais no assunto até explodir uma outra ocorrência. Isto porque normalmente procuramos combater os frutos sem ir à raiz mais profunda da questão.

Em face disso, no próximo dia 17 (Quarta-feira de Cinzas), as Igrejas do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), por exemplo, lançarão a Campanha da Fraternidade Ecumênica, a qual terá como tema: “Economia e Vida” e como lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24c). O objetivo geral dessa CFE é bem preciso: “Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão”.

É mais uma iniciativa ajuntando esforços das Igrejas cristãs e pessoas de boa vontade, a fim de contribuir para a construção do bem comum em vista de uma sociedade nova, com espaço e oportunidade para que todos possam viver felizes. Se as várias religiões e diferentes igrejas não trabalharem unidas num diálogo franco e construtivo, nossa paz continuará ameaçada e o nosso destino comprometido. As igrejas e religiões no seu testemunho comum devem motivar um re-encantamento com o mistério da vida e a integridade do planeta, nossa única casa comum aqui.

Diz o profeta que “o fruto da justiça será a paz, e a obra da justiça constituirá na tranqüilidade e na segurança para sempre” (Is 32,17). Dentro disso, uma economia solidária a serviço da vida torna-se indispensável para evitar a exclusão e a violência. Assim, a tão sonhada “cultura de paz” depende da cooperação, da solidariedade, do amor e da vigilância que as pessoas e as instituições mantiverem sobre a outra dimensão, igualmente presente, de rivalidade, de egoísmo e de exclusão. Nesse caso, nos ajudará bastante a atenção aos objetivos específicos da referida CFE – 2010: a) Sensibilizar a sociedade sobre a importância de valorizar todas as pessoas que a constituem; b) Buscar a superação do consumismo, que faz com que ‘ter’ seja mais importante do que as pessoas; c) Criar laços entre as pessoas de convivência mais próxima em vista do conhecimento mútuo e da superação tanto do individualismo como das dificuldades pessoais; d) Mostrar a relação entre fé e vida, a partir da prática da justiça como dimensão constitutiva do anúncio do evangelho; e) Reconhecer as responsabilidades individuais diante dos problemas decorrentes da vida econômica, em vista da própria conversão.

Em vista de todo o exposto acima, para nós que cremos em Jesus, o Mestre por excelência da não-violência, devemos compreender que é ele quem nos dá o ensinamento maior. Diante da exigência da vida e da violência que a ameaça, ele nos convida a tomarmos uma inteligente e firme decisão: “fazer o bem ou fazer o mal?” (Lc 6,9; Cf. Jo 5,16). E precisamos fazê-lo rápido! O apóstolo Paulo diz que “o tempo está abreviado” (1Cor 7,29). “Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6,10), ou seja, “não paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a todos” (Rm 12,17). Porque a prática do mal anula a nossa identidade e nos afasta de Jesus, como nos mostra o evangelista: “Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!” (Lc 13,27).

A modo de conclusão, mais uma vez creio ter cumprido o meu papel essencial de anunciador de Cristo, Palavra de Deus encarnada, dentro ainda do "Ano Sacerdotal" e em sintonia com a Mensagem do papa Bento XVI para o 44º Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o tema: “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra”. É possível usar a Internet para o bem, vencendo o “cyberbullying” com o “cyberevangelho”. Então, enquanto a fraternidade não está realizada a contento e a violência ainda resiste, precisamos nos educar para que se estabeleça o “ideal da cultura da paz”. Que neste ano recém começado nos empenhemos conjuntamente na luta contra toda forma de violência, orientados também pelo ensino do apóstolo: “façamos esforço para colocar mais virtude na fé, mais conhecimento na virtude, mais autodomínio no conhecimento, mais perseverança no autodomínio, mais piedade na perseverança, mais fraternidade na piedade e mais amor na fraternidade” (2Pd 1,5-7). Este é o sonho de Deus e deve ser também o nosso, verdadeira utopia (do grego: uk-topós: o lugar-outro possível e executável), na medida em que percebemos que o Reino de Deus não só é possível, mas também realizável já, aqui e agora.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

AVALIAÇÃO DA ESCOLA BÍBLICA PAROQUIAL

Pe. Paulo Nunes de Araújo


Os alunos e alunas da Escola Bíblica Paroquial reuniram-se na capela da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, Bairro Nª Sª Aparecida, no dia 12 de janeiro deste ano, às 19h30, com o objetivo específico de avaliar o ano letivo de 2009, em que foi estudado com profundidade o subsídio da CNBB: “Crescer na leitura da Bíblia” (Estudo de número 86).

