quarta-feira, 30 de setembro de 2009

ENCERRAMENTO DO MÊS DA BÍBLIA

Pe. Paulo Nunes de Araujo


“O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos meios a serviço da Palavra”.
Tema do 44º “Dia Mundial das Comunicações” a ser comemorado no dia 16/05/2010.

Caros amigos e amigas, meus fiéis leitores. O intuito deste escrito é expor o quanto foi magnífico o encerramento do “Mês da Bíblia” aqui na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, município de Miranda, portal do pantanal sul-matogrossense. Cerca de oitenta pessoas vindas das várias comunidades da Paróquia participaram assiduamente dos três dias de formação, de 28 a 30, cujo conteúdo foi a “Introdução ao estudo da Carta aos Filipenses”, a “Carta do coração”.

Foi um encontro de formação valiosíssimo não só pelo fato de termos bem encerrado o “Mês da Bíblia”, cumprindo o que pede a Igreja, mas também por termos atendido uma das três atuais prioridades da Diocese de Jardim, MS, da qual fazemos parte, que é exatamente a “formação”, a qual abrange várias dimensões, como a “dimensão humana comunitária, espiritual, intelectual, comunitária e pastoral-misisonária” (DA, 280). Assim sendo, nas palavras do apóstolo Paulo digo que “foi grande a minha alegria no Senhor” (Fl 4,10a), isto porque, fazendo jus ao início da estação primaveril, “finalmente vi florescer de novo o interesse” (Fl 4,10a) de mais pessoas pelo Evangelho e pela vida da Igreja.

Durante o estudo da Carta aos Filipenses, dentre as várias questões que ajudaram a dinamizar o curso, uma delas se sobressaiu e tornou-se o motivo deste meu artigo. Ei-la: Se fomos criados para o amor, como viver a “ternura de Cristo” em meio a uma sociedade tão individualista e egocêntrica como a nossa?

Vejo que esta é uma questão relevante, porque, sem dúvida, atualmente “a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” (BENTO XVI. Carta Encíclica Cáritas in veritate, n. 19). De fato, as relações claramente são muito mais transacionais, marcadas por tramas e acordos, do que transformacionais, o que exige mudança, crescimento, realização, tanto pessoal quanto interpessoal.

E podemos ir ainda mais a fundo na questão acima: Como dizer hoje em dia “eu te amo” (Jo 21,17), a uma pessoa estimada e admirada, independentemente da questão do “gênero” (DA, n. 40), sem que esta expressão tão divina e humana seja tomada como algo incômodo e constrangedor? Porque dentro das comunidades cristãs, normalmente o que ocorre são os indivíduos se abraçarem e dizerem “Jesus te ama”. Isto é evidente, é ponto pacífico! Mas a Palavra de Deus propõe exatamente o contrário, ou seja, que amemos a Deus: “ame o Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força” (Mc 12,30; Cf. Jo 21,15-17), e amemos ao irmão: “Ame ao seu próximo como a si mesmo” (Mc 12,31), ou, traduzindo melhor, “Ame ao seu próximo porque ele é como a ti mesmo”. Só a partir dessas duas práticas é que tudo se transforma e a fraternidade se estabelece.

No entanto, esta expressão tão gratuita e natural, acaba sendo tomada como assédio, como algo irreverente. Na verdade, segundo o Dicionário Michaelis, o verbete “assédio” quer dizer: “impertinência”, “importunação”, “insistência junto de alguém, para conseguir alguma coisa”. E a situação se agrava quando a declaração “eu te amo” tem como interlocutor alguém que ainda não fez, ou se fez, não amadureceu suficientemente na experiência do amor, podendo a pessoa conduzir o caso para o campo da sexualidade, levando a caracterizá-la como “assédio sexual”.

Nessa circunstância, a coisa fica complicada, porque conforme o art. 216-A, inserido no Código Penal Brasileiro pela Lei n. 10.224, de 15/05/2001, o “assédio sexual” é um comportamento que visa “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. De fato, aí se torna algo muito desagradável.

