quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

NATAL: NASCEU PARA NÓS O SALVADOR

Pe. Paulo Nunes de Araujo


“Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura” (Lc 2,11-12). Servindo-me destas palavras do evangelho da Missa da Vigília de Natal, propus-me a escrever este artigo.

Muitas vezes o povo pergunta qual o dia e o mês em que Jesus nasceu. Para nós, cristãos, a única fonte escriturística que temos são os evangelhos. Mas nos relatos bíblicos não encontramos nenhuma referência sobre a data do nascimento de Jesus, pois os evangelhos não são crônicas ou narrações biográficas a respeito dele. Eles trazem, sim, a experiência de fé dos cristãos do primeiro século baseada no Cristo Ressuscitado. E falar do Senhor Glorioso, é falar do mesmo Jesus de Nazaré que um dia nasceu. Vemos aí uma relação de continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Assim, sobre o nascimento de Jesus sabemos muito pouco.

Importa é que para nós cristãos, o Natal é a celebração do grande amor de Deus, o dia em que Deus nasceu no mundo, trazendo paz, luz, amor, esperança, uma nova aliança, uma nova vida. O Filho de Deus, Jesus de Nazaré, “nasceu em Belém (Cf. Mt 2,1; Lc 2,6-7), como uma criança pobre e marginalizada, misturando-se com toda a humanidade, oferecendo-lhe a presença e a reconciliação de Deus. Em torno deste acontecimento e data, há muitas discussões e tradições herdadas do passado. É que naquela época os calendários eram muito confusos. Os antigos calendários romanos tinham, às vezes, semanas de quinze dias e meses de dez dias, de acordo com a vontade do Imperador da época. O povo em geral não conhecia as datas de nascimento, casamento ou falecimento. Não existem registros históricos a respeito de “Festas de Aniversário” na antigüidade.

Por isso, as comunidades cristãs do primeiro século não comemoravam o nascimento de Jesus. Os evangelhos apenas nos informam que Jesus nasceu antes da morte de “Herodes, rei da Judéia” (Lc 1,5; Mt 2,1), que faleceu na primavera de 750 da era romana, quer dizer, no ano 4 antes de Cristo. Conforme estudiosos, o ano mais provável do nascimento de Jesus é 7 ou 6 antes da era cristã. Sobre a definição do dia 25 de dezembro, temos alguns dados extraordinários.

Os Celtas (povo originário da região sudoeste da Alemanha, leste do Reno, no fim do período do Bronze I [2500-1900 a.C.] e espalhou-se pela Europa entre os séculos VI a I a.C., quando sofreu a dominação do Império romano), por exemplo, tratavam o Solstício do Inverno (quando a luz solar incide com maior intensidade sobre o hemisfério norte) como um momento extremamente importante em suas vidas. O inverno ia chegar, longas noites de frio, por vezes com poucos gêneros alimentícios e rações para si e para os animais, e não sabiam se ficariam vivos até a próxima estação. Eles então faziam um grande banquete de despedida no dia 25 de dezembro. Seguiam-se 12 dias de festas, terminando no dia 6 de Janeiro, data que para nós, cristãos, coincide com a festa da “Epifania do Senhor”.

Em Roma, o Solstício do Inverno também era celebrado muitos séculos antes do nascimento de Jesus. Os romanos o chamavam de Saturnálias (Férias de Inverno), em homenagem a Saturno, o Deus da Agricultura, que permitia o descanso da terra durante o inverno.

Em 274 o Imperador romano Lúcio Domício Aureliano (270-275) proclamou o dia 25 de dezembro, como “Dies Natalis Invicti Solis” (Dia do Nascimento do Sol Inconquistável). O Sol passou a ser venerado. Buscava-se o seu calor que ficava no espaço muito acima do frio do inverno na Terra. O início do inverno passou a ser festejado como o dia do Deus Sol.