Para o bom encaminhamento e aproveitamento da nossa avaliação, a Rosália Reis da Costa assumiu a função de secretariar, o Julião Gonçalves, de cronometrar, e eu, na condição de professor de Bíblia na Escola Bíblica Paroquial, o encargo de coordenar o evento. Para facilitar o bom aproveitamento da avaliação, apresentei alguns aspectos essenciais a serem ponderados. Assim, tudo o que está aqui apresentado foi captado pela Rosália. Eis a pauta:

1) Conteúdo;
2) Metodologia (nível de assimilação das pessoas);
3) Recursos didáticos (material de apoio): tudo que facilita a compreensão dos alunos
4) Espaço físico (ambiente);
5) Assiduidade (freqüência);
6) Crescimento pessoal e comprometimento missionário;
7) Edição do material (quantidade, preço, capa);
8) Formatura (ver a data, local e horário);

Com relação ao conteúdo, foi concluído por unanimidade que o Curso ensinou aos participantes como ser uma igreja mais viva e atuante, através de uma nova percepção e entendimento da Bíblia. Mostrou aos alunos e alunas tudo o que há de material disponível na Igreja para um bom estudo da Bíblia e da Teologia, deixando claro que a missão do cristão é evangelizar e disseminar os ensinamentos bíblicos.

Sobre a metodologia, todo o grupo afirmou que o Curso atingiu seu objetivo, pois foi fiel ao tema proposto, explanando suas proposições através do método “ver, julgar e agir”, com excelente dinâmica, explicação de palavras novas ou desconhecidas pelos participantes e, principalmente, pela ligação e adequação dos temas à nossa realidade. Isso fez com que o nível de assimilação das pessoas, considerando as particularidades de cada um, fosse satisfatório.

Em referência aos recursos didáticos, ou “material de apoio”, usamos os disponíveis na comunidade, como: quadro-negro, giz, cartazes, folhas de cantos, violão, cópia das orações feitas antes e depois das aulas. Tudo isso foi importante, pois facilitou grandemente a compreensão e o aprendizado dos alunos,

No que tange ao espaço físico ou ambiente, todos citaram o bom acolhimento e a ótima hospitalidade. Muitos destacaram que a relevância dos assuntos e a incrível atenção que o Pe. Paulo Nunes consegue despertar nos participantes foi capaz de tornar quase imperceptível o desconforto dos bancos sem encosto, o incômodo do calor, típico da cidade e até a presença dos insetos, que no verão perturbam bastante.

Sobre a assiduidade, a avaliação foi excelente. No espaço de nove meses, a Escola Bíblica esteve em exercício todas as semanas ininterruptamente, tanto na Comunidade Nª Sª Aparecida (Bairro Nª Sª Aparecida), que se iniciou com 90 alunos, e na Comunidade Nª Sª de Fátima (Baiazinha), com 26 alunos. Ou seja, as aulas se realizaram por 32 duas vezes, totalizando 64 horas/aula. Desse total de 116 alunos que iniciaram, 73 receberão o Certificado de aprovação “por haverem participado satisfatoriamente do ciclo da Escola Bíblica Paroquial”, por terem tido ótima freqüência.

No que se refere ao crescimento pessoal, a Escola Bíblica Paroquial abriu espaço para novas amizades e reforçar as já existentes, para um maior senso de vida comunitária, de solidariedade, proporcionando mais gosto por ser igreja. Junto ao crescimento pessoal, também percebemos um avanço na dimensão espiritual e missionária. A Escola Bíblica proporcionou maior segurança durante as visitas missionárias, no dialogo com os evangélicos, bem como na leitura da Palavra nas Missas. Evidentemente, muitos já estavam engajados na vida pastoral da Paróquia; inclusive, vários participaram da Semana Missionária. E tantos outros se comprometeram a partir da Escola Bíblica.