Fazendo essas conjecturas, eu fico pensando no quanto ainda devemos crescer na verdadeira experiência e prática do amor. Na Escritura Sagrada, a literatura sapiencial conservou um dos mais belos poemas de amor no livro Cântico dos Cânticos, em que aparece um versículo destacante: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu” (Ct 6,3). Esta frase, atribuída à amada, em relação ao seu amado, podemos interpretá-la atualmente como sendo uma declaração de amor da Igreja (a amada) à Jesus Salvador (o amado). Quanto ao amor de Jesus por nós, sabemos que é infinito, sublime e verdadeiro. Mas será que o nosso amor por Jesus também é assim? Será que nós, enquanto igreja-comunidade, nos amamos uns aos outros de forma límpida, verdadeira, altruista, humana e divina?

Jesus, na sua sabedoria plena, entendendo que somente no amor somos felizes e nos realizamos, deixou-nos um mandamento novo, superior a toda e qualquer outra Lei: “amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uma aos outros” (Jo 13,34). Para Jesus, é na prática exigente do amor que a comunidade cristã se distingue de outros agrupamentos humanos, pois, no amor, está a nossa identidade: “se vocês tiverem amor uns aos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13,35).

O apóstolo Paulo, por sua vez, escreveu um capítulo inteiro sobre o amor (1Cor 13), concluindo-o que “agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor (13,13). Assim sendo, para o apóstolo, a prática do amor deve ser algo constante na nossa vida; é como que uma “dívida impagável”: “não fiquem devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo (Rm 13,8).

Para concluir, possso afirmar com tranquilidade que não devemos ter, jamais, medo de amar. Porque “o amor – cáritas – é uma força extraordinária que impele as pessoas a se comprometerem com coragem e generosidade no campo da justiça e da paz. É uma força que tem sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta” (BENTO XVI. Carta Encíclica Cáritas in veritate, Introdução). De fato, "no amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo ainda não está realizado no amor" (1Jo 4,18-19). Desta feita, só posso dizer nas palavras do apóstolo: “Continuem firmes no Senhor, ó amados (Fl 4,1) e “que o amor de vocês cresça cada vez mais” (Fl 1,9). Leia a seguir, a íntegra da carta enviada pelos participantes do curso à todas as comunidades da Paróquia. É para você também!




CARTA ÀS IRMÃS E AOS IRMÃOS DAS COMUNIDADES DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO CARMO

“Vocês estão no nosso coração” (Fl 1,7a)


1. Nós, membros da Escola Bíblica Paroquial, agentes de pastoral, lideranças, catequistas e ministros extraordinários da comunhão eucarística, saudamos com amor e afeto as irmãs e irmãos de todas as comunidades desta Paróquia, que sonham conosco com um mundo novo, num jeito novo de ser igreja e de atuar juntos, amorosa e respeitosamente na sociedade.

2. Fomos convocados de 28 a 30 de setembro, pelo Espírito Santo e pela Igreja no Brasil para estudarmos a Carta aos Filipenses, a “Carta do coração”, no encerramento do “Mês da Bíblia”. Com muito carinho todos foram bem acolhidos e gostosa foi a nossa convivência.

3. Encheu-nos de entusiasmo e emoção ver chegando, apesar das distâncias e ocupações, irmãos e irmãs de todas as comunidades urbanas e muitos irmãos e irmãs de algumas comunidades rurais e indígenas. Somamos um total de cerca de 80 pessoas, assiduamente presentes nos três dias de estudo. Desde já, carinhosamente agradecemos as equipes de recepção e acolhimento, de limpeza e organização do local, de animação dos cantos, de preparação do cafezinho todas às noites e daquela bela festa de comemoração de todos os aniversariantes do mês.