A partir daí, o Papa Júlio I (337-352) decretou, em 350, que o nascimento de Cristo deveria ser comemorado no dia 25 de Dezembro, substituindo a veneração ao Deus Sol pela adoração ao Salvador Jesus Cristo. O nascimento de Cristo passou a ser comemorado no Solstício do Inverno em substituição às festividades do Dia do Nascimento do Sol Inconquistável.

Para nós, habitantes do Hemisfério Sul, se considerarmos o Solstício do Inverno, não há razão para se comemorar o Natal no dia 25 de dezembro. Porque nesta data vivemos os primeiros dias do verão e não do inverno. Porém, herdamos as tradições cristãs que vieram do Hemisfério Norte.

Assim sendo, o que nos interessa é celebrar este ato de amor maravilhoso de Deus. Um Deus que veio ao mundo e inaugurou uma nova vida entre nós. Este é o grande motivo da nossa festa. Até porque, natal sem Jesus não é natal.

Voltando agora ao texto de Lucas acima citado, podemos perceber dois dados importantes nas palavras do anjo aos pastores. Primeiro, o anúncio da Boa Notícia que será uma grande alegria para todo o povo” (Lc 2,10). De fato, a Boa Notícia mostra que o Menino que nasceu é o Salvador, porque trouxe a libertação e a salvação definitivas; que ele é o Messias, porque é o ungido, o Cristo de Deus que veio estabelecer uma relação de justiça e amor entre nós; e que ele é o Senhor, porque derruba todos os obstáculos da nossa caminhada, conduzindo-nos com segurança dentro de um tempo novo.

Segundo, a incidente necessidade de uma intervenção direta de Deus para que o Messias/Cristo fosse identificado, através de um sinal, em razão das circunstâncias estranhas do seu nascimento: “vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura. Isto porque Jesus, filho de “José, que era descendente de Davi (Lc 1,27), não nasceu num palácio real. Foi exatamente entre os deserdados da vida e para os sofredores e desprezados que nasceu o Salvador, o Messias, o Senhor. Por isso, os pastores, símbolo dos pobres e marginalizados da época, foram os primeiros missionários que receberam a responsabilidade de anunciar a chegada de Jesus.

Também hoje, devemos saber identificar os ambientes e as realidades onde Jesus está concretamente presente. Sabemos que encontramos Jesus na Palavra (Bíblia), nos Sacramentos de modo geral, muito especialmente na Eucaristia, na comunidade que vive e celebra unida, na vida de todas as pessoas de bom coração, nos pobres e abandonados (Cf. Mt 25,31-46), etc..

No mundo de hoje, no corre-corre da vida, quase não temos tempo para encontrarmo-nos com Jesus, para celebrarmos e vivermos esta “grande alegria”. Em vista disso, o papa Bento XVI muito bem asseverou: “Nós temos sempre pouco tempo, especialmente para o Senhor. Às vezes, não sabemos ou não queremos encontrá-lo. Mas Deus tem tempo para nós. Dá-nos seu tempo porque tem entrado na história com sua palavra e suas obras de salvação, para abri-la à eternidade e fazê-la história da aliança. O tempo é em si mesmo um sinal fundamental do amor de Deus: um presente que o ser humano pode valorizar, ou ao contrário, estragar; acolher seu significado, ou descuidar com superficialidade” (Notícias da CNBB, 02/12/2008).

Em face disso, vale à pena lembrar da canção: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores). Assim, mãos à obra, enquanto há tempo. Porque “quanto a nós, não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos (At 4,20). E "o que ouvimos , o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam é a Palavra, que é a Vida" (1Jo 1,1), isto é, o próprio Jesus.

Para concluir, peço que Maria, a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, estrela da nova evangelização, primeira discípula e grande missionária do Pai nos abençoe e nos ajude a sermos verdadeiros proclamadores desta grande e boa notícia: “nasceu para nós um Salvador que é o Messias, o Senhor”.

 
©2007 '' Por Elke di Barros