Pe. Paulo Nunes também propôs a idéia de publicar todo o conteúdo dado em aulas na Escola Bíblica através de uma Editora. Os alunos concordaram com a proposta, desde que não passasse a cifra de R$ 10,00, para não pesar muito no bolso dos alunos e dos demais interessados em adquirir o livro. Pe. Paulo Nunes ficou então de encaminhar a edição do material (quantidade e preço), aqui mesmo na Cidade de Miranda, valorizando assim a nossa realidade.

Quanto a formatura dos 73 alunos aprovados, após discutirmos sobre a data, o local e o horário, assim ficou combinado: será no dia 21 de fevereiro, na Igreja Matriz de Nª Sª do Carmo, às 19h.

PS: As fotos dos participantes da Escola Bíblica estão no meu blog de fotos. E as da Missa de formatura, da mesma forma, estarão lá.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"O SENHOR ABENÇOA SEU POVO NA PAZ" (Sl 29/28,11b)

Pe. Paulo Nunes de Araujo


“O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e tenha misericórdia de ti! O Senhor dirija para ti o seu rosto e te conceda a paz!” (Nm 6,24-26).

Com estas palavras tiradas da primeira leitura da Missa deste primeiro dia do ano civil, ainda dentro do “ciclo do Natal”, propus-me a escrever este escrito, a intento do “Dia mundial da paz”. Historicamente, este “dia” foi instituído pelo papa Paulo VI, em 1968, fixando o 1º de janeiro para toda a Igreja Católica, com o objetivo de rezar para que a humanidade encontre o caminho da justiça e da paz, a fim de que todos os povos abandonem as armas e reconheçam e vivam como irmãos. Nesta mesma ocasião, comemora-se também o “Dia da Fraternidade Universal”. Aqui no Brasil, esta data foi instituída pela lei n. 108, de 29/10/1935.

Para este ano de 2010, já na 41ª edição do “Dia mundial da paz”, Bento XVI lançou uma mensagem intitulada: “Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação”. Eis aí o nosso desafio!

Na abordagem sobre “a realidade que nos interpela”, o Magistério eclesial brasileiro ao tratar da “situação sociopolítica” nas “Diretrizes Gerais” ainda em vigor, faz ecoar o clamor de todo o povo que pede justiça e paz, diante de tanta violência: “Preocupa-nos, como construtores da paz, que a vida social em convivência harmônica e pacífica está se deteriorando gravemente em nosso país pelo crescimento da violência, que banaliza a vida (...). A violência se reveste de várias formas e tem vários agentes (...). Suas causas são múltiplas e interdependentes, expressões diversas da ausência de Deus no coração de muitas pessoas” (Doc. da CNBB, 87, n. 35). Daí a pertinente provocação: “Diante de tudo isso, nós, cristãos, não podemos nos calar” (Ibidem).

No Documento de Aparecida, o Magistério eclesial veementemente denunciou que “a vida social em convivência harmônica e pacífica está se deteriorando gravemente em muitos países da América Latina e do Caribe pelo crescimento da violência, que se manifesta em roubos, assaltos, seqüestros, e o que é mais grave, em assassinatos que a cada dia destroem mais vidas humanas e enchem de dor as famílias e a sociedade inteira. A violência se reveste de várias formas e tem diversos agentes: o crime organizado e o narcotráfico, grupos paramilitares, violência comum sobretudo na periferia das grandes cidades, violência de grupos de jovens e crescente violência intra-familiar. Suas causas são múltiplas: a idolatria pelo dinheiro, o avanço de uma ideologia individualista e utilitarista, a falta de respeito pela dignidade de cada pessoa, a deterioração do tecido social, a corrupção inclusive nas forças de ordem e a falta de políticas públicas de equidade social” (DA, n. 78). No entanto, eu penso que a causa originária e fundamental de toda essa brutalidade é “a idolatria pelo dinheiro”.