4. “Sejam bem-vindos/as, sintam-se à vontade. Damos por aberto estes três dias de estudo da Carta aos Filipenses. E sejam perseverantes!”. Assim, fomos recebidos, pelo assessor do curso, Pe. Paulo Nunes, pós-graduado em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP, professor de Sagrada Escritura e colaborador aqui na Paróquia. Nesse ambiente amável, parecia ressoar ali as palavras do apóstolo Paulo: “eu fico contente e me alegro com todos vocês” (Fl 2,17).

5. Os assuntos dos três dias de estudo foram assim divididos: a) introdução geral as Cartas Paulinas (objetivos, como lê-las, atitudes que devemos ter ao ler uma Carta de Paulo); b) visão ampla da Carta aos Filipenses (os remetentes, os destinatários, a atuação das mulheres, o motivo da carta, os assuntos, a estrutura da Carta); c) exposição de quatro temas específicos a partir da Carta: “comunidade acolhedora e afetuosa”, “comunidade despojada e comprometida”, “comunidade discípula missionária”, “comunidade apaixonada por Cristo e seu Projeto”. No final, discutimos em pequenos grupos cinco questões básicas: a) Fomos criados para o amor. Em meio a uma sociedade individualista, como assumir a “ternura de Cristo” vivida por Paulo?; b) Nós também “confessamos que Jesus Cristo é o Senhor”. Mas como mostramos no dia a dia esse Jesus aos nossos irmãos e irmãs de caminhada?; c) Será que nós, “discípulos e discípulas missionários” somos motivo de alegria, força e gratidão ou de preocupação para os nossos pastores (padres e bispo)?; d) A exemplo do apóstolo Paulo, nós também deixamos tudo por causa desta meta? O que deixamos? Que outros interesses ainda nos prende?; e) O que ainda falta para sermos comunidades apaixonadas (“conquistadas”) por Cristo?

6. Na noite do encerramento do Curso e de comemoração de todos os aniversariantes do mês de setembro, tivemos a presença do Pe. Altair Rossati, o pároco, que avaliou muito positivamente o nosso estudo, destacando especialmente a seriedade e o empenho dos participantes, o clima sereno e fraterno e o envolvimento de várias comunidades da Paróquia na organização e realização do evento. E contou com a atuação de todos na concretização da Segunda Grande Semana Missionária, que se realizará entre os dias 22 a 29 de novembro.

7. Por fim, além de um abraço fraterno e cheio de revigorada esperança, decidimos também transmitir algumas palavras de encorajamento, saídas do nosso coração para o coração de todos os irmãos e irmãs das comunidades da Paróquia:

Desejamos que proclamem Cristo por amor e não fracassem diante dos obstáculos. Estejam firmes no Espírito Santo, lutando juntos numa só alma pela fé ao Evangelho. Certamente surgirão críticas, alguns dirão que esses trabalhos são perda de tempo. Mas sejam confiantes, pois isso nada mais é do que um sinal de amadurecimento e de salvação. Afinal, foi Deus quem deu a vocês o dom de acreditar em Cristo e em seu projeto e de se empenharem com ardor na mesma luta.

Inspirem-se sempre nas palavras do apóstolo Paulo: “se há um conforto em Cristo, uma consolação no amor, se existe uma comunhão de espírito, se existe ternura e compaixão, completem a minha alegria: tenham uma só aspiração, um só amor, uma só alma e um só pensamento. Não façam nada por competição e por desejo de receber elogios, mais por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo. Que cada um procure, não o próprio interesse, mas o interesse dos outros. Tenham em vocês os mesmos sentimentos que houve em Cristo Jesus” (Fl 2,1-5).

Sejam perseverantes! A exemplo de Jesus, esvaziem-se a si mesmos assumindo a condição de servos, através dos trabalhos pastorais na comunidade, de modo que “ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl 2,10-11). Continuem firmes “na luta pelo Evangelho”. Só assim os “seus nomes estarão no livro da vida” (Fl 3,3). Deus os bençoe e a Virgem Maria os proteja! Assim seja!

 
©2007 '' Por Elke di Barros