quarta-feira, 21 de maio de 2008

"A INVEJA LEVA O TOLO À MORTE" (JÓ 5,2)

Pe. Paulo Nunes de Araujo
Com esta fábula abaixo, intitulada “A cobra e o vaga-lume”, cujo autor não se sabe quem é, mas certamente conhecida por muitos, pretendo levar a refletir sobre a inveja, o mais terrível dos “sete vícios capitais” e uma das doze piores “impurezas” elencadas por Jesus, e que geralmente habitam o nosso coração (Cf. Mc 7,21-23). Proponho a sua leitura e reflexão porque a inveja é algo funesto que inevitavelmente pode acontecer conosco, levando a sério prejuízo as nossas relações sociais e comunitárias. Eis a fábula, a qual encontra-se disponível em: <clique aqui>. Acessado em: 15 maio 2008.
“Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vaga-lume. Ele fugia com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia. Um dia, já sem forças, o vaga-lume parou e disse à cobra:
- Posso te fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente, mas já que vou te comer, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não
- Fiz-te alguma coisa?
- Não
- Então porque é que queres me comer?
- Porque mão suporto ver-te brilhar!!!
Uma outra versão dessa fábula, acrescenta que "quando a cobra foi atacar o vaga-lume, ele apagou a sua luz por alguns instantes e conseguiu se esconder da cobra má e invejosa. Assim, o vaga-lume conseguiu sobreviver, mas teve que apagar o seu brilho por alguns instantes". Esta foi uma inteligente estratéia para defender a sua vida. Às vezes precisamos fazer o mesmo, não é?

Como aplicação prática à nossa vida, esta alegoria claramente nos mostra que a inveja é um dos mais apavorantes malefícios da humanidade. Porque inveja é a gana de possuir algo que é de outra pessoa, chegando a entrar em depressão por não conseguir. De fato, segundo Joaquim Lopes Alho Filho, psiquiatra e doutor em saúde mental, a inveja é “o único dos sete pecados que pressupõe agressão. A inveja é a raiz de toda a violência. O indivíduo pensa: ‘ele é e tem o que não eu não sou e não tenho’. Isso é uma fonte de frustração e o sujeito quer destruir o outro por não ter e não ser” (FREITAS, Estanislau de. Os sete pecados, Folha de São Paulo, São Paulo, 21 de abril de 2005. Folhaequilíbrio, p. 7).
Muitos dizem asseveradamente que a inveja é a arma dos incompetentes. Normalmente, uma pessoa que não tem a capacidade de lutar por suas coisas acaba fixada em desejar o que é alheio. Portanto quando alguém se perceber tomado por este sentimento, deve procurar retirá-lo de sua mente o mais rápido possível e até procurar ajuda técnica, profissional, nos casos mais urgentes. Cada pessoa tem capacidade para conseguir os seus sonhos, seus intentos. Então, não há nessecidade da inveja!
Voltando à fábula acima, realmente existem pessoas más (as “cobras” , os "animais peçonhentos") em todo e qualquer ambiente humano e, infelizmente, também na comunidade cristã, tentando cotidianamente, com muita sutileza e requinte, ofuscar ou apagar a nitidez e o brilho das pessoas boas, generosas (os “vaga-lumes”). Até porque não existe inveja boa.
No entanto, por mais que existam “cobras” perseguindo “vaga-lumes”, Deus nunca deixará que apaguem o esplendor das pessoas boas e fiéis a ele e aos seus retos princípios, pois elas trazem em si o bem, para si mesmas e para os outros. Afinal, é o proprio Jesus quem diz: "que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem" (Mt 5,16).

Em face disso, no campo psicológico e do desenvolvimento da personalidade, muitos estudiosos da área oferecem algumas sugestões para se livrar da tentação de cair no pecado da inveja, como: deixar de olhar para os outros e se valorizar; admirar, não invejar; procurar se conhecer.

E no âmbito bíblico, eu proponho este profundo ensinamento do profeta: “Se você tirar do seu meio a dominação, o gesto que ameaça e a linguagem difamatória; se você der o seu pão ao faminto e matar a fome do oprimido, a sua luz brilhará nas trevas e a escuridão será para você como a claridade do meio dia” (Is 58,9b-10).

Mas é Jesus quem dá a definitiva orientação: “Quem pratica o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas ações não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas como Deus quer” (Jo 3,20-21). E, por fim, ele nos lança um convite: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).

Então, fiquemos atentos e de olhos bem abertos! Procuremos saber quem é quem ao nosso redor e selecionemos bem as pessoas em quem confiar! E não tenhamos o medo e o contrangimento de até apontar o nome de tais pessoas. Sem dúvida, este é um bom serviço que se presta à comunidade. Porque é mais do que comprovado, inclusive atestado pelo próprio Jesus, que “os filhos deste mundo são mais espertos com sua gente do que os filhos da luz (Lc 16,8). Por isso, sem fazer o jogo dos perversos, incessantemente “rezemos por aqueles que nos perseguem!” (Mt 5,44).

Para concluir, trago aqui o trecho de duas cartas que recentemente recebi de pessoas boas que, se dúvida, ajudam-me a manter o meu fulgor. Uma, dos grandes amigos de Mairiporã, SP, onde trabalhei: “Pe. Paulo, seja onde for, perto ou longe, você estará sempre no nosso coração. Sabemos que muitos tentaram te prejudicar, mas ninguém é capaz de apagar o seu brilho; onde você estiver você sempre irá brilhar, pois você tem sua luz própria e isso ninguém apagará, pois você é grande e vitorioso. Deus te abençoe e te proteja sempre”. E outra, também de fantásticos e verdadeiros amigos e paroquianos, de São Lourenço do Sul, RS: “Pe. Paulo, a luz que vem de Cristo invada o seu coração. Confie nele! Veja cada dificuldade como mais uma chance de crescer. A paz, a justiça e a fraternidade são valores, os quais primamos em compartilhar com você, e a leve em sua nova caminhada. A amizade, cuja fonte é Deus, é inesgotável, não importando a distância, quando sincera e vem do coração”.
A todas essas pessoas maravilhosas que trilharam o meu caminho, só me resta dizer, com muito carinho, um “muito obrigado” , que Deus os abençoe e a Virgem Maria os proteja sempre.

 
©2007 '' Por Elke di Barros