Assim sendo, não dá para escamotear o assustador “crescimento da violência” e que ela “se reveste de várias formas e tem vários agentes”. Tomando um dado bem concreto e atual, “a Fides, agência do Vaticano para o mundo missionário, revelou que 37 agentes pastorais foram assassinados enquanto desempenhavam a sua missão nos cinco continentes, no ano de 2009. O número é praticamente o dobro em relação a 2008 (20) e o mais alto na última década” (Cf. REVISTA MISSÕES. Disponível em: <clique aqui>. Acesso em: 31 dez. 2009).

Dentre esses trinta e sete assassinatos, seis ocorreram aqui no Brasil, o que dentro do total, é um número bastante alarmante. São dados que o povo nem toma conhecimento, como se fosse algo banal. Portanto, eis os nomes dos nossos mais recentes mártires, os quais no esforço pela paz, foram vitimados exatamente por falta dela: Pe. Ramiro Ludeña, espanhol, assassinado a 20/03, no Recife; Pe. Gisley Azevedo Gomes, encontrado sem vida a 16/06, próximo de Brasília; Pe. Ruggero Ruvoletto, italiano, assassinado a 19/09, em Manaus; Pe. Evaldo Martiol, assassinado a 26/09, em Santa Catarina; Pe. Hidalberto Henrique Guimarães, assassinado a 7/11, em Maceió; Pe. Alvino Broering, assassinado a 14/12, em Santa Catarina, Brasil.

Em face disso, justificável foi o profético comentário da Claudina Azevedo Maximiano, fma, assessora diocesana da PJ, São Gabriel da Cachoeira, AM, intitulado “A dor que lateja e fere o povo...”. Disse ela: “A vida desses nossos irmãos e irmãs ceifados pela violência, reflete a precariedade das relações existentes na humanidade. A violência e a injustiça não são algo do agora da humanidade, como sabemos. Porém, para mim, parece que estamos vivendo como humanidade um retrocesso. Parece que não aprendemos, até então, que precisamos instaurar um tempo novo, onde as relações sejam pautadas em princípios fundamentais para vida no planeta: justiça, solidariedade, amor, respeito e fé. A morte desses nossos irmãos e irmãs é o sinal de que precisamos continuar a anunciar a vida e lutar pela justiça, mesmo que isso nos custe sangue e lágrimas”.

Quando ela fala que “precisamos instaurar um tempo novo”, marcado por situações que possam garantir a “vida no planeta”, isto vai perfeitamente ao encontro do pensamento de Bento XVI, ao dizer que “quando o homem não é visto na integridade da sua vocação e não se respeitam as exigências duma verdadeira ‘ecologia humana’, desencadeiam-se também as dinâmicas perversas da pobreza, como é evidente em alguns âmbitos sobre os quais passo a deter brevemente a minha atenção” (Mensagem para a celebração do Dia mundial da paz, 1º/01/2010, n. 2b). Porque, segundo o pontífice, “a pobreza encontra-se frequentemente entre os fatores que favorecem ou agravam os conflitos, mesmo os conflitos armados” (Ibidem, n. 1).

Se a pobreza crescente é uma das causas dos conflitos que atentam “a vida no planeta”, realmente devemos nos convencer que “combater a pobreza é construir a paz”. Assim sendo, não há outra saída para a construção desse “tempo novo” sem uma luta decidida contra a pobreza e a efetivação de uma solidariedade cósmica e ecológica, pois “uma das estradas mestras para construir a paz é uma globalização que tenha em vista os interesses da grande família humana” (Mensagem para a celebração do Dia mundial da paz, n. 8). E isso exige incondicionalmente “colocar os pobres em primeiro lugar” (Ibidem, n. 12). Porque “os pobres pedem o direito de participar no usufruto dos bens materiais e de fazer render a sua capacidade de trabalho, criando assim um mundo mais justo e mais próspero para todos” (Ibidem, n. 14).

