sábado, 3 de janeiro de 2009

BÊNÇÃO DE POSSE DO PREFEITO MUNICIPAL

BÊNÇÃO DE POSSE DO PREFEITO E EQUIPE DE GOVERNO DO MUNICÍPIO DE MIRANDA, MS, BRASIL (1º/01/09, ÀS 19h30)


Por: Pe. Paulo Nunes de Araújo (delegado pelo pároco Pe. Altair R. Ferreira)


Texto bíblico: 1Rs 3,7-12


Exmo. Sr. Prefeito NEDER AFONSO DA COSTA VEDOVATO e distinta esposa, Sra. MARIA DO CARMO MASSUDA VEDOVATO,
Exmo. Sr. Vice-prefeito APARECIDO ROJO DUARTE,
Exmos. Srs. Vereadores, Sras. vereadoras e demais autoridades presentes,
Prezada equipe de governo e funcionários públicos deste município de Miranda,
Senhores e Senhoras.


Estamos ainda no clima do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Tempo Litúrgico do Natal nos insere na contemplação do grande feito de Deus nos últimos tempos: a encarnação do Verbo Eterno do Pai no seio virginal de Maria. A chegada do Menino Deus trouxe um novo brilho ao mundo, uma nova compreensão do mistério da vida e da realidade que nos circunda.

Jesus é a síntese do verdadeiro Amor. Não há nenhuma corrente de pensamento humano neste mundo capaz de esgotar este grande mistério. O amor não se explica com palavras, mas com a vida que se traduz em gestos de humildade, entrega, serviço, caridade e solidariedade para com os excluídos e pobres deste mundo. A passagem do Filho de Deus nesta vida foi a maneira pedagógica da qual Deus se serviu para restabelecer com a humanidade a nova e eterna Aliança. O significado desta missão divina está no seu próprio nome: JESUS (Deus Salva); e salva porque ama e ama porque é Deus.

Neste mundo tão marcado por fortes apelos e desejos, Jesus Cristo é a única resposta ao permanente anseio do coração humano. Ele é a verdade que liberta, que edifica e transforma. Para tal, precisamos acolher o Dom de Deus no mais profundo de nossa intimidade pessoal e deixar que esta força Divina ilumine tudo o que somos, tudo o que fazemos e tudo o que temos.

A missão do Filho de Deus não é outra senão a de nos salvar (Cf. Jo 3, 17). Fazendo-se um conosco (Cf. Mt 1,13b), deixou-nos seus ensinamentos. Jesus não fundou uma religião, mas a sua Igreja (Cf. Mt 16,17-18). Igreja é assembléia que se reúne e celebra a fé; é a guardiã da doutrina e dos ensinamentos do Senhor Jesus. No final do Século XIX, em face ao materialismo tecnológico e à mentalidade socialista nascente, a reflexão cristã abria caminho para o surgimento da Doutrina Social da Igreja que lançaria as bases para a compreensão cristã das atitudes sociais para com as comunidades e o exercício da atividade política democrática (Cf. LEÃO XIII. Carta Encíclica Rerum Novarum. Sobre a condição dos operários. Disponíel em: <clique aqui>. Acesso em 28 dez. 2008). Muitos ainda continuam com uma visão errada acerca da Igreja e da política. A Igreja não é partidária, mas não se exime da responsabilidade de opinar sobre os caminhos que conduzem à perfeição do tecido social.

Engana-se quem pensa que o exercício da política deve ocorrer distanciado dos aspectos da fé. Aos cristãos cabe a tarefa de humanizar o exercício legitimo da atividade política. Hoje, aqui nos encontramos nessa cerimônia de posse do Sr. Prefeito Neder Vedovato e do seu vice, Sr. Aparecido Rojo Duarte, juntamente com os vereadores e vereadoras eleitos e re-eleitos. Grande responsabilidade pesa sobre seus ombros.

A atividade política se fundamenta na "racionalidade" (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000). Desde os antigos filósofos gregos a atividade de cuidar da pólis, a cidade, e zelar pelo seu bem comum teve mérito na racionalidade dos que meditaram e propuseram o progresso dos povos. Platão (séc. VI a.C.) na sua obra “A República”, Aristóteles (séc. VI a.C.) no seu ensaio “A Política” e Sto. Agostinho (séc. V d.C) na sua importante obra “A Cidade de Deus”, foram homens que se preocuparam com esse tema e lançaram as bases da reflexão sobre a atividade em favor do bem comum, a atividade Política.

