domingo, 25 de outubro de 2009

DIA NACIONAL DA JUVENTUDE - 2009

Pe. Paulo Nunes de Araujo



Hoje é o “Dia Nacional da Juventude” (DNJ). Historicamente, o DNJ tem sua origem em 1985, quando a Organização das Nações Unidas (ONU), decretou aquele ano como o “Ano Internacional da Juventude”. Além deste tema, os jovens de todo o mundo foram convidados a participar mais efetivamente da sociedade a partir do lema: “Construindo uma Nova Sociedade”.

Como gesto concreto de acolhimento à proposta da ONU, a Pastoral da Juventude do Brasil (PJ) prontamente assumiu o compromisso de comemorar e celebrar o “Dia Nacional da Juventude”. Assim sendo, em 1986, foi realizado o primeiro DNJ, a partir do tema: “Juventude e Terra”, e do lema: “Juventude construindo a Terra Prometida”.

Aqui no Brasil, o DNJ é comemorado e celebrado anualmente, sempre no último domingo de outubro, o “mês missionário”. Esse “Dia” é marcado pela mobilização de milhares de jovens, em todo o país, para celebrar, como igreja, a vida e a luta da juventude. De fato, o DNJ quer ser fundamentalmente um tempo de revisão da vida como jovens, de profunda visão da realidade social eclesial, buscando sempre o que fazer e como fazer para melhorar a situação vigente, principalmente dos adolescentes e jovens, “pois estão entre os mais expostos aos efeitos da pobreza, como: drogas, prazer, álcool, violência, propostas religiosas e pseudo-religiosas, educação de baixa qualidade, etc.” (Doc. da CNBB, 87, nn. 103-149). Consequentemente, o DNJ quer sinalizar um tempo de mudança, de transformação radical, de modo que a vida melhor se realize.

Por esta razão não basta “pintar a cara”, pois como diz o aforismo popular: “quem vê a cara não vê o coração”, e nem tampouco usar uma “camiseta bonita” com uma frase de efeito, só para chamar a atenção, como se fosse um desfile de modas. Isto porque não há indignação sem motivo e nem inconformismo sem causa. Assim, é preciso que todos os jovens assumam um compromisso concreto, ou seja, "mostrem a cara" expressando o seu pensamento inteligente, e se “vistam” da causa de Jesus, o seu Reino. Porque existem muitas iniciativas na sociedade que são valiosas e que contam com o apoio dos jovens, como: campanha em favor da paz, da moradia, da terra, da dignidade do povo indígena, da mulher, Campanhas da Fraternidade, Fóruns das Pastorais Sociais, Semana Social, Grito dos Excluídos, e tantas outras.

Por isso, devemos ter claro que o DNJ não deve ser um dia de luta só dos jovens para os jovens, mas dos jovens em vista da sociedade inteira, pois esta envolve a todos, os “pobres, crianças, jovens, adultos e idosos, homens e mulheres” (Documento de Aparecida, n. 422). Ademais, ensina o Magistério eclesial que “a juventude não é só um grupo de pessoas de idade cronológica. É também uma atitude frente à vida” (Documento de Puebla, n. 1167. Os grifos são meus).

Neste aspecto, segundo a Viacom Brand Solutions, unidade de publicidade da MTV Networks, que realizou um estudo com uma amostra de 25 mil pessoas de 19 países, com idade entre 16 a 46 anos, a juventude corresponde às idades compreendidas entre 16 a 34 anos. Concluiu ainda esta pesquisa que “a imagem juvenil já não é patrimônio exclusivo dos jovens” e que “o significado e a definição tradicional de juventude mudou” (Cf. SESSÃO EXPERIMENTAL. Disponível em: <clique aqui>. Acessado em: 20 out. 2009).

Com esses dados, podemos dizer que existem, tanto na Igreja quanto na Sociedade, jovens com pouca idade cronológica, mas tão envelhecidos nas idéias e nos ideais, marcados por um conservadorismo anacrônico e inerte. Por outro lado, há pessoas com idade cronológica bem mais avançada, porém, alegres, entusiasmadas (etimologicamente: cheias de Deus), com uma visão positiva das coisas, do mundo e das pessoas, e bem mais comprometidas.

Por isso, continuam valendo aqueles “traços muito característicos” que marcam a juventude, apontados pelo Magistério eclesial trinta anos atrás: “um inconformismo que a tudo questiona; um espírito de aventura que a leva a compromissos e situações radicais; uma capacidade criadora com respostas novas para o mundo em transformação, que aspira a sempre melhorar em sinal de esperança. Sua aspiração pessoal mais espontânea e forte é a liberdade, emancipada de qualquer tutela exterior. É sinal de alegria e felicidade. Muito sensível aos problemas sociais. Exige autenticidade e simplicidade, rejeitando com rebeldia uma sociedade invadida por hipocrisias e contravalores” (DP, n. 1168). Por fim, “este dinamismo a torna capaz de renovar ‘as culturas’ que, doutra forma, envelheceriam” (Ibidem, n. 1169).