Sabemos que Deus criou o Universo e destinou-o aos seres humanos “como espaço para a vida e a convivência de todos seus filhos e filhas (...). Nossa ‘irmã a mãe terra’ é nossa casa comum” (DA, n. 125). E, sem dúvida, devemos pensar não somente, como egoístas, no momento presente, pois “o Senhor entregou o mundo para todos, para os das gerações presentes e futuras” (DA, n. 126). E essa consciência deve ser assumida por todos nós, como “profetas da vida”, considerando que a natureza é “uma herança gratuita que recebemos para proteger, como espaço precioso da convivência humana e como responsabilidade cuidadosa do senhorio do homem para o bem de todos” (DA, n. 471).

Diante desta situação, o Magistério eclesial oferece algumas propostas e orientações (Cf. DA, nn. 474-475): a) Evangelizar nossos povos para descubram o dom da criação, sabendo contempla-la e cuidar dela como casa de todos os seres vivos e matriz da vida do planeta; b) Aprofundar a presença pastoral nas populações mais frágeis e ameaçadas pelo desenvolvimento predatório e apoiá-las em seus esforços para conseguir uma eqüitativa distribuição da terra, da água e dos espaços urbanos; c) Procurar um modelo de desenvolvimento alternativo, integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamente no evangelho da justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens; d) Empenhar nossos esforços na promulgação de políticas públicas e participações cidadãs que garantam a proteção, conservação e restauração da natureza; e) Determinar medidas de monitoramento e de controle social sobre a aplicação dos padrões ambientais internacionais nos países; f) Criar nas Américas consciência sobre a importância da Amazônia para toda a humanidade.

Por aí vemos que definitivamente não temos outra saída para que a vida e a harmonia, em todos os âmbitos (igreja, família, clero, sociedade civil...) melhor se realizem. Portanto, “urge educar para a paz” (DA, n. 541). Porque “a paz é um bem valioso, mas precário que todos devemos cuidar, educar e promover em nosso continente. Como sabemos, a paz não se reduz à ausência de guerras, nem à exclusão de armas nucleares em nosso espaço comum. Estas são conquistas já significativas, mas devemos promover a geração de uma “cultura de paz” que seja fruto de um desenvolvimento sustentável, eqüitativo e respeitoso da criação e que nos permita enfrentar conjuntamente os ataques do narcotráfico e do consumo de drogas, do terrorismo e das muitas formas de violência que hoje imperam em nossa sociedade. A Igreja, sacramento de reconciliação e de paz, deseja que os discípulos e missionários de Cristo sejam também, ali mesmo onde se encontrem, “construtores de paz” entre os povos e nações de nosso Continente. A Igreja é chamada a ser uma escola permanente de verdade e de justiça, de perdão e de reconciliação para construir uma paz autêntica” (DA, n. 542).

E nós, imbuídos do Evangelho de Jesus e comprometidos com a obra evangelizadora da Igreja, devemos assumir esta ingente verdade, que “a radicalidade da violência só se resolve com a radicalidade do amor redentor” (DA, n. 543). Porém, de modo reiterado digo que o empenho pela construção da paz não se prende somente aos cristãos, mas a toda a humanidade, pois é bem verdade que “no mundo plural no qual hoje vivemos, a acolhida, o diálogo, a convivência pacífica e a cooperação são exigências fundamentais para toda a humanidade. Judeus, Cristãos, Muçulmanos, Budistas, Hindus, tradições Afro-descendentes e pessoas de tantas outras expressões religiosas e culturais, cada uma com suas peculiaridades na forma e no conteúdo, podemos nos sentir irmanados na construção de um mundo de justiça, paz e liberdade para todos” (Posicionamento da CNBB a favor das iniciativas que promovem a paz entre pessoas, povos, culturas, igrejas e religiões, 01/01/2010). Isto vem confirmar aquele desafio proposto por Bento XVI: “Se quiseres cultivar a paz, preserva a criação”, pois a nossa “irmã a mãe terra” é nossa casa comum onde, inclusive, o “Príncipe da paz”, Jesus, veio estabelecer sua morada.