A finalidade da pessoa humana sobre a terra é “fazer o bem e evitar o mal” (Aristóteles. Ética a Nicômaco). As formas de poder, nas suas esferas legislativa, executiva e judiciária, embora distintas, devem conjuntamente colaborar para a formação da pessoa na busca do bem. Enfim, todos que são investidos de autoridade não podem furtar-se à honra do dever e na colaboração com tal finalidade. “A autoridade só será exercida legitimamente se procurar o bem comum do grupo em questão e se, para atingi-lo, empregar meios moralmente lícitos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1903). A conclusão que se tira disso é que não vale à pena agir contra o bem e a sã consciência.

Senhor prefeito, vereadores, vereadoras, secretários e secretárias, mantenham suas consciências tranqüilas no trato com o bem público. “O alheio chora por seu dono”, nos alerta o provérbio popular. Os mais pobres e sofredores serão nossos juizes no “Julgamento Final” (Cf. Mt 25,31-46). Naquele dia e hora decisivos, Jesus Cristo não será mais nosso advogado, mas se sentará no trono da Justiça Divina para nos julgar. Porque a prática do direito e da justiça serão os critérios fundamentais da condenação ou da salvação eternas.

Analisando os pontos principais das metas do Plano de Governo desta Coligação eleita para a gestão 2009-2012, podemos concluir, sem sombra de dúvidas que são propostas importantes para o nosso querido Município de Miranda. Penso que alguns aspectos precisam ser realmente perseguidos a todo custo: a saúde, a educação e a assistência social. Os dois poderes, executivo e legislativo, devem juntos trabalhar a favor do bem do Município e em plena liberdade de exercício e total responsabilidade. É o que esperamos da nova gestão que hoje se inicia.

“A liberdade humana é, como a vida, a coisa mais preciosa e valiosa do mundo” (Bartolomeu de Las Casas, 1474 a 1566, frade dominicano, cronista, teólogo, bispo de Chiapas, México, e grande defensor dos índios). E a pessoa humana não pode viver a vida e a verdadeira liberdade fora de Deus. Tudo deve começar com Ele e terminar n’Ele. Pois "a criatura sem o Criador esvai-se" (Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 36). Esta é a consciência que deve ter o novo prefeito, os vereadores e todo o secretariado. Creio que todos estão com o coração cheio de boa vontade e interesse em dar ao nosso Município o melhor de si, a fim de que a vida e a liberdade das pessoas se realizem a contento. Não percam isto de vista. Não se dobrem à rotina do trivial do dia-a-dia, mas sejam criativos no zelo pelo bem público. O bom senso moral e humanitário deve estar acima do orgulho e da soberba que volta e meia reacende dentro de nós e corrompe a alma dos que transitam pelo caminho da atividade político-partidária.

O texto bíblico que ouvimos, apresentando a a oração de Salomão, mostra que o grande anseio do povo é ter uma autoridade realmente capaz de discernir e realizar a justiça. Para isso, a principal tarefa da boa autoridade é saber ouvir (do latim obaudire: obedecer, acolher, observar). Este é o requisito básico para que a justiça melhor se estabeleça. Certamente este é o anseio deste povo a quem os senhores irão governar, cientes de que “o governo é para os governados e não vice-versa” (LEÃO XIII. Ibidem), considerando que esta gestão se inicia exatamente neste Dia mundial da paz. Portanto, estejam convictos de que justiça e paz se abraçam” (Sl 85/84,11b) e que “o fruto da justiça será a paz (Is 32,17).

Para concluir, rezemos juntos a oração de Jesus, o Pai Nosso, na versão ecumênica:
Agora, peço a bênção de Deus sobre os senhres e senhoras aqui na minha presença, servindo-me deste trecho da “grande oração” composta pelo papa Clemente de Roma, Século I, a favor das autoridades políticas:
“Dá-lhes, Senhor, a saúde, a paz, a concórdia e a constância, para que exerçam com segurança a soberania que lhes destes. Tu, Senhor celeste, rei dos séculos, concede aos filhos dos homens glória, honra e poder sobre as coisas da terra. Dirige, Senhor, as decisões deles, conforme o que é bom e agradável a ti, para que, exercendo com paz, mansidão e piedade, o poder que lhes foi dado por ti, possam alcançar de ti a misericórdia. Amém!” (Carta aos Coríntios 61,1-2).
“O Senhor os abençoe e os guarde! O Senhor lhes mostre o seu rosto brilhante e tenha piedade de vós! O Senhor lhes mostre o seu rosto e lhes conceda a paz” (Nm 6,22-24). Amém!

 
©2007 '' Por Elke di Barros