Recentemente, observando a realidade dos jovens e adolescentes, assim se expressou animadoramente o Magistério eclesial: “os jovens e adolescentes constituem a grande maioria da população da América latina e do Caribe. Representam um enorme potencial para o presente e futuro da Igreja e de nossos povos como discípulos e missionários do Senhor Jesus. Os jovens são sensíveis para descobrir sua vocação a ser amigos e discípulos de Cristo. São chamados a ser “sentinelas da manhã”, comprometendo-se na renovação do mundo à luz do Plano de Deus. Não temem o sacrifício nem a entrega da própria vida, mas sim uma vida sem sentido. Por sua generosidade, são chamados a servir a seus irmãos, especialmente aos mais necessitados, com todo seu tempo e sua vida. Tem capacidade para se opor às falsas ilusões de felicidade e aos paraísos enganosos das drogas, do prazer, do álcool e de todas as formas de violência. Em sua procura pelo sentido da vida, são capazes e sensíveis para descobrir o chamado particular que o Senhor Jesus lhes faz. Como discípulos missionários, as novas gerações são chamadas a transmitir a seus irmãos jovens, sem distinção alguma, a corrente de vida que procede de Cristo e a compartilhá-la em comunidade, construindo a Igreja e a sociedade” (DA, n. 443).

Olhando com sensibilidade, inteligência e indignação a realidade atual que nos envolve, tão marcada por medos e inseguranças, porque tudo se torna ameaça à vida, para este ano de 2009, o DNJ traz como tema: “Contra o extermínio da juventude, na luta pela vida” e como lema: “Juventude em marcha contra a violência”.

Trata-se de uma proposta pertinente, porque a violência hoje virou notícia comum em todos os meios de comunicação. Ao mesmo tempo em que se atenta a vida do planeta por pretextos escusos, se mata a vida do ser humano por razões banais. Disseminou-se uma terrível “mentalidade delinqüente”, infelizmente muito presente também no meio dos jovens do nosso país. É o que aconteceu exatamente com o Pe. Gisley Azevedo Gomes, CSS, assessor nacional do Setor Juventude da CNBB, que foi assassinado por jovens, no dia 15/06 deste ano, “vítima da violência que ansiava combater” (nota das Pastorais da Juventude do Brasil). Por isso, carregados de justa indignação, disseram ainda os jovens que “a tragédia que se abateu entre nós, das Pastorais da Juventude do Brasil, nos desafia a denunciar a força com que a violência tem ceifado a vida de milhares de jovens em todo o país” (Ibidem).

Em face disso, é muito triste e lamentável ver jovens trucidando jovens, ver jovens escravizados de tudo aquilo que brutalmente os serviliza. Muitos jovens se vêem levados pelo falso discurso de uma sociedade que propõe a felicidade a partir de coisas que mais criam dependências, como a moda, o consumismo e as drogas. E, contraditoriamente, o que o jovem mais aspira neste mundo é vida e liberdade. Porque “a liberdade humana é, como a vida, a coisa mais preciosa e valiosa do mundo” (Frei Bartolomeu de Las Casas). São dons de Deus.

Em vista do que está exposto acima, o Evangelho da Missa deste domingo, que apresenta a cena do “cego Bartimeu” (Mc 10,46-52) bem serve para iluminar este meu artigo, pois seu gesto reflete a postura do verdadeiro seguidor de Jesus. De fato, após tê-lo descoberto (ouvido e visto) Bartimeu seguia Jesus pelo caminho” (Mc 10,52b).

Num primeiro momento, Marcos apresenta Bartimeu como símbolo da extrema marginalidade: “cego”, “mendigo” (“sentado à beira do caminho”), humilhado (pois tinha que gritar a sua miserabilidade), e sem liberdade de expressão (“muitos o repreendiam que se calasse”).

A seguir, Marcos mostra a reversão dos fatos. Ao “ouvir dizer” que “Jesus estava passando” por ali, Bartimeu grita a Jesus insistentemente e cheio de confiança (Cf. Mc 10,47.48), porque sabe que só ele pode mudar a sua vida, só nele se encontra a verdadeira compaixão (no grego: eléeson). Assim, no encontro com Jesus e na observância à ordem dele: "Vai" (no grego: hipágue), Bartimeu “recuperou a vista” (Mc 10,52b). E foi uma reabilitação plena: “A tua fé te salvou (no grego: hé pistis su sessoken se). O texto conclui dizendo que “naquele mesmo instante (no grego: euqueos), além de ter recuperado a vista, Brtimeu “seguia Jesus pelo caminho”. A partir daí, Bartimeu tornou-se modelo de toda pessoa que precisa abrir os olhos, tomar consciência, comprometer-se e seguir Jesus prontamente.