À guisa de conclusão, irmanemos-nos todos nessa mesma causa, cientes que “o fruto da justiça será a paz, e a obra da justiça constituirá na tranqüilidade e na segurança para sempre” (Is 32,17). Fora dessa lógica, é evidente que “para os maus não há paz” (Is 48,22). E como nesta ocasião também celebramos a solenidade de “Maria, Mãe de Deus”, peço-lhe que nos abençoe, seguros de que ela “como mãe de tantos, fortalece os vínculos fraternos entre todos” (DA, n. 267). Agora, fazendo jus ao tema da Mensagem papal, deixo aqui um lindo Poema intitulado “Nossa Senhora do Carmo e o ecológico pantanal”, composto por José Zuza, homem simples, poeta pantaneiro e grande amigo do meu falecido pai Melchíades.

Nossa Senhora do Carmo,
Oh! Mãe celestial,
Ah! Rainha clemente,
Oh! Mãe Universal.
Proteja a nossa família
e o povo do Pantanal

Nossa Senhora do Carmo
Protetora do Pantanal.
Este refúgio ecológico
É um símbolo ambiental.
Proteja os seres humanos
Proteja o animal.

Nossa Senhora do Carmo,
onde está o peixe do rio?
O cerrado está queimando,
e o Pantanal está vazio.
Cadê os frutos da flora?
Tudo está desaparecendo por causa do tempo estio.

Nossa Senhora do Carmo
é a nossa Padroeira.
Mãe do povo mirandense,
da família pantaneira.
Traga a paz para o MS,
e para a Pátria brasileira.

Adeus, Pantanal
Morada do tuiuiú.
Naquela bela lagoa
Com sua água azul,
Uma estrela ecológica
No Mato Grosso do Sul.

Assim sendo, só posso finalizar este artigo desejando Shalom a todos e ao meu lindo pantanal sul-matogrossense, obra maravilhosa que Deus criou para nós.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"NASCEU PARA VÓS UM SALVADOR" (Lc 2,11)

Pe. Paulo Nunes de Araujo


“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura” (Lc 2,11-12). Com estas palavras do anjo aos pastores, tiradas do Evangelho da Missa da Vigília de Natal, inspirei-me a escrever este artigo sobre o "Natal de Jesus".

Frequentemente o povo pergunta qual o dia e o mês em que Jesus nasceu. Para nós, cristãos, a única fonte escriturística que temos são os Evangelhos. Porém, nos relatos bíblicos não encontramos nenhuma referência datal a respeito do nascimento de Jesus, pois os Evangelhos não são crônicas ou narrações biográficas minuciosas a respeito dele. Os Evangelhos trazem, sim, a experiência de fé dos cristãos do primeiro século baseada no Cristo Ressuscitado. Mas para falar do Senhor Glorioso, é necessário pensar no mesmo Jesus de Nazaré que um dia nasceu. Vemos aí uma perfeita relação de continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Desta feita, sobre o nascimento de Jesus sabemos muito pouco.

No entanto, o que vale para nós cristãos, é que o Natal é a comemoração e a celebração da maior expressão do amor de Deus por nós; do dia em que Deus nasceu no mundo, trazendo paz, luz, amor, esperança, uma nova aliança, enfim uma nova vida. Segundo o Evangelho, o Filho de Deus, Jesus de Nazaré, “nasceu em Belém” (Cf. Mt 2,1; Lc 2,6), no meio dos pobres e marginalizados, “colocado na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7b). Com isso, o Verbo encarnado mistura-se a toda a humanidade, oferecendo-lhe a presença e a reconciliação de Deus.

A respeito deste acontecimento e data, há muitas discussões e tradições herdadas do passado. A razão é que naquela época os calendários eram muito confusos. No primeiro calendário romano, por exemplo, que era um calendário lunar, o ano tinha apenas 10 meses de 30 ou 31 dias, que totalizavam 304 dias e os demais 61 dias que coincidiam com o inverno não entravam no calendário havendo pouco interesse de acompanhamento temporal neste período do ano. Por volta de 713 a.C., deu-se a primeira reforma deste calendário, onde foram reduzidos os meses de 30 dias para 29 dias e adicionados os meses de Janeiro (29 dias) e Fevereiro (28 dias), transformando-o em um calendário luni-solar, num total 355 dias. Assim, pela dificuldade de se fazer registros históricos da época, o povo em geral não conhecia e nem se lembrava das datas de nascimento, de casamento ou de falecimento.

Por isso, as comunidades cristãs do primeiro século não comemoravam o nascimento de Jesus. Os Evangelhos apenas nos informam que Jesus nasceu antes da morte de “Herodes, rei da Judéia” (Lc 1,5; Cf. Mt 2,1), o qual faleceu na primavera de 750 da era romana, ou seja, no ano 4 a. C.. Assim sendo, conforme os estudiosos, o ano mais provável do nascimento de Jesus seria o 7º ou o 6º ano antes da era cristã. Sobre a definição do dia 25 de dezembro, temos alguns dados extraordinários.

Os Celtas (povo originário da região sudoeste da Alemanha, leste do Reno, no fim do período do Bronze I [2500-1900 a.C.] e que espalhou-se pela Europa entre os séculos VI a I a.C., quando sofreu a dominação do Império romano), por exemplo, tratavam o Solstício do Inverno (quando a luz solar incide com maior intensidade sobre o hemisfério norte) como um momento extremamente importante em suas vidas. Percebendo eles que o inverno ia chegar, com longas noites de frio, e muitas vezes com poucos gêneros alimentícios e rações para si e para os animais, e sem saberem se ficariam vivos até a próxima estação, faziam então um grande banquete de despedida no dia 25 de dezembro. Seguiam-se 12 dias de festas, terminando no dia 6 de Janeiro, data que para nós, cristãos, coincide com a festa da “Epifania do Senhor”.

Em Roma, o Solstício do Inverno também era celebrado muitos séculos antes do nascimento de Jesus. Os romanos chamavam-no de Saturnálias (Férias de Inverno), em homenagem a Saturno, o Deus da Agricultura, que permitia o descanso da terra durante o inverno.

Em 274 o Imperador romano Lúcio Domício Aureliano (270-275) proclamou o dia 25 de dezembro, como “Dies Natalis Invicti Solis” (Dia do Nascimento do Sol Inconquistável). O Sol começou a ser venerado. Buscava-se o seu calor que ficava no espaço muito acima do frio do inverno na Terra. O início do inverno passou a ser festejado como o dia do Deus Sol.

A partir daí, o Papa Júlio I (337-352) decretou, no ano 350, que o nascimento de Cristo deveria ser comemorado no dia 25 de Dezembro, substituindo a veneração ao Deus Sol pela adoração ao Salvador Jesus Cristo, "a luz verdadeira, aquela que ilumina todo homem" (Jo 1,9). O nascimento de Cristo passou a ser comemorado no Solstício do Inverno em substituição às festividades do Dia do Nascimento do Sol Inconquistável.

Para nós, habitantes do Hemisfério Sul, se considerarmos o Solstício do Inverno, não há razão real para comemorarmos o Natal do Senhor Jesus no dia 25 de dezembro. Porque nesta data vivemos os primeiros dias do verão e não do inverno. Porém, herdamos as tradições cristãs que vieram do Hemisfério Norte e isso nós respeitamos.

Assim sendo, o que profundamente nos interessa é celebrarmos este ato de amor maravilhoso de Deus. Um Deus que veio ao mundo e inaugurou uma nova vida entre nós. Este é o grande motivo da nossa festa. Até porque, natal sem Jesus não é natal.

Face a isso, o Magistério eclesial nos ensina que “a história da humanidade, história que Deus nunca abandona, transcorre sob seu olhar compassivo. Deus amou tanto nosso mundo que nos deu seu Filho. Ele anuncia a boa nova do Reino aos pobres e aos pecadores. Por isso, nós, como discípulos e missionários de Jesus, queremos e devemos proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo. Anunciamos a nossos povos que Deus nos ama, que sua existência não é uma ameaça para o homem, que Ele está perto com o poder salvador e libertador de seu Reino, que Ele nos acompanha na tribulação, que alenta incessantemente nossa esperança em meio a todas as provas. Os cristãos são portadores de boas novas para a humanidade, não profetas de desventuras” (DA, n. 29).