O interessante é que nesse processo de libertação total, Jesus não quis agir sozinho, mas responsabilizou a todos: “Chamai-o” (no grego: fonequenai) E “eles chamaram o cego” (no grego: kai fonusin ton tiflon: Mc 10,49a). Com isso, tudo muda. De fato, é nessa parceria entre Jesus e nós e entre nós e Jesus, que o mundo novo começa a aparecer.

Porém, penso que esta transformação deve partir de dentro dos próprios jovens. Porque hoje, tanto na Sociedade como na Igreja, percebo que ainda há muitos jovens “cegos” (alienados), “mendigos” (carentes de consciência e da força do Evangelho), “sentados à beira do caminho” (à margem da luta, atraídos por outros interesses) e “calados” (resignados, submetidos).

Tendo visto a realidade, e agora à luz do episódio do “cego Bartimeu”, lanço aqui alguns desafios bem incisivos para todos os jovens deste país: a) Lutar pela conscientização do povo, principalmente da grande maioria dos jovens (“recuperar a vista”); b) Comprometer-se com a construção de uma sociedade mais justa, humana e livre (“o cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus”); c) Empenhar-se pela edificação de uma sociedade onde todos tenham vez e voz (o cego “gritou mais ainda”). Lembremo-nos que o verdadeiro discípulo de Jesus não pode silenciar-se, como nos mostra o evangelista Lucas: “alguns fariseus disseram a Jesus: ‘Mestre, manda que seus discípulos se calem’. Jesus respondeu: ‘Eu digo a vocês: se eles se calarem, as pedras gritarão’” (Lc 19,40). Nesta passagem, “as pedras” simbolizam as pequenas comunidades, discípulas missionárias e proféticas (Cf. Mt 16,18).

Seguindo-se a esses desafios, o Magistério eclesial sugere também algumas linhas de ação no que se refere a juventude (DA, n. 446):

a) Renovar, em estreita união com a família, de maneira eficaz e realista, a opção preferencial pelos jovens, em continuidade com as Conferências Gerais anteriores, dando novo impulso à Pastoral da Juventude nas comunidades eclesiais (dioceses, paróquias, movimentos, etc);

b) Estimular os Movimentos eclesiais que tem uma pedagogia orientada à evangelização dos jovens e convidá-los a colocar mais generosamente suas riquezas carismáticas, educativas e missionárias a serviço das Igrejas locais;

c) Propor aos jovens o encontro com Jesus Cristo vivo e seu seguimento na Igreja, à luz do Plano de Deus, que garanta a realização plena de sua dignidade de ser humano, que estimule-os a formar sua personalidade e que proponha a eles uma opção vocacional específica: o sacerdócio, a vida consagrada ou o matrimônio. Durante o processo de acompanhamento vocacional, irá aos poucos introduzindo gradualmente os jovens na oração pessoal e na lectio divina, na freqüência aos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, da direção espiritual e do apostolado;

d) Privilegiar na Pastoral da Juventude processos de educação e amadurecimento na fé como resposta de sentido e orientação da vida e garantia de compromisso missionário. De maneira especial, buscar-se-á implementar uma catequese atrativa para os jovens que os introduza no conhecimento do mistério de Cristo, buscando mostrar a eles a beleza da Eucaristia dominical que os leve a descobrir nela Cristo vivo e o mistério fascinante da Igreja;

e) A Pastoral da Juventude ajudará os jovens a se formar de maneira gradual, para a ação social e política e a mudança de estruturas, conforme a Doutrina Social da Igreja, fazendo própria a opção preferencial e evangélica pelos pobres e necessitados;

f) É imperativa a capacitação dos jovens para que tenham oportunidades no mundo do trabalho e evitar que caiam na droga e na violência;

g) Nas metodologias pastorais, procurar uma maior sintonia entre o mundo adulto e o mundo dos jovens;

h) Assegurar a participação dos jovens em peregrinações, nas Jornadas nacionais e mundiais da Juventude, com a devida preparação espiritual e missionária e com a companhia de seus pastores.

Assim, considerando aqueles desafios brotados do Evangelho e estas linhas de ação, a nova sociedade, sinal do Reino que Deus quer para todos, só se realizará com satisfação quando todos nós, preferencialmente os jovens, acatarmos decisivamente o convite do Evangelho: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” (Mc 10,49b).

 
©2007 '' Por Elke di Barros