A partir desse magnífico evento de amor que é o Natal de Jesus, o Magistério eclesial expressa também o seu grande anseio: “desejamos que a alegria que recebemos no encontro com Jesus Cristo, a quem reconhecemos como o Filho de Deus encarnado e redentor, chegue a todos os homens e mulheres feridos pelas adversidades; desejamos que a alegria da boa nova do Reino de Deus, de Jesus Cristo vencedor do pecado e da morte, chegue a todos quantos jazem à beira do caminho, pedindo esmola e compaixão (Cf. Lc 10,29-37; 18,25-43). A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e agoniado pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DA, n. 32).

Voltando agora ao texto de Lucas supracitado, podemos perceber dois dados importantes nas palavras do anjo aos pastores. Primeiro, o anúncio da “Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo” (Lc 2,10). De fato, a Boa Notícia mostra que o Menino que nasceu é o Salvador, porque trouxe a libertação e a salvação definitivas; expõe que ele é o Messias, porque é o ungido, o Cristo de Deus que veio estabelecer uma relação de justiça e amor entre nós; indica e que ele é o Senhor, porque derruba todos os obstáculos da nossa caminhada, conduzindo-nos com segurança dentro de um tempo novo.

Em segundo lugar, a emergente necessidade de uma intervenção direta de Deus para que o Messias/Cristo fosse identificado, através de um “sinal”, em razão das circunstâncias estranhas do seu nascimento: “vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura” (Lc 2,12). Isto porque Jesus, filho de “José, que era descendente de Davi” (Lc 1,27), não nasceu num palácio real. Foi exatamente entre os deserdados da vida e para os sofredores e desprezados que nasceu “o Salvador, o Cristo, o Senhor”. Por isso, os pastores, figura tipo dos pobres e marginalizados da época, foram os primeiros missionários que receberam a responsabilidade de anunciarem a chegada de Jesus.

Também hoje, devemos saber identificar os ambientes e as realidades onde Jesus está concretamente presente, a fim de que o encontremos. Para nos ajudar nesse processo, o Magistério eclesial nos aponta alguns “lugares de encontro com Jesus Cristo”, a saber: “na Igreja” (DA, n. 246); “na Sagrada Escritura” (DA, n. 247); “na Sagrada Liturgia” (DA, n. 250), de modo privilegiado “na Eucaristia” (DA, n. 251); “no Sacramento da Reconciliação” (DA, n. 254); “na oração pessoal e comunitária” (DA, n. 255); “em meio a uma comunidade viva na fé e no amor fraterno” (DA, n. 256); e “de um modo especial, nos pobres, aflitos e enfermos (Cf. Mt 25,31-46)” (DA, n. 257).

No mundo de hoje, na correria da vida, quase não temos tempo para encontrarmo-nos com Jesus, para celebrarmos e vivermos esta “grande alegria”. Em vista disso, o papa Bento XVI muito bem asseverou: “Nós temos sempre pouco tempo, especialmente para o Senhor. Às vezes, não sabemos ou não queremos encontrá-lo. Mas Deus tem tempo para nós. Dá-nos seu tempo porque tem entrado na história com sua palavra e suas obras de salvação, para abri-la à eternidade e fazê-la história da aliança. O tempo é em si mesmo um sinal fundamental do amor de Deus: um presente que o ser humano pode valorizar, ou ao contrário, estragar; acolher seu significado, ou descuidar com superficialidade” (Notícias da CNBB, 02/12/2008).

Diante disso, vale à pena lembrar a canção: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores). Assim, empenhemo-nos, enquanto há tempo. Porque “quanto a nós, não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20). E “o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam é a Palavra, que é a Vida” (1Jo 1,1), isto é, o próprio Jesus.

Para concluir, peço que a Virgem Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, estrela da nova evangelização, primeira discípula e grande missionária do Pai nos abençoe e nos ajude a sermos verdadeiros proclamadores desta grande e boa notícia: “nasceu para nós um Salvador que é o Messias, o Senhor”.

 
©2007 '' Por Elke